Popularmente conhecido como derrame, o Acidente Vascular Cerebral (AVC) pode acontecer em qualquer idade, e a data que se aproxima, 29 de outubro, sugere uma conscientização e maior entendimento sobre a doença. Embora não muito comum, a taxa de incidência anual de AVC em recém-nascidos e crianças varia de 0,6 a 7,9 a cada 100.000 crianças.
Foi o que aconteceu com a especialista em temas de inclusão e diversidade, Natalie Schonwald, que nasceu com um defeito congênito conhecido como tetralogia de Fallot, e precisou ser submetida a uma cirurgia cardíaca aos oito meses de vida. E logo após o procedimento, os médicos deram o diagnóstico de AVC com hemiplegia no lado direito.
Em um centro de recuperação de AVC infantil em Londres, Natalie fez fisioterapia durante dois meses e, segundo sua família, foi um processo muito importante tanto para ela quanto para eles, que aprenderam a lidar com o “novo” e a apoiá-la em sua reabilitação.
“Ao longo do meu tratamento, fiz fisioterapia, psicoterapia, terapia ocupacional e tive bons médicos, com certeza. Sem uma boa equipe, eu não teria conseguido alcançar objetivos satisfatórios e estar tão bem como estou hoje. Atualmente, ainda tenho acompanhamento constante de neurologista, cardiologista, neuropsicóloga, faço natação, fisioterapia e personal trainer para fortalecer e recuperar meus movimentos”, explica Natalie.
Na maioria das vezes, o AVC infantil acontece por influência de fatores congênitos ou hereditários. Durante o pré-natal, existe a possibilidade de diagnosticar malformações cardíacas nos exames de rotina. Ao nascer, o teste do pezinho é imprescindível para o rastreio de anemia falciforme, importante fator de risco para AVC nesse público.
No entanto, segundo a neurologista do Hospital Israelita Albert Einstein e fellowship em Neurologia Vascular pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Dra. Isabella Mesquita Venâncio, o maior desafio do AVC na infância é o seu reconhecimento, que costuma ser tardio, principalmente pelo desconhecimento da sua existência enquanto pequenos.
Além dos sintomas muitas vezes sutis, devido às habilidades motoras e de fala, por não estarem totalmente desenvolvidas, o que pode comprometer o diagnóstico e o AVC ser reconhecido apenas quando a criança já apresenta algumas sequelas e atrasos do desenvolvimento. “Por isso, a importância da divulgação dessa condição, que pode ser muito grave e causar repercussões por toda a vida”, afirma a Dra. Isabella.
O Dia Mundial do AVC serve como um alerta para os pais, que precisam ficar atentos a alguns sinais que seus filhos possam apresentar, como fraqueza súbita em um lado do corpo, boca torta, dificuldade na articulação das palavras, alterações visuais, dor de cabeça intensa e diferente do habitual, podendo estar associada a vômitos e confusão mental. Na presença de qualquer um desses sintomas, é indicado procurar ajuda médica imediatamente para que a avaliação seja feita por um profissional especializado.
A médica explica que algumas condições imitam os sintomas de um AVC, como enxaqueca, crise epiléptica, paralisia de Bell e meningite. No entanto, devido à gravidade potencial do quadro, é fundamental que a criança seja avaliada por um neurologista. E que, para pacientes com fatores de risco conhecidos, exames mais específicos podem ser necessários.
“Os que têm doenças cardíacas, que devem fazer avaliação cardiológica de forma rotineira, e as crianças com anemia falciforme, que precisam realizar o doppler transcraniano no mínimo uma vez ao ano, além de acompanhamento regular com hematologista e neurologista”, enfatiza a Dra. Isabella.
Quanto mais precoce a detecção do déficit neurológico e o diagnóstico de AVC por exames de imagem, como a tomografia ou a ressonância magnética, mais rapidamente podem ser instituídas as medidas terapêuticas, que visam preservar o tecido cerebral e reduzir as complicações motoras, cognitivas e de linguagem que possa a apresentar.
Fortalecimento muscular, treino de destreza e coordenação, melhora da fala e deglutição, desenvolvimento cognitivo, além de suporte psicológico para enfrentar o período de internação hospitalar e reabilitação são atividades que visam melhorar a funcionalidade da criança.
“O período de reabilitação é um momento longo e delicado, onde encontramos a criança em um estado DE maior de vulnerabilidade, sendo crucial o apoio da família, que deve estar presente nas atividades de reabilitação, dando apoio e aprendendo técnicas e exercícios que podem ser realizados também em casa, otimizando e aumentando as chances de uma recuperação completa”, esclarece a Dra. Isabella.
Por Elenice Costola