A depressão pós-parto é um subtipo de depressão caracterizado pela tristeza profunda e perda de interesse em atividades comuns durante o período puerpério ou, até mesmo, na gestação. Conforme o estudo “Factors associated with postpartum depressive symptomatology in Brazil”, publicado no Journal of Affective Disorders, a condição acomete em torno de 25% das mães no Brasil.
Ricardo Vieira Carvalho, psicólogo pela Behavioral Tech Institute, destaca que é muito importante diferenciar a depressão pós-parto do “baby blues”, que é uma instabilidade emocional passageira após o parto, desencadeada por fatores hormonais nas mães – que estão tentando se organizar com a nova rotina.
Além dos sintomas característicos da depressão, a condição pós-parto também pode envolver outros sinais. Segundo Larissa Fonseca, psicóloga clínica e doutoranda em ansiedade, depressão, estresse, sono e sexualidade feminina, eles são:
A profissional acrescenta que, em casos graves, podem ocorrer pensamentos suicidas ou desejo de prejudicar o bebê.
A depressão pós-parto pode ser ocasionada por diferentes fatores, como genéticos, ambientais e de vulnerabilidade individual. De acordo com a Dra. Lívia Castelo Branco, psiquiatra da Holiste Psiquiatria, mulheres com histórico familiar de depressão ou que apresentaram episódios depressivos ao longo da vida têm uma chance maior de desenvolver esse tipo de transtorno mental.
“Dentre os fatores ambientais, estresse, dificuldades financeiras, pouco suporte do parceiro e ausência da rede de apoio podem deixar a mulher mais vulnerável a ter sintomas depressivos”, acrescenta a psiquiatra.
Além disso, a psicóloga Larissa Fonseca comenta que uma gravidez indesejada e/ou fruto de violência sexual, bem como histórico de infertilidade e complicações médicas durante e após a gestação, podem aumentar o risco de a mulher desenvolver a condição.
A depressão pós-parto é diagnosticada de forma clínica, isto é, a partir de sintomas relatados pela mulher e seu histórico médico. “Profissionais de saúde também avaliam fatores biológicos, psicológicos e sociais para compreender o quadro geral da paciente. É importante avaliar a qualidade de vida antes do parto e pós-parto, o nível de atividade e motivação em ambas as situações”, explica Larissa Fonseca. Além disso, a Dra. Lívia Castelo Branco ressalta que, em alguns casos, ocorre a coleta de exames laboratoriais para excluir outras doenças.
Conforme Larissa Fonseca, a doença também pode estar relacionada com outras condições de saúde. “A depressão pós-parto pode estar associada aos transtornos de ansiedade, transtorno obsessivo-compulsivo (TOC), transtorno de estresse pós-traumático (TEPT) e, em casos mais graves, à psicose pós-parto”, afirma.
A Dra. Lívia Castelo Branco comenta que esse tipo de depressão também pode estar relacionado à bipolaridade, bem como a doenças clínicas crônicas associadas às inflamações intensas ou que necessitam do uso de corticoides (substâncias utilizadas para reduzir a produção de inflamações ou diminuir a atividade do sistema imunológico).
O tratamento da depressão pós-parto geralmente pode envolver psicoterapia e medicação. “As psicoterapias indicadas são a TCC (Terapia Cognitivo-Comportamental) e a DBT (Terapia Comportamental Dialética), pois focam na reestruturação cognitiva e ensinam a paciente a lidar com a desregulação emocional e a controlar os impulsos”, pontua o psicólogo Ricardo Vieira Carvalho.
Em relação aos medicamentos, a Dra. Lívia Castelo Branco comenta que, em casos moderados ou graves, é necessário o uso de antidepressivos ou ansiolíticos – receitados por um psiquiatra. Ademais, a médica acrescenta que, em casos mais graves, pode haver a necessidade de internação psiquiátrica e afastamento do bebê para evitar risco de suicídio e danos ao recém-nascido.
Durante o tratamento da depressão pós-parto, é muito importante que as mulheres estabeleçam alguns hábitos saudáveis, pois eles podem promover uma recuperação mais rápida e uma melhora na qualidade de vida em geral. Algumas práticas essenciais citadas pela psicóloga Larissa Fonseca são:
Assim como o tratamento e os hábitos saudáveis, a rede de apoio também é de extrema importância para a remissão da depressão pós-parto. Portanto, amigos e familiares “devem oferecer apoio sem julgamento moral acerca das emoções e pensamentos desagradáveis que surgem com o transtorno, oferecer tempo de qualidade e alguma ajuda especificamente solicitada pela nova mãe”, detalha Ricardo Vieira Carvalho. Além disso, Larissa Fonseca pontua que é essencial que as pessoas ao redor da mulher a incentivem a buscar o tratamento adequado e não minimizem a gravidade dos sintomas da doença.