Com a desistência de Iris, os pré-candidatos opositores Júnior do Friboi, Antônio Gomide e Vanderlan Cardoso veem grandes obstáculos à frente
(Reportagem de Eduardo Sartorato no jornal Tribuna do Planalto)
A desistência do ex-governador Iris Rezende (PMDB) de sua pré-candidatura ao governo colocou a oposição em xeque. O fator de união entre PMDB e PT que Iris representava era o grande trunfo do peemedebista e a esperança para os militantes que esperavam ver todos os líderes em uma mesma chapa. Sem Iris, a união de PMDB e PT ficou extremamente difícil. Separados, o empresário Júnior Friboi – agora pré-candidato único do PMDB – e o pré-candidato petista Antônio Gomide precisarão superar obstáculos para chegarem em julho com candidaturas competitivas. Isso também se aplica ao empresário Vanderlan Cardoso (PSB).
Júnior do Friboi terá a difícil missão de juntar os cacos no PMDB. Mesmo sem uma disputa convencional, ou por meio de prévias, o resultado final no partido foi de ruptura. Iris avaliou que se disputasse com Friboi e vencesse, não levaria a totalidade do partido. As consequências poderiam ser fatais diante de um confronto contra o adversário forte que o governador Mar¬coni Perillo (PSDB) representa. Tentou o diálogo com Jú¬nior, mas ouviu um “não” do empresário. Desistiu porque não viu futuro em uma candidatura sem o apoio dos friboizistas.
Com a sua renúncia, Iris joga o problema para Friboi. Será Júnior que terá que atrair os iristas – e o próprio Iris Rezende – sob o risco de sair enfraquecido para a campanha eleitoral. Não será tarefa fácil, porque nos últimos meses o que se viu foi um confronto nada sadio entre as tropas de Iris e Friboi, principalmente nas redes sociais. As feridas são enormes e as eleições muito próximas. A ação terá de ser imediata.
A movimentação de Júnior do Friboi, porém, já começou errada. Em nota após a desistência de Iris, o empresário mandou um recado equivocado: “Ele (Iris) soube reconhecer a vontade das bases do partido pela unidade”. A mensagem foi entendida pelos iristas como uma comemoração de vitória de Friboi e não pegou bem. Mesmo porque o “não” de Friboi para o projeto de Iris e a desistência do último só abriram mais as lacunas no partido. Não há, por enquanto, nenhum sinal de unidade.
Friboi terá agora que atuar para que a renúncia de Iris seja apenas de sua pré-candidatura e não do processo eleitoral como um todo. Missão prá lá de difícil. Iris não tem nenhum interesse em ser candidato ao Senado – vaga que o empresário insiste em lhe oferecer – e parece não ter motivação para impulsionar Friboi depois de toda a disputa interna no partido. Iris leva consigo boa parte do PMDB, principalmente a base interiorana. Algo desastroso para Júnior. Resta a Friboi o diálogo e a articulação política, algo em que não mostrou habilidade até o momento.
Influência negativa
A pré-candidatura de Antônio Gomide (PT) é a materialização dos erros políticos que Friboi cometeu desde que se lançou pré-candidato ao governo. Desde o início, o empresário não teve um discurso agregador para com o principal aliado do PMDB. E pior: teceu palavras de indiferença ao aliado e ameaças de não apoiar a provável candidatura à reeleição da presidente Dilma Rousseff. Falou que o PT poderia ser substituído pelo DEM na chapa, algo que soou como heresia no quartel general petista.
Toda essa ação afastou o PT de Friboi e o motivou para lançar candidato próprio ao governo. Desde que Antônio Gomide foi referendado como o nome petista para outubro, porém, havia a sombra de que uma candidatura de Iris Rezende poderia abortar o seu projeto. Agora, com a definição de que Friboi deverá mesmo ser o candidato peemedebista, Gomide também deverá ser homologado.
