Um dia após a primeira-ministra britânica, Theresa May, oferecer direitos aos cidadãos europeus, líderes do bloco econômico disseram nesta sexta-feira (23) que a proposta não é o bastante.
Entre eles o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, que afirmou ao chegar ao segundo dia da cúpula em que os europeus estão reunidos em Bruxelas: “Este é um primeiro passo, mas não é o suficiente”.
A mesma mensagem foi repetida pela chanceler alemã, Angela Merkel. “Não foi um avanço”, disse. Ela afirmou em entrevista coletiva que os 27 membros restantes “vão estar bem preparados, e nós não vamos permitir que nos dividam”.
Já o premiê belga, Charles Michel, disse que a proposta de May é “um gato na sacola”, uma expressão usada para um “presente dúbio”. Ele afirmou que a oferta de May foi “particularmente vaga”.
As reações são uma demonstração da dura barreira que May deverá enfrentar nos próximos meses durante as negociações do “brexit”, a saída britânica da UE. As conversas foram formalmente iniciadas nesta semana.
May tem dito que vai conseguir o melhor acordo possível para o Reino Unido, que deve deixar o bloco econômico até meados de 2019. Mas os europeus vêm demonstrando não estar dispostos a muitas concessões.
O recém-eleito presidente francês, Emmanuel Macron, deve se mostrar especialmente rígido nessas negociações. Sua campanha foi marcada pela intensa defesa da União Europeia e da reaproximação com a Alemanha.
A conservadora May perdeu em 8 de junho a maioria parlamentar, ao eleger só 318 deputados, quando precisaria ter 326. Sua posição tem sido progressivamente enfraquecida e contestada dentro e fora do país. O Partido Trabalhista pede a sua saída.
O prefeito de Londres, Sadiq Khan, tem sido um de seus críticos frequentes. Ele disse que a oferta feita por May à UE é “inaceitável”.
A cúpula dos líderes da União Europeia em Bruxelas, inaugurada na véspera, foi encerrada na sexta. Os debates incluíram, além do “brexit”, temas como terrorismo, migração e economia.
A chanceler Merkel chegou a dizer que preferia que o “brexit” não dominasse as discussões, que deveriam se centrar no futuro do bloco.
Tanto o Reino Unido quanto a União Europeia querem que os direitos de seus cidadãos sejam decididos já no início das negociações, antes de adentrarem em temas complexos como os acordos comerciais.
A proposta de May, criticada na sexta, é de que os 3 milhões de europeus vivendo no Reino Unido não sejam obrigados a deixar o país no momento da separação. Quem viveu no Reino Unido por cinco anos poderia ter os mesmos direitos concedidos aos cidadãos britânicos.
A União Europeia exige, no entanto, que o Tribunal de Justiça da União Europeia possa decidir sobre esses direitos. A primeira-ministra May se recusa a ceder nesse ponto.
Outra questão espinhosa para os debates é a data limite para considerar os direitos dos europeus no Reino Unido. May quer que a linha seja traçada em março deste ano, quando ela acionou formalmente o gatilho do “brexit”. A União Europeia prefere que seja meados de 2019, a data da saída definitiva.
Há 1,2 milhão de britânicos vivendo na União Europeia, cujos direitos também terão que ser negociados. (Folhapress)