A Central de Atendimento à Mulher teve recorde de atendimentos em 2016 e altas significativas nas denúncias de estupro, violência doméstica e cárcere privado.
Popularmente conhecido por ‘Ligue 180’, o serviço realizou 1.133.345 atendimentos no ano passado, cerca de 3.096 por dia e 51% a mais que em 2015.
Segundo balanço divulgado na última terça-feira (7) pela Secretaria de Política para Mulheres, do Ministério da Justiça e Cidadania, 12% do total (140.350 ligações) eram relatos de violência contra mulheres, excetuados pedidos de informação e denúncias de outros crimes.
Desses, mais da metade diz respeito a agressões físicas, enquanto 31,8% relatavam violência psicológica.
Os relatos de violência cresceram 83%, com aumento de 54% nos casos de cárcere privado (16,7 por dia) e alta de 121% nas denúncias de estupros (16,51 por dia).
Também cresceram 93,87% os relatos de violência doméstica e familiar frente a 2015, para 112.524 denúncias.
Mulheres negras são a maioria das vítimas: 60,53%. A incidência é ainda mais grave quando confrontada à proporção de 43% de pessoas pardas na população do país, segundo o Censo 2010.
Em 28,78% dos casos, foi detectado risco de que a violência relatada acarretasse na morte das vítimas.
‘Os dados demonstraram a importância fundamental da Lei do Feminicídio (13.104/2015), visto que em quase a totalidade dos relatos de violência (97,57%) é percebido risco para a vítima’, descreve o relatório da Secretaria.
O resultado reforça a pesquisa ‘Visível e Invisível: a Vitimização de Mulheres no Brasil’, realizada pelo Datafolha a pedido do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, que revelou que 29% das mulheres no Brasil relatam ter sofrido violência física, verbal ou psicológica no ano anterior.
Também explicitam a extensão da violência às crianças. Entre os atendimentos no primeiro semestre de 2016, em 82,86% dos casos, filhos ou filhas presenciaram ou também sofreram violência física.
AGRESSÃO FREQUENTE E DO CÔNJUGE
Em mais de dois terços dos relatos, as agressões eram frequentes: diária em 36,79% dos casos e semanal em outros 30,43%.
Entre as denunciantes em 2016, 15,86% relataram violência recorrente há mais de cinco anos, 22,35% citaram casos repetidos entre um e cinco anos e 30,23% denunciaram agressões reiteradas por menos de um ano.
Em 65,91% dos casos, as violências foram cometidas por homens com quem as vítimas têm ou tiveram vínculo afetivo: atuais ou ex-companheiros, cônjuges, namorados, amantes.
Este índice diz respeito às relações heteroafetivas. Agressões em relações homoafetivas responderam por apenas 0,26% das denúncias.
Foram relatados ainda 317 casos de tráfico de pessoas, tanto dentro do Brasil quanto para o exterior, em sua maioria (58%) com finalidade de exploração sexual.
PELO PAÍS
O Distrito Federal foi a unidade da federação com maior taxa de relatos de violência pelo ‘Ligue 180’ em 2016, seguido do Piauí e do Mato Grosso do Sul.
Entre as capitais, Brasília teve a maior taxa de relatos de violência no serviço, com 11.845 ligações (885 a cada 100 mil mulheres), seguida por Rio de Janeiro (26.291 ligações, 782/100 mil) e Belo Horizonte (8.729 ligações, 691/100 mil).
São Paulo foi a capital com menos denúncias proporcionalmente (82 ligações, 1,38/100 mil).
Mulheres de regiões urbanas representam a imensa maioria das denunciantes (91,03%), mas a procura por vítimas em zonas rurais cresceu 127% frente a 2015.
24 HORAS, TODOS OS DIAS
O serviço ‘Ligue 180’ é gratuito e confidencial (preserva o anonimato), funciona 24 horas, todos os dias, inclusive em finais de semana e feriados, e pode ser acionado de qualquer lugar do Brasil.
Há também números específicos para brasileiras residentes no exterior no site da Secretaria.
Desde sua criação, em 2005, a Central de Atendimento à Mulher já registrou 5.965.485 atendimentos.
Leia mais sobre: Brasil