Diferentemente de Friboi, as dificuldades de Gomide não são internas. Apesar de o PT ainda não ter se empolgado com o seu pré-candidato, os seus militantes são historicamente muito disciplinados e engajados nos projetos do partido. É questão de tempo para que, pelo menos, a grande maio¬ria da agremiação esteja trabalhando em prol da candidatura do ex-prefeito de Anápolis.
A grande ‘pedra no sapato’ de Antônio Gomide é, por ironia, a administração do prefeito Paulo Garcia (PT) em Goiânia. A ironia vem da briga pública que Gomide e Paulo protagonizaram no início do ano. Desde então, ambos não se bicam. As dificuldades administrativas de Garcia, no entanto, têm trazido sérios problemas para que Gomide seja aceito na Região Metropolita¬na de Goiânia, a mais densamente povoada do Estado.
Aliados de Gomide, nos bastidores, admitem que a baixa aprovação de Paulo Garcia em Goiânia tem sido problemática. De maneira geral, quando o goianiense se depara com o anapolino, logo o relaciona com a administração de Garcia e passa a rejeitá-lo. Gomide teria mais facilidade para ser aceito na capital como candidato a Senado, por exemplo, na chapa de Iris. O ex-governador deixou a prefeitura de Goiânia em 2010 com grande aprovação e seria um antídoto, até certo ponto, aos problemas da administração atual. Sozinho, porém, Gomide vai ter que torcer para que Paulo melhore seus índices para não correr o risco de ver a capital como uma fortaleza impenetrável.
Falta estrutura
O problema do pré-candidato ao governo Vanderlan Cardoso (PSB) é o mesmo há vários meses. Após perder o deputado federal Ronaldo Caiado (DEM) em outubro passado – o democrata foi praticamente expulso da aliança pela a ex-ministra Marina Silva (PSB/Rede) -, Vanderlan tem dificuldades para encontrar aliados que deem representatividade ao seu projeto eleitoral. A vaga de vice, por exemplo, está guardada para um novo partido parceiro, mas as dificuldades do socialista em encontrá-lo têm sido imensas.
O empresário tem a amarra nacional que o impede de compor com o PT ou PSDB, já que ele costurou o compromisso de apoiar o ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos (PSB) à presidência da República. PT e PSDB fatalmente terão seus candidatos ao Palácio do Planalto. Uma aliança com o PMDB também é complicada, já que o partido é aliado da presidente Dilma e, apesar dos problemas de relacionamento dos últimos meses, deve apoiar novamente a petista para a sua reeleição.
A aliança de Eduardo Campo com a Rede de Marina Silva ainda rendeu mais entraves a Vanderlan Cardoso. Além da perda de Caiado, Vanderlan teve que abrir espaço para um correligionário da Rede na chapa majoritária. O procurador federal Aguimar Jesuíno, quadro técnico e desconhecido do eleitorado do Estado, foi o escolhido e será candidato ao Senado.
Além do PSB, Vanderlan tem apenas o PSC e o PRP como aliados. O PDT, partido que dialogou por muito tempo com o empresário, tem tudo para tomar outro rumo depois que Vanderlan e a deputada federal Flávia Morais trocaram farpas públicas. Flávia afirmou que Vanderlan deve desistir de sua pré-candidatura, o que irritou o socialista. Com apenas esses três partidos, o empresário terá um tempo de Rádio e TV reduzido, além de um menor grupo de aliados no interior.
A oposição tem muito problemas para pouco tempo até as convenções. Assim como em 2002, 2006 e 2010, a falta de união e a disputa interna são os grandes obstáculos do grupo. Celeumas estas inexistentes na base do governador Marconi Perillo. O tucano tem também as suas pedras no caminho da reeleição – a forte rejeição e a vinculação de seu nome no Caso Cachoeira, por exemplo –, mas vê o seu grupo coeso e com um discurso unificado em relação ao seu projeto. Algo que a oposição buscou por 16 anos e, até agora, não conseguiu encontrar.