Novo presidente do PPS tem o objetivo de fortalecer o partido para a disputa de 2016, mas o projeto passa por eleger nomes fortes na disputa proporcional em 2014.
“O PPS não é apêndice de ninguém”
Sáb, 30 de Novembro de 2013 19:43 Eduardo Sartorato, Marcelo Tavares, Murillo Soares e Vassil Oliveira E-mail Imprimir PDF
Em entrevista, presidente da Agehab e do PPS, Marcos Abrão Roriz, questiona: “Se Marconi não for candidato à reeleição, por que o PPS não pode ter candidato a governador?”
Se o governador Marconi Perillo (PSDB) não for candidato à reeleição em 2014, o processo está zerado e o PPS poderá seguir outro caminho. Quem garante é o novo presidente regional do partido e presidente da Agehab, Marcos Abrão Roriz. Para ele, o compromisso do partido é com o governador e, se Marconi não for candidato, o PPS pode até mesmo lançar nome próprio para a disputa no ano que vem. Sobrinho da senadora Lúcia Vânia, Roriz tem projeto para ser candidato à Câmara Federal. Assim, ele se prepara para deixar o governo juntamente com os outros secretários que têm plano políticos. No balanço de sua passagem pelo comando da pasta responsável pelo programa de habitação do governo, o presidente comemora as cerca de 60 mil casas que, segundo ele, o Estado deve entregar até o fim de 2014. Outro programa forte da pasta é o de regularização fundiária, com grande atuação na Região Noroeste de Goiânia. Marcos Abrão Roriz visitou a sede da Tribuna na quarta, 27, onde concedeu a seguinte entrevista.
Tribuna do Planalto – Qual a abrangência do atual projeto de habitação de Goiás?
Marcos Abrão Roriz – Primeiro, precisamos falar da forma de construir casas. Não existe uma construção de casas ou conjuntos habitacionais sem parceria. Quando criamos o programa estadual, não foi criado para competir com o federal, mas para somar os recursos. Por isso é que o Estado conseguiu uma cobertura tão grande na contratação de casas populares hoje. Podemos falar em torno de 62 mil casas, sendo que em torno de 4.700 já foram entregues, 19 mil estão em construção e em torno de 42 mil para contratar até o início de 2014.
Aquela meta de se fazer 50 casas em cada município vai ser cumprida?
Na verdade, hoje, o governo de Goiás e a Agehab podem fazer uma colocação pesada, porém real: a prefeitura que não tem hoje um projeto habitacional em construção é porque não disponibilizou a área. Trabalhamos com essa meta de fazer no mínimo 50 casas em casa município. Já estamos em fase de construção em quase 220 municípios e, acredito que até o final de 2014, vai ter construção em todos as 246 cidades.
Como está o déficit habitacional em Goiás? Há uma diminuição?
Existem alguns institutos que fazem essa estimativa de déficit e falamos em um número de 160 mil unidades. Porém, a análise simples dos números não dá a dimensão real do problema. O maior problema em Goiás é que o Estado é destino do fluxo migratório interno no Brasil. Para cada emprego gerado aqui, ou você traz ou você gera demandas sociais. O Estado tem crescido acima da média nacional economicamente e isso faz com que pessoas migrem de outros lugares para cá. Goiás recebeu nos últimos anos mais de 200 mil famílias. Nós temos um déficit habitacional que está estagnado, mas que era para estar decrescente, tendo em vista a quantidade de casas em construção. Não estou aqui para fazer críticas ao que foi feito no governo passado, mas cada governo, se não fizer uma política habitacional agressiva como é feita neste governo, gera demanda reprimida para o próximo governo.
Qual a participação do governo federal nesse programa?
É muito grande, por meio de agentes financeiros, como a Caixa Econômica Federal e o Banco do Brasil. De participação direta, temos alguns programas específicos para cidades pequenas, porém nós complementamos todos eles com recursos do Cheque Mais Moradia, porque os recursos são insuficientes. Tem um programa que se chama Minha Casa Minha Vida Sub-50, que, quando entramos no governo, colocava R$ 12 mil por casa. Com essa quantia, não se faz uma casa, que hoje custa em torno de R$ 40 mil. Então, o Estado complementou em todas as situações. Por isso falo em parceria. Porque, também, se não tivéssemos o recurso do governo federal para pagar a mão de obra, não teríamos tido a cobertura que temos hoje. É uma junção entre município, governo do Estado e governo federal.
Mas, majoritariamente, a maior porcentagem da verba vem do governo federal?
Nos municípios acima de 50 mil habitantes, sim. Nos municípios abaixo de 50 mil habitantes, o Estado é o maior contribuinte.
É possível falar uma média de qual o recurso que cada ente da federação participa?
Nas cidades acima de 50 mil habitantes, o governo federal coloca em torno de R$ 57 mil e o governo estadual R$ 5 ou 10 mil por unidade. Nas cidades com menos de 50 mil habitantes, em alguns programas, eles colocam R$ 17 mil e nós, R$ 20 mil por unidade. É uma média. Há programas, por exemplo, em que eles colocam R$ 9 mil.
A oposição às vezes critica o governo estadual ao dizer que ele faz obras com recursos do governo federal, mas na hora da inauguração não dá os devidos créditos. Como tem sido isso em relação a Agehab?
