Na disputa, tucano terá que enfrentar desgastes e defender longo tempo no poder. Fora dela, ele pode ver sua base fragmentar e sua liderança diminuir
(Reportagem do repórter Fagner Pinho, publicada na edição desta semana do jornal Tribuna do Planalto)
O governador Marconi Perillo (PSDB) tem poucos dias para anunciar uma decisão que definirá o seu futuro político – ser, ou não ser, candidato à reeleição. Para muitos aliados, o tucano já definiu que disputará um novo mandato e apenas aguarda a convenção do PSDB no dia 28 para comunicá-la. O seu silêncio, porém, abre a possibilidade de tomar qualquer um dos dois caminhos.
A Tribuna trouxe, na semana passada, que a movimentação da oposição é um dos pontos avaliados pelo governador. Marconi, porém, também estuda o impacto de sua decisão dentro de sua base política. Ele tem motivos para ser, e igualmente não ser, candidato. Cada um dos caminhos leva a uma gama de consequências positivas e negativas para o governador. Eis o dilema.
Apesar de todo o clamor da base aliada, o tucano se manteve firme em sua postura de não anunciar sua candidatura até o momento. Enquanto as oposições decidem o futuro eleitoral dos partidos contrários a Marconi, dentre os aliados há uma certeza – a de que o governador é o único qualificado para tal função.
Dentro desta perspectiva, contudo, somada ao fato de que Marconi não torna clara a sua decisão sobre ser ou não candidato, algumas questões acabam surgindo. As duas principais são: ‘Por que Marconi deverá ser candidato?’ e ‘Por que Marconi não deverá ser candidato?’.
Ser candidato…
O principal motivo para Marconi ser candidato se baseia em uma realidade negativa de seu grupo político – sua base, que conta com 14 partidos, podendo ainda aumentar este número até o final do mês de junho, só está unida por conta de sua figura. O governador, hoje, é o único nome que une a base. Sem ele, a situação estaria tão ou mais dividida que a oposição.
Em 16 anos, o único líder da situação foi o próprio governador Marconi Perillo. Não houve outras lideranças que alcançassem o patamar no qual se inseriu o tucano. Isso ocorreu por duas razões: ou o crescimento foi abafado naturalmente pelo fato de o ambiente aliado já possuir um líder, ou a própria liderança perdeu sua força e não conseguiu se viabilizar no caminho até a candidatura.
Isso ocorreu, por exemplo, com o ex-governador Alcides Rodrigues (PSB), que se reelegeu com apoio de Marconi. Durante o governo Alcides, as duas lideranças entraram em choque devido a pendências de governo e o rompimento foi inevitável. Ainda houve o caso do senador Demóstenes Torres (ex-DEM), que teve seu mandato cassado em 2012, por envolvimento na Operação Monte Carlo, quando estava em ascensão política. Salvo este episódio, Demóstenes hoje poderia ser uma opção a Marconi.
Em relação à hipótese de o próprio líder ofuscar o aparecimento de outro, o cientista político e professor da Universidade Federal de Goiás (UFG) Pedro Célio acredita que a falta de um sucessor é característica de líderes “centralizadores”, como é o caso do tucano, em sua opinião. “Líderes centralizadores não permitem isso. Uma nova liderança que surge é vista como ameaça por políticos centralizadores. O preço a pagar é essa lacuna nos momentos de sucessão”, defende.
Com a base dependente de Marconi, o tucano também passou a ser, de certa forma, refém. Esse compromisso é sempre cobrado publicamente por integrantes da base aliada, criando, inclusive, certo desconforto para o governador, que não aceitou, de forma alguma, que o lançassem candidato em encontros da base sem que ele definisse o seu próprio destino, como lembra a deputada federal Magda Mofatto (PR).
“Não há ninguém na base hoje que chegue perto da grandeza de Marconi Perillo. Ele construiu seu nome em três mandatos, ou seja, foi muito tempo para que ele se tornasse o nosso maior líder político. Portanto, o vejo como o único que pode ser o cabeça de chapa da base aliada. A decisão dos aliados e unânime. E o governador sabe que ele tem esse compromisso com a base”, observa.
Outro fator de pressão em torno de Marconi é o fato de que a sua base teme que, se ele não for candidato, o grupo possa fazer um número menor de deputados estaduais e federais. Por ser o único líder da situação, sua candidatura torna-se evidentemente natural. Ser candidato é o que restou a Marconi, se depender de sua base aliada. Muitos deputados que buscarão sua eleição dependem do governador. Há a esperança, inclusive já levantada pelo deputado federal Vilmar Rocha (PSD), de que a base aliada tenha até doze deputados federais eleitos.
