Uma turista espanhola morreu baleada na favela da Rocinha, em São Conrado, zona sul do Rio, na manhã desta segunda-feira (23).
De acordo com PM, por volta das 10h30, um carro de passeio com turistas teria furado um bloqueio policial na região chamada Largo do Boiadeiro, área na parte alta da favela. Sem saber quem eram os passageiros, policiais teriam disparado contra o veículo, atingindo a turista.
Ela foi encaminhada ao hospital municipal Miguel Couto, na Gávea, a poucos quilômetros da favela, mas já chegou morta no local.
A manhã desta segunda foi marcada por confrontos entre policiais e traficantes. Dois policiais militares e um suspeito ficaram feridos após uma troca de tiros, ocorrida às 9h30, na região da Rua 1, que fica na parte alta do morro.
Segundo o delegado Fábio Cardoso, titular da Delegacia de Homicídios, as primeiras investigações apontam que o motorista não teria percebido o bloqueio. Cardoso inclusive investiga se a primeira versão procede -ou seja, se de fato havia ou não um bloqueio policial no local.
Três PMs envolvidos na ação tiveram suas armas apreendidas para perícia. Segundo o delegado, a turista morreu com um tiro de fuzil na região do pescoço.
Segundo as primeiras informações, cinco pessoas estariam no carro. Os envolvidos prestarão depoimento ao longo do dia.
A PM informou que a corregedoria da corporação investigará as circunstâncias do caso.
Não é comum carros de passeio fazerem serviço de transporte de turistas na favela. Em geral, as operadoras de turismo levam turistas para circular na comunidade em jipes abertos e não em carros fechados.
Segundo a secretaria de Segurança Pública, a turista foi identificada como Maria Esperanza Gimenez, 67. Um funcionário do consulado da Espanha no Rio foi enviado ao hospital para onde ela foi levada.
Em 17 de setembro começou uma guerra entre traficantes na Rocinha. Cinco dias depois as Forças Armadas foram empregadas no conflito. Uma semana mais tarde, os militares deixaram o local. No último dia 10, os militares voltaram para uma varredura na favela por dois dias.
Neste momento, a favela está ocupada por 550 policiais militares que fazem incursões diárias em áreas na parte alta da favela em busca de traficantes.
Os conflitos começaram depois de um racha na facção ADA (Amigo dos Amigos), que dominava a venda de drogas na favela. O traficante Rogério Avelino, o Rogério 157, teria desobedecido a ordem dada por Antonio Bonfim Lopes, o Nem, preso em Rondônia.
Nem teria dado ordem para 157 devolver bocas de fumo na comunidade, o que ele negou. Aliados de Nem foram mortos por homens fieis a Rogério 157, dando início ao conflito.
Desde que começou o conflito as forças de segurança ocupam a favela. A despeito da presença policial, há indícios de que homens dos dois grupos agora rivais permanecem na favela. Rogério 157 estaria se aliando a outra facção criminosa, o CV (Comando Vermelho), a maior do Rio.
Desde o início dos conflitos, 44 pessoas foram presas. Ao menos 11 pessoas morreram.
O Rio enfrenta uma grave crise financeira, com cortes de serviços e atrasos de salários de servidores, e está perto de um colapso na segurança pública.
Um outro efeito dessa crise tem sido o aumento dos índices de criminalidade e a redução do número de policiais em favelas ocupadas por facções criminosas. As UPPs, base policiais em comunidades controladas pelo tráfico perderam parte de seu efetivo.
Nos últimos meses, têm sido rotina mortos e feridos por bala perdida, além de motoristas obrigados a descer de seus carros para se proteger dos tiros.
Outro braço dessa crise é a morte de policiais. Só neste ano já foram mais de cem PMs assassinados no Estado. A situação de insegurança também levou o presidente Michel Temer (PMDB) autorizar o uso das Forças Armadas para fazer a segurança pública do Rio até o final do ano que vem. (Folhapress)