O hacker Walter Delgatti Neto em depoimento À CPMI dos atos antidemocráticos. Foto: Bruno Spada/Câmara dos Deputados
Em depoimento na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI), que investiga os atos antidemocráticos de 8 de Janeiro, o hacker Walter Delgatti Neto afirmou, nesta quinta-feira (17), que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) prometeu um indulto a ele em caso de prisão por assumir um suposto grampo do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes.
Na versão de Delgatti, Bolsonaro disse a ele, na ocasião, que o grampo tinha sido feito por agentes de outro país. Segundo o hacker, o ex-presidente lhe assegurou aos risos: “Fique tranquilo, se por acaso alguém lhe prender eu mando prender o juiz.”
A intermediação foi feita pela deputada Carla Zambelli (PL-SP), durante um encontro em um posto de gasolina. Ela inseriu um chip num celular “aparentemente novo” e ligou para Jair Bolsonaro.
“Segundo ele [Bolsonaro], o grampo já havia sido realizado, com conversas comprometedoras do ministro, e eles queriam que eu assumisse a autoria desse grampo, lembrando que à época eu era o hacker da Lava Jato”, detalhou.
Delgatti declarou que concordou em assumir o grampo por ser um pedido feito pelo presidente da República.
Carla Zambelli pediu, ainda, para que o hacker invadisse sistemas da Justiça. “A deputada me disse que eu precisava invadir algum sistema de Justiça, ou o TSE em si, para mostrar a fragilidade do sistema”, relatou. Ele disse ter invadido os sistemas do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e de todos os tribunais do País.
À CPMI, Delgatti contou que ficou por quatro meses na intranet do CNJ, de todos os tribunais e inclusive do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Delgatti também relatou ter se reunido com Bolsonaro, Zambelli, o ajudante de ordens do presidente Mauro Cid e o general Marcelo Câmara. O assunto do encontro foi a fragilidade das urnas eletrônicas. De acordo com o hacker, o então presidente lhe garantiu um indulto caso ele fosse preso por ações relativas à urna eletrônica.
O hacker explicou que o objetivo era provocar alguma ação contra o ministro Alexandre de Moraes e forçar a realização de nova eleição com voto impresso, modalidade negada pelo Congresso Nacional em 2021.
Walter Delgatti Neto confirmou informações dadas em depoimento à Polícia Federal, nesta quarta-feira (16) de que recebeu cerca de R$ 40 mil da deputada Carla Zambelli pelos serviços prestados. O dinheiro teria sido entregue pelo motorista dela. Ele disse que a parlamentar lhe ofereceu um emprego, mas lhe enviou os valores até que o emprego fosse viabilizado.
* Com informações da Câmara dos Deputados
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