Isso somente será possível se Marconi Perillo realmente for candidato. “O candidato a governador de qualquer chapa é determinante para a eleição de deputados federais e estaduais. Sem sua figura, não há a transferência de votos e o apoio que condiciona a escolha do eleitor”, avalia um experiente aliado do governo estadual.
A deputada Magda Moffato também defende essa tese. “A responsabilidade dele, por ser o nome mais forte e natural da chapa aumenta ainda mais nessas eleições. Como não há outro nome, muitos deputados dependem de sua forca política para conseguirem se eleger e compor uma base forte de partidos aliados na Câmara Federal”, frisa.
Ela lembra que o apoio do governador nas eleições será importante em uma possível vitória no pleito. “Formando essa base forte por lá, o governador poderá contar com os deputados federais que ajudou a eleger para buscar investimentos do governo federal em Goiás, em um possível quarto mandato”, apontou a deputada.
Não ser candidato…
Não ser candidato é uma possibilidade sempre aventada pelo governador em discursos públicos. Foram várias às vezes em que o nome do vice-governador, Jose Eliton (PP), foi aventado por Marconi como um possível nome a substituí-lo em caso de uma decisão negativa de sua parte.
Marconi, quando pondera sobre a sua não reeleição, pensa, certamente, nas dificuldades que terá de enfrentar em mais uma eleição: a clara comparação com o governo PMDB que se manteve no poder a exatos 16 anos, assim como o grupo político do governador hoje se mantém; a superação da rejeição em certas áreas e regiões do Estado; o desgaste adquirido junto ao servidor público – seu aliado em todas as eleições passadas – e a volta de assuntos incômodos como a operação Monte Carlo e o seu suposto envolvimento com o contraventor Carlinhos Cachoeira, segundo a Polícia Federal.
A possibilidade de não ser candidato, porém, trará efeitos negativos em relação à união de sua base. Muitas lideranças já dão como certa a divisão de sua base, caso o governador não concorra à reeleição. PTB, PR e PPS, inclusive, já se manifestaram anteriormente dizendo que se Marconi não for o candidato, reverão seus posicionamentos em torno da aliança governista.
O próprio presidente do PPS em Goiás e pré-candidato a deputado federal pelo partido Marcos Abrão já falou sobre o assunto. “Se o governador for candidato, o PPS caminha com ele. Caso ele não seja candidato, o partido não tem compromisso fechado com ninguém. Só temos compromisso com o governador, com a aliança que está em vigência hoje. Se Marconi não for candidato, o PPS pode seguir independente”, disse Abrão, em entrevista à Tribuna, há alguns meses.
Esta é a principal dificuldade que Marconi tem para não ser candidato. Mesmo com os 16 anos de governo em suas costas e os desgastes acumulados, talvez ele próprio tenha a maior chance de conseguir vencer e impedir a oposição de adentrar ao Palácio das Esmeraldas quase duas décadas depois. Um nome, mesmo sem desgastes, não tem muita chance se não houver uma base sólida por trás. Por outro lado, enfrentar um pleito depois de 16 anos de poder pode ser fatal junto a uma sociedade que clama por mudanças na política. Este é o dilema que passa na cabeça de Marconi. O caminho, porém, terá que ser um só.
Prós e contras de ser, ou não ser, candidato
Se Marconi for candidato:
* Terá uma base aliada unida de pelo menos 14 partidos para lutar pela reeleição;
* Fortificará a sua chapa de deputados estaduais e federais, com a grande possibilidade de fazer a maioria das cadeiras, tanto na Câmara Federal quanto na Assembleia Legislativa;
* Terá a máquina nas mãos que, naturalmente, trabalha mais para um candidato governador do que para um candidato aliado do governador;
* Provavelmente enfrentará os mesmos adversários de 2010 – Iris Rezende e Vanderlan Cardoso – que terão mais força nas críticas, já que há os desgastes naturais do governo;
* Terá que defender e convencer o eleitor a lhe dar mais quatro anos, algo nada fácil hoje em dia, já que a sociedade pede renovação na política; Se Marconi não for candidato:
* Poderá focar o governo e diminuir a sua rejeição até o fim do governo. Ainda terá o discurso de que abriu mão do poder em uma época que a população pede renovação;
* Fora do governo, não acumulará desgastes de governante. Pode voltar a ser candidato em 2018. Se a oposição vencer a disputa, ainda teria o discurso focado nos possíveis desgastes de um novo governo, seja ele qual for;
* Poderia ganhar mais força no pleito de 2014 colocando alguém novo e sem desgastes na disputa;
* Teria dificuldade em manter a sua base unida. Vários partidos como o PTB, PR e PPS já falaram que podem tomar outro caminho se Marconi não for candidato;
* Sua base teme que, se o tucano não for candidato, o grupo não tenha força para fazer grandes bancadas estaduais e federais.