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Categorias: Economia
| Em 6 anos atrás

XP dobra valor mínimo para investidor aplicar em renda fixa

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A decisão da XP de elevar o valor mínimo para investimentos em renda fixa para R$ 10.000 sob a justificativa de ampliar a diversificação do pequeno investidor trouxe questionamentos do mercado sobre a liberdade de decisão de clientes e, ao mesmo tempo, reabriu o debate sobre a sustentabilidade financeira das corretoras.
A medida foi implementada neste mês em meio a ruídos. Inicialmente, a corretora havia elevado a R$ 30 mil o valor mínimo de investimento de clientes da XP e a R$ 20 mil para a Rico, outra marca da empresa. Depois, voltou atrás.
A medida afeta aplicações como CDBs de bancos pequenos, LCAs e LCIs, debêntures e COEs (produto que não é exatamente renda fixa).
Até a mudança, a empresa tinha valor mínimo de aplicação de R$ 5.000.
“É uma mudança suave e, pelo que a gente tem de estudos internos, traz pouco impacto”, afirma Gabriel Leal, executivo da área comercial e de relacionamento com clientes da XP, que é a maior corretora independente do país.
Ele diz que a mudança é para evitar que o pequeno investidor imobilize recursos em aplicações que não possam ser resgatadas a qualquer momento, que é a característica de títulos de renda fixa distribuídos por corretoras.
Com valor mínimo de aplicação maior, o pequeno investidor seria estimulado a migrar para fundos de renda fixa, que, de acordo com Leal, garantiria diversificação e possibilidade de resgate a qualquer momento, ajudando quem tem menos recursos.
“Se pensar na lógica do investidor pequeno, a gente está estimulando que ele vá para um fundo, que já é diversificado, tem um gestor e liquidez. É o melhor dos mundos”, diz o executivo da XP.
A remuneração de fundos de investimento é a taxa de administração –produtos mais complexos, como fundos multimercados, têm ainda taxa de performance, cobrada quando o investimento tem lucro superior ao esperado. 
Quando as corretoras vendem fundos de gestores não ligados a elas, ganham também o rebate, uma comissão proporcional ao volume de dinheiro captado para aplicação nos fundos.
No caso dos produtos de renda fixa, o ganho das corretoras vem da diferença de remuneração oferecida pelo banco emissor do investimento e o rendimento que aparece para o cliente da corretora.
Como exemplo: um CDB que aparece no site com remuneração de 100% do CDI poderia render ao investidor 102% –essa diferença é o ganho da corretora.
O problema é que, à medida que a taxa de juros cai, diminui o espaço das instituições financeiras para cobrar esse spread.
Outra receita que as corretoras tinham com renda fixa era a taxa de custódia, que foi abolida em 2016 pela XP e pela Rico, que foi comprada pela primeira no fim daquele ano. Outras corretoras também não cobram essa taxa. Depois disso, o mercado passou a zerar taxas para investimento em Tesouro Direto e de produtos de renda variável. Na prática, isso reduz a receita das empresas.
“As instituições precisam ganhar dinheiro de alguma forma, e o consumidor precisa saber como elas ganham dinheiro. A maioria das corretoras diz que aplicação abaixo de R$ 30 mil dá prejuízo, por todos os custos operacionais”, diz Bernardo Pascowitch, fundador da plataforma de comparação de investimentos Yubb.
Nas principais corretoras do mercado, os investimentos mínimos são de R$ 1.000, ainda que na maioria dos casos as opções partam de R$ 5.000. É o caso do BTG Pactual Digital.
“A gente vai seguir com renda fixa a partir de R$ 1.000 e tem como política respeitar o emissor [banco]. Eu não coloco filtro além do emissor. Alguns não querem emitir abaixo de R$ 5.000 ou R$ 10.000.
Dependendo do prazo ou da taxa, ele exige valor mínimo mais alto”, diz Marcelo Flora, executivo do BTG. 
Para ele, quando o valor mínimo de investimento sobe, o mercado dá um passo atrás, para a época em que investimentos mais rentáveis estavam disponíveis apenas para clientes endinheirados. 
A grande inovação trazida pelas corretoras independentes (não ligada a bancos) foi justamente ampliar o acesso a outros investimentos que iam além de poupança, CDBs pouco rentáveis e fundos de investimento com taxas de administração caras.

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Altair Tavares

Editor e administrador do Diário de Goiás. Repórter e comentarista de política e vários outros assuntos. Pós-graduado em Administração Estratégica de Marketing e em Cinema. Professor da área de comunicação. Para contato: altairtavares@diariodegoias.com.br .