Partidos políticos da Índia estão violando as regras de uso do WhatsApp na campanha para a eleição do país, que se realiza entre abril e maio, e devem parar com esses abusos, disse um executivo do aplicativo de mensagens à agência Reuters.
Segundo o WhatsApp, que não quis especificar as violações nem identificar os partidos envolvidos, há uma preocupação crescente de que integrantes das campanhas estejam violando as regras da plataforma ao usar sistemas automatizados para fazer disparos em massa de mensagens no WhatsApp ou para espalhar fake news.
O WhatsApp é uma das principais armas da campanha do BJP, partido do atual primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, e da principal legenda adversária, o Congresso, que se acusam mutuamente de espalhar notícias falsas para influenciar eleitores.
No Brasil, reportagens da Folha revelaram que empresários impulsionaram disparos durante a campanha do ano passado. As reportagens mostraram como agências de marketing usam softwares para automatizar os envios em massa, com chips de celulares registrados com CPFs de idosos, sem a permissão deles.
“Vimos muitos partidos tentando usar o WhatsApp para fins que não são os previstos pela empresa, e nossa mensagem firme para eles é: se usarem nosso serviço desse jeito, serão banidos da plataforma”, disse a repórteres Carl Woog, diretor de comunicações do WhatsApp.
A Índia realizará as maiores eleições do mundo, com quase 900 milhões de eleitores, para eleger 543 deputados da Câmara Baixa (Lok Sabha). É daí que sairá o novo primeiro-ministro indiano -atual premiê, Modi é o favorito, mas ele se enfraqueceu, enquanto o principal partido de oposição, o Congresso, da dinastia Nehru-Gandhi, voltou a ser competitivo.
Esta eleição também será a maior disputa online por eleitores jamais realizada. Na Índia, há 500 milhões de usuários de internet, 300 milhões no Facebook, cerca de 200 milhões no WhatsApp -são 127 milhões no Brasil.
Modi foi o pioneiro no uso de mídias sociais nas eleições, no pleito de 2014, quando obteve vitória acachapante contra o partido do Congresso.
Woog, diretor do WhatsApp, afirmou que se reuniu com representantes dos partidos para explicar a visão da empresa de que o aplicativo de mensagem não é uma “plataforma de difusão” em massa de mensagens.
“Estamos tentando ser muito claros, dizendo a eles que estão fazendo mau uso do WhatsApp. E estamos fazendo de tudo para identificar e evitar esse tipo de abuso o quanto antes”, disse.
A reportagem obteve um relatório publicado pelo WhatsApp na Índia na última quinta-feira (7), intitulado “Impedindo o abuso: como o WhatsApp combate envio em massa de mensagens e sistemas automatizados”.
No documento, a empresa afirma que eliminou 2 milhões de contas por mês no mundo, nos últimos três meses, por envios em massa ou uso de sistemas automatizados, para coibir o uso do aplicativo para espalhar desinformação.
No Brasil, o WhatsApp baniu as contas relacionadas às agências de marketing citadas em reportagem da Folha de S.Paulo que revelou disparos em massa, em outubro do ano passado, além de centenas de milhares de contas durante a campanha, segundo a empresa.
“Enviar mensagens em massa de um telefone celular é trabalhoso; por isso, as pessoas que querem fazer isso usam softwares ou equipamentos para automatizar o processo. Nossa tecnologia visa a identificar contas usando sistema automatizado”, afirma o relatório, publicado após o governo indiano propor uma legislação para obrigar empresas a fornecer dados sobre os autores das mensagens.
No Brasil, representantes da empresa não quiseram detalhar como combatem o mau uso da plataforma no país.
Na Índia, o WhatsApp reduziu em julho do ano passado o número de vezes que uma mensagem pode ser encaminhada na plataforma, de 20 para 5. No resto do mundo, incluindo o Brasil, esse limite foi adotado em janeiro deste ano.
O WhatsApp foi alvo de críticas na Índia após mensagens falsas sobre sequestros de crianças, difundidas pelo aplicativo, terem desencadeado linchamentos -no ano passado, mais de 20 pessoas foram mortas no país. (PATRÍCIA CAMPOS MELLO, SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)