22 de novembro de 2024
Política e religião • atualizado em 19/08/2024 às 15:10

71% dos eleitores goianienses rejeitam influência de líderes religiosos na política, aponta pesquisa Serpes

Com base em levantamento, cientista político afirma que o foco do eleitor é voltado às demandas cotidianas
Foto: Divulgação
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O período de campanha para as eleições municipais teve início na última sexta-feira (16). Na mesma data, o jornal O Popular divulgou o resultado da pesquisa Serpes, que aponta que 71% dos goianienses rejeitam a hipótese da relação da política com a religião na definição da disputa para a Prefeitura.

Questionados se votariam em candidatos sugeridos por sua igreja, 87,7% dos entrevistados afirmaram escolher seus votos por conta própria. Em entrevista ao Diário de Goiás, o professor, consultor de marketing, publicitário e cientista político, Marcos Marinho, afirmou acreditar que a relação entre política e religião pode ter mais peso em um pleito mais amplo, como o nacional.

“Goiânia está no patamar de uma cidade grande, com diversidade de perfis”, observou, com a afirmativa de que o foco do eleitor goianiense está voltado aos anseios da população e, tais demandas, não podem ser definidas com base em religião. “A eleição municipal é uma eleição de buraco nas ruas, de médicos no Cais, de creches. E isso independe de religião”, avaliou.

Segundo Marinho, o pleito municipal é algo pragmático, onde o que interessa, por exemplo, é se o cidadão vai voltar para casa com segurança, se vai ter lixo na rua, se não vai faltar água, dentre outras pautas cotidianas. “A eleição municipal é onde o cidadão está”, frisa, com a ressalva de existir uma relação de “proximidade” entre o eleitor e o gestor, bem como os parlamentares. “É diferente de fazer uma campanha para presidente, em que eu sei que nunca vou ver o cara na minha vida”, enfatiza.

Estado laico x Bancada evangélica

Apesar de ser considerado um estado laico, a pauta religiosa, sobretudo da bancada evangélica, tornou-se predominante nos últimos anos. É importante salientar, no entanto, a existência de diversos outros grandes grupos.

“Além dos evangélicos, que virou o grupo cobiçado pelos políticos do Brasil, tem a maioria católica, tem o espiritismo, a umbanda, dentre outras religiões. Então, quando se pensa em fazer política pautada em elementos religiosos que busca só um perfil, na minha leitura, é um erro. Porque não existe um grupo preponderante que vai dar eleição para um cara só por conta da Bíblia”, pontua Marinho, com a afirmativa de que, tal ponderação, dependendo da forma, deixa claro que outras religiões não terão espaço em um determinado mandato, o que tende a afastar o eleitor de tal candidato. “Tentar focar em um grupo religioso, é abrir mão de falar com outros grupos”, frisa.

O cientista político aponta a bancada evangélica como um grande grupo que visa à conquista de grande parte dos fieis. A administração, na prática, porém, não segue com tal foco. “Apesar de serem barulhentos, não são suficientes para mudar o processo legal”, ponderou o cientista política, com a afirma de que “a bancada evangélica, que faz tanto barulho, na hora de fazer qualquer coisa, vai seguir a decisão do líder do partido”.

Ele observa, ainda, o fato de as pautas morais ocuparem, atualmente, a maior parte dos embates políticos como uma forma de conquistar a liderança. “Eu vejo muito mais como um grupo que tenta se manter no poder, por conta dessa característica, do que um grupo que exerce o poder por conta dessa característica”, frisa.

O diálogo pode divergir, também, segundo o especialista, a partir do cenário social do eleitor. “Conquistar o público evangélico e religioso e acha que, simplesmente colocando na campanha elementos e discursos direcionados a esse público e achar que vai conquistar todo mundo, é complicado. Não dá para colocar todos os evangélicos no mesmo balaio”, disse.


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