O consumo frequente de bebidas isotônicas, amplamente utilizado por adolescentes e atletas para repor eletrólitos após a prática de atividades físicas, pode trazer riscos à saúde bucal. Elas contêm sódio, potássio e carboidratos, como açúcares, que fornecem energia rápida. No entanto, seu alto teor de açúcares e sua acidez podem contribuir para o desenvolvimento de cáries e a erosão do esmalte dental.
Analúcia Marangoni, professora do curso de Odontologia da Faculdade Anhanguera, explica que a erosão ácida ou desgaste dentário erosivo, é um processo químico na qual acontece uma perda patológica da superfície dentária devido à exposição a ácidos não bacterianos, ou seja, ácidos que não envolvem o açúcar. “Essa condição pode resultar em perda de minerais da superfície do esmalte, tornando os dentes mais vulneráveis a danos.”
O desgaste dentário erosivo pode ocorrer em resposta à exposição frequente a ácidos intrínsecos, como o ácido gástrico produzido pelo próprio organismo, ou a ácidos extrínsecos, presentes em alimentos e bebidas, especialmente frutas, sucos, refrigerantes e isotônicos.
A especialista alerta que os isotônicos possuem um pH baixo, que varia entre 2 e 3, tornando-os altamente erosivos para o esmalte dental. “Uma pesquisa realizada pela Universidade Estadual da Paraíba (UEPB) em parceria com a Universidade Federal da Paraíba (UFPB) comparou a perda mineral após a exposição a esses produtos e constatou que as bebidas isotônicas são muito erosivas. Todos os líquidos e alimentos com pH abaixo de 5,5 podem ser nocivos para o esmalte dental”, destaca Analúcia.
O pH baixo nas bebidas, como os isotônicos, é usado para intensificar o sabor e evitar o desenvolvimento microbiológico. A saliva, que normalmente ajuda a neutralizar o processo de desmineralização, não consegue compensar os danos quando o consumo dessas bebidas é contínuo. “O consumo frequente de isotônicos pode causar opacidade do esmalte e maior sensibilidade dental a médio prazo”, alerta a professora.
Segundo Analúcia, a adolescência é uma fase de maior liberdade e menos controle alimentar, o que pode aumentar o risco de desenvolver erosão ácida, especialmente se não houver orientação adequada por parte dos pais e dos profissionais de saúde. “Contudo, o risco não se restringe apenas aos adolescentes; qualquer pessoa que consuma regularmente alimentos ou bebidas ácidas pode estar sujeita ao desgaste dentário erosivo”.
Os principais sinais de erosão ácida incluem sensibilidade dental e superfícies dentárias com aparência fissurada, similar a um “favo de mel”. “Pais e adolescentes também devem ficar atentos a transtornos alimentares como anorexia e bulimia, que estão associados a um maior risco de erosão ácida,” acrescenta a especialista.
Substituir os isotônicos por alternativas como água de coco, que tem pH neutro e repõe eletrólitos, é uma das recomendações da professora. “Além disso, intercalar o uso de isotônicos com água durante a hidratação pode ajudar a minimizar os efeitos erosivos.”
Por fim, Analúcia aponta que a visita regular ao cirurgião-dentista é fundamental para receber orientações personalizadas. “Importante consumir menos alimentos ácidos durante as principais refeições, evitar armazenar bebidas ácidas na boca, e evitar ingeri-las em pequenos goles. Essas práticas podem ajudar a reduzir o risco de erosão ácida e proteger a saúde bucal a longo prazo”, finaliza.
Por Bianca Lodi Rieg