Em 13 de setembro, São Paulo atingiu um recorde de poluição, com 20 das 25 estações de monitoramento da CETESB (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo) indicando qualidade do ar como “ruim” ou “muito ruim” na região metropolitana.
É a primeira vez que tantas áreas da capital apresentam condições insalubres simultaneamente na medição de material particulado. Especialistas alertam que a persistência desses baixos índices pode intensificar problemas respiratórios e afetar o sistema auditivo, o nariz e a garganta.
De acordo com o Dr. Rubens Dantas da Silva Junior, otorrinolaringologista do Centro de Excelência em Medicina (CEM), a exposição prolongada a altos níveis de poluição pode ter consequências graves. Crianças, idosos e pessoas com condições pré-existentes são os mais vulneráveis aos efeitos da má qualidade do ar.
“Esses grupos tendem a ter uma resposta inflamatória mais intensa e menos capacidade de recuperação, o que pode resultar em hospitalizações mais frequentes em períodos de baixa qualidade do ar, como o que estamos vivendo agora”, acrescenta.
Conforme o médico, os prejuízos da poluição na saúde são variados. “O material particulado presente no ar poluído, especialmente as partículas finas conhecidas como PM2,5, pode penetrar profundamente nos pulmões, provocando inflamação e agravando condições como asma, bronquite e doença pulmonar obstrutiva crônica”, explica o Dr. Rubens Dantas da Silva Junior.
No entanto, o impacto não se restringe apenas aos pulmões. O especialista alerta que o sistema respiratório como um todo é afetado, com irritações constantes na garganta, tosse seca, dificuldade para respirar e até mesmo infecções recorrentes.
“A exposição à poluição danifica as barreiras naturais das vias aéreas superiores, tornando o organismo mais vulnerável a infecções bacterianas e virais. A irritação da mucosa das vias respiratórias desencadeia casos recorrentes de rinite alérgica, sinusite e faringite. A exposição prolongada a esses agentes poluentes intensifica a inflamação, resultando em crises mais severas e duradouras”, explica.
No caso do ouvido, a poluição também pode ter efeitos indiretos. “A rinite e a sinusite crônicas, desencadeadas pela má qualidade do ar, podem gerar acúmulo de secreção nas vias respiratórias e causar otite, uma inflamação no ouvido que pode se tornar recorrente”, afirma o médico.
Diante da crise ambiental vivida pela capital paulista, o Dr. Rubens Dantas da Silva Junior recomenda medidas simples que podem ajudar a amenizar os efeitos da poluição, sobretudo para os grupos mais vulneráveis. “É importante evitar atividades físicas ao ar livre durante os dias com níveis críticos de poluição, manter os ambientes internos bem ventilados e, se possível, usar umidificador de ar em casa”, sugere.
A hidratação constante das vias aéreas também é fundamental. “O uso de soro fisiológico para lavar o nariz ajuda a manter a mucosa limpa e hidratada, minimizando os efeitos irritantes dos poluentes. Beber bastante água e evitar ambientes fechados com ar-condicionado também são atitudes que podem aliviar os sintomas”, orienta o especialista.
A má qualidade do ar em São Paulo não é uma novidade, mas o agravamento recente traz à tona a urgência de soluções mais amplas para mitigar seus efeitos. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 7 milhões de pessoas morrem anualmente em decorrência de problemas relacionados à poluição do ar no mundo.
No Brasil, os problemas de saúde provocados pela poluição geram um impacto significativo sobre o sistema público de saúde, com aumento nas internações hospitalares e atendimentos de emergência, principalmente nos meses mais secos e poluídos.
“As consequências da poluição não são apenas imediatas, como o desconforto respiratório e as crises alérgicas. A exposição contínua pode levar ao desenvolvimento de doenças crônicas, que sobrecarregam o sistema de saúde e afetam a qualidade de vida a longo prazo”, finaliza o Dr. Rubens Dantas da Silva Junior.
Por Annete Morhy