Futebol é feito de heróis. E para os amantes da bola nos quatro cantos planeta, quem merecia e carregou tal honraria nesta quarta-feira foram Bushchan; Karavaev, Zanarnyi, Matvienko, Mykolenko, Stepwnenko, Malinovskyi, Zinchenko, Tsygankov, Yarmolenko e Yaremchuk, depois Mudryk, Shaparenko, Dovbyk, Sydorchuk e Zubkov, além do técnico Oleksandr Petrakov. Os representantes de 44 milhões de ucranianos machucados pela guerra vestiram a camisa da seleção com garra e emoção para dar um motivo de alegria ao devastado e dolorido povo do país por causa da invasão russa. Jogando em Glasgow, garantiram a vitória por 3 a 1 sobre a Escócia para avançar à decisão da repescagem europeia contra País de Gales, no domingo. O sonho de ida à Copa do Mundo aumenta após um dia histórico.
Com o mundo cada vez mais clamando por paz, Ucrânia e Escócia mostraram nesta quarta-feira que as batalhas devem ser somente por coisas boas, atrás de uma classificação, uma vitória, sem tirar vidas ou destruir nações. No lotado estádio Hampden Parken, em Glasgow, as seleções se enfrentaram em clima de paz por vaga à decisão da repescagem europeia pela última vaga do continente no Catar.
Por 90 minutos, os ucranianos esqueceram da brutal invasão russa a seu país que já dura mais de três meses, para tentar proporcionar um momento de felicidade à machucada nação. Querendo honrar o devastado país, os jogadores vestidos de amarelo entraram em campo emocionados e prometendo fazer “o jogo da vida”, como adiantou o meia Zinchenko.
Não era fácil. Ainda mais com o futebol paralisado no País há algum tempo. Muitos podiam sentir a falta de ritmo. Mas superação era a palavra de ordem. E o jogo começou com impressão que estava sendo disputado em Kiev, Donetsk ou outra cidade ucraniana tamanha a disposição em campo.
Com somente 18 minutos, o goleiro escocês Gordon já havia feito dois milagres além de saída corajosa nos pés do atacante. Os visitantes mostravam a coragem com a qual enfrentam no dia a dia um duro bombardeio russo.
E o momento tão esperado surgiu aos 32 minutos do primeiro tempo Um lançamento preciso da defesa de Malinovskyi encontrou Yarmolenko em condição legal. O camisa 7 encobriu o goleiro e saiu para a comemoração com os companheiros. Abraços em campo e sorrisos entusiasmados nas arquibancadas.
Em um cantinho no meio de 50 mil escoceses, atrás de um dos gols, 4 mil torcedores ucranianos exibiam o orgulho por sua nação com bandeiras azuis e amarelas que tremulavam sem parar. Duro segurar as lágrimas quando a vantagem no placar veio. Os gritos, os aplausos, os sorrisos, tudo mostrava que a dor e sofrimento mereciam e estavam passando por um cessar fogo.
Com sua população espalhada por outros países na Europa, casos de Polônia, Alemanha, Romênia, a Escócia abriu suas portas para 4 mil esperançosos e festivos torcedores que cantaram forte durante o jogo inteiro e voltaram a vibrar com gol do camisa 9 Yaremchuk, em cabeçada indefensável logo aos 3 minutos. O centroavante comemorou seu 45° gol na seleção nos braços da galera.
Impressionava a gana da Ucrânia. Eram chances de gols criadas em proporção. Enquanto isso, a Escócia não se achava em campo. Quando chegou bem, a bola “não quis” entrar em cabeçada na pequena área de McGinn.
Sem nada a perder, a Escócia se lançou com tudo ao ataque. Mas esbarrava em uma muralha amarela que apreendeu a se defender ainda mais nos últimos meses. E com bravura. A insistência, contudo, rendeu reação. McGregor descontou e logo depois salvou o time de levar o terceiro, cortando chance clara nos pés de Dovbyk.
A alegria ucraniana deu lugar à angústia nos minutos finais com a pressão da rival. O torcedor rezou, se apegou à fé e viu suas preces serem atendidas. No último lance, Dovbyk ampliou e garantiu a festa. O sorriso voltou a estampar os rostos ao apito final. Com três meses de atraso, a Ucrânia ganhou seu primeiro jogo da repescagem e saiu de campo sob aplausos.
(Conteúdo Estadão)