Além da microcefalia, o vírus da zika pode causar outros problemas em fetos em qualquer fase da gestação. Um estudo, conduzido com gestantes paulistas infectadas com o vírus da zika, documentou casos de infecção no último mês de gravidez que resultaram em danos cerebrais nos bebês. A possibilidade já havia sido levantada em pesquisas anteriores.
Das 1.200 grávidas com suspeita de zika acompanhadas no estudo, contatou-se que 57 estavam realmente infectadas com o vírus. Os casos de infecção encontrados, contudo, eram menos graves do que os documentados anteriormente na região nordeste do país e no Rio de Janeiro, segundo Maurício Nogueira, líder da pesquisa e professor da Famerp (Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto).
Não houve casos de microcefalia ou aborto, mas cerca de 30% das crianças que nasceram das grávidas infectadas apresentavam manifestações relacionadas à zika.
“Todas as crianças eram aparentemente normais no nascimento, mas, examinando com mais cuidado, percebemos os danos”, diz o autor da pesquisa.
Entre os problemas encontrados nos bebês estão surdez -de um dos ouvidos-, danos de retina e cistos cerebrais.
Os filhos de duas mulheres infectadas nas últimas semanas de gravidez apresentavam cistos e inflamações cerebrais.
“A próxima etapa é acompanhar essas crianças”, afirma Nogueira.
Um estudo, realizado com gestantes do Rio de Janeiro, já havia levantado a possibilidade do vírus da zika afetar a saúde do feto em qualquer etapa gestacional. A pesquisa em questão foi feita por pesquisadores da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) e da Universidade da Califórnia e divulgada em março deste ano na revista científica “The New England Journal of Medicine”.
O estudo liderado Nogueira foi financiado pela Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo).
Folhapress