Em crônica veiculada na noite deste domingo (28), o jornalista e apresentador Zeca Camargo não imaginou que poderia afetar tanto os fãs e cantores do segmento sertanejo ao dizer que Cristiano Araújo, que morreu após acidente de carro na última quarta-feira (24), era “ao mesmo tempo tão famoso e tão desconhecido”.
Para Zeca, o que “realmente surpreendeu” foi o fato de pessoas em todo o Brasil terem se comovido com a tragédia. “De uma hora para outra, na última quarta-feira, fãs e pessoas que não faziam ideia de quem era Cristiano Araújo partiram para o abraço coletivo, como se todos nós estivéssemos desejando uma catarse assim, um evento maior que nos unisse pela emoção”, disse o jornalista no programa J10, da Globo News.
A morte de Cristiano Araújo foi, por Zeca, comparada à de outros artistas, como Cazuza, Kurt Cobain, Mamonas Assassinas e Michel Jackson. O jornalista falou que os cantores citados, sim, eram “ídolos de grande alcance” e fez uma pergunta: “Como, então, fomos capazes de nos seduzir emocionalmente por uma figura relativamente desconhecida?”. A
Para responder o questionamento, Zeca Camargo resolve envolver um item na crônica. “A resposta está nos livros para colorir. Sim, eles mesmos. Os inesperados vilões do nosso cenário pop, acusados de, entre outras coisas, destacar a pobreza da atual alma cultural brasileira”.
“Muita gente estranhou a comoção nacional diante da morte trágica e repentina do cantor Cristiano Araújo. A surpresa maior, porém, é o fato de ele ser ao mesmo tempo tão famoso e tão desconhecido. O Brasil, infelizmente, tem um punhado de artistas que não passam pelo radar da grande mídia, nem são um consenso popular, mas que levam multidões para seus shows. Essa é uma consequência natural do talento que nós temos para a música, cruzado com o tamanho e a diversidade do nosso território. O que realmente surpreende nesse evento triste da semana foi a comoção nacional. De uma hora para outra, na última quarta-feira, fãs e pessoas que não faziam ideia de quem era Cristiano Araújo partiram para o abraço coletivo como se todos nós estivéssemos desejando uma catarse assim, um evento maior que nos unisse pela emoção. Nós sempre precisamos disso. Grandes funerais públicos vêm em ciclos expurgar nossas dores como se tivessem uma capacidade purificadora. É só lembrar de despedidas que, dependendo da sua geração, ainda estão em sua memória. Cazuza, Kurt Cobain, Ayrton Senna, Mamonas Assassinas, Princesa Diana, Michael Jackson. Mas Cristiano Araújo? Sim.
Lady Di, Mamonas, Senna, todos esses eram, guardadas as proporções, ídolos de grande alcance. Como, então, fomos capazes de nos seduzir emocionalmente por uma figura relativamente desconhecida? A resposta está nos livros para colorir. Sim, eles mesmos. Os inesperados vilões do nosso cenário pop, acusados de, entre outras coisas, destacar a pobreza da atual alma cultural brasileira. Não vale a pena discutir aqui o verdadeiro valor desses produtos, se é que ele existe, mas eles vêm bem a calhar para que a gente faça um paralelo com a ausência de fortes referências culturais que experimentamos no momento. A morte de Cristiano Araújo e a quase insana cobertura de sua despedida vestiu a carapuça de um contorno de linhas pretas em um papel branco, só esperando a tinta da emoção para ganhar tons e, quem sabe, um significado.
Como fobos coloristas preenchemos aqueles desenhos na ilusão de que estamos criando alguma coisa. Assim como, ao nos mostrarmos abalados com a ausência de Cristiano, acreditamos estar de fato comovidos com a perna de um grande ídolo. Todos sabemos que não é bem assim. O cantor, talvez, tenha morrido cedo demais para provar que tinha potencial para se tornar uma paixão nacional, como tantos casos recentes. Nossa canção popular é hoje dominada por revelações de uma música só, que se entregam a uma alucinada agenda de shows para gerar um bom dinheiro antes que a faísca desse sucesso singular apague sem deixar uma chama mais duradoura. E nesse cenário qualquer um pode, ainda que por um dia, ser uma estrela maior. Teria sido esse o caso de Cristiano Araújo? O mais inquietante de tudo isso é que o nosso pop não precisa ser assim. Nossa história musical e, mesmo, o passado recente prova que temos tudo para adorarmos ídolos de verdade e para chorar de verdade, seja pela presença deles no palco ou na saudade da perda. Mas agora, olhando em voltas, parece que não vemos nada disso. Não precisa ser assim. Contradizer o famoso refrão de Tina Turner: “we do need another hero” – “precisamos, sim, de um outro herói, de mais heróis”, mas está todo mundo ocupado pintando jardins secretos”.
Nesta segunda-feira (29), o jornalista pediu desculpas ao vivo durante o programa Vídeo Show, da Rede Globo. Na ocasião ele disse: “Eu tenho a maior admiração por qualquer artista, sobretudo por Cristiano Araújo, que não está mais com a gente, que começou de uma maneira tão simples, tão honesta, tão bonita e estourou e virou esse artista que o Brasil inteiro chorou nessa morte. Então, eu queria, talvez, me desculpar com quem, talvez, tenha entendido mal”.
Ou seja, um pedido de desculpas que não é um pedido, é um reforço da opinião anterior que gerou tamanha repercussão.
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