Nós nunca tivemos qualquer tipo de problema nessa relação. Recentemente, a prefeita de Goiás Selma Bastos (PT) me pontuou que eu sempre deixo clara essa parceria com o governo federal. Não posso ser desleal falando que não há parceria. Porém, o governo federal também não teria a quantidade de casas que tem hoje no Estado se não fosse o governo estadual, principalmente nas pequenas cidades. E agora com agravante porque, na Região Metropolitana de Goiânia e no entorno do Distrito Federal o terreno está subindo e o valor da casa liberada é fixo. À medida que o valor do terreno sobe, o que sobra para construir a casa fica menor. Se o Estado não complementasse, não se construiriam as casas.
Como está o trabalho de regularização fundiária feito pelo Estado na Região Noroeste de Goiânia?
São os contratos do passado, que não são poucos, que precisam de regularização. São em torno de 90 mil imóveis no Estado. Então é um trabalho para uns quatro governos. Na verdade, em relação à regularização fundiária, criou-se um mito: não se fazia por falta de interesse, porque é um processo moroso. Porém, é moroso quando não se tem base legal. Nós criamos uma Lei de Regularização Fundiária nos primeiros meses do governo, inclusive, com a contribuição do Ministério Público. Bairros como São Domingos, São Carlos, Floresta, Bairro da Vitória, Boa Vista não existiam em Goiânia. Existiam de fato, mas não de direito, então jamais essas famílias teriam as escrituras se não tivéssemos regularizado primeiros os bairros. Na região Noroeste são cerca de 3,5 mil moradias até agora regularizadas e em dezembro vamos entregar entre 2,3 mil e 2,4 mil escrituras legalizadas. Este programa está em 50 municípios para regularização e escrituração de 87 bairros.
Há também um trabalho social da Agehab?
Tentamos contribuir na reinserção das famílias no mercado de trabalho, levando capacitação. São cursos de mecânico, pedreiro, confeiteiro, de decoração de festas, entre muitos outros. À medida que os programas de construção de casas, como o de regularização fundiária, vão avançando, a gente acaba sendo muito presente na sociedade e com isso vamos desenvolvendo um trabalho social muito forte. Também conseguimos captar R$ 53 milhões no Ministério das Cidades para investir em infraestrutura na região Noroeste, com rede de esgoto, galerias pluviais e reflorestamento de áreas degradadas. Todo esse trabalho já rendeu o quinto prêmio nacional na área de atuação de regularização fundiária, de construção de casas e também nos planos de habitação para a Agehab.
Qual é o projeto político do senhor para 2014?
Assumi a presidência do PPS agora. Então, estou focado em duas coisas: fazer um bom trabalho na Agehab, e preciso ter responsabilidade e maturidade de levar isso a sério até o último dia. Mas sou presidente de um partido político. Se, em todas as condições, o partido entender que precisa ter um candidato, eu serei.
Como foi a filiação do sr. para o PPS e esse convite para assumir a presidência?
Era filiado ao PSDB desde 1999 e recebi o convite do presidente nacional do PPS Roberto Freire e do secretário-geral Rubens Bueno. Eles devem ter consultado quem eu era, meu trabalho e o que eu representava e me convidaram para me filiar ao partido. Como o PPS é um partido de esquerda, é um partido onde as coisas não são impostas. E, em um congresso, fui eleito por unanimidade presidente regional. Claro que a presidência nacional sinalizava que gostaria que eu fosse o escolhido, mas coube a mim fazer a articulação para sê-lo.
Mas por que sair do PSDB?
Gosto de desafios. O PPS hoje precisa de uma pessoa que tenha uma maior capilaridade no Estado e eu conheço Goiás muito bem. Eu tenho relacionamento em todos os municípios. O que me motivou foi, primeiramente, a chance de dirigir um partido e dar a chance de eu mostrar meu trabalho e construir um projeto junto com esse partido. E também por acreditar que o PPS tem uma bandeira legal, tem figuras expressivas e que prima muito por moralidade e é referência hoje no Brasil. Tenho muitos amigos no PSDB e nunca vou desmerecer isso, porém eu queria enfrentar esse desafio.
Em quantos municípios o partido está organizado hoje e qual a meta para as eleições de 2014?
O nosso objetivo principal ano que vem é formar uma chapa competitiva. Entrei no partido, apesar de não ter tido tempo de trabalhas as candidaturas. Em 2014, teremos candidatos competitivos a deputado estadual e a deputado federal, com chances de ganhar a eleição. Mas, em 2016, eu tenho certeza de que o PPS vai ter bons candidatos em quase todos os municípios de Goiás. É isso que vamos trabalhar.
“Existe ciúme pelo trabalho na habitação ter muita capilaridade. Isso é natural”
Então é um planejamento de médio a longo prazo?
Exatamente. Vou ter que estruturar isso com os outros parceiros para levar o partido para os 246 municípios, com condições de disputar eleições. O PPS não será apêndice de nenhum partido.
O sr. é sobrinho da senadora Lúcia Vânia. Houve especulações de que ela poderia ir ao PPS, mas acabou não indo. Como foi essa possibilidade?
As pessoas colocaram que ela mudaria de partido, mas eu não vi uma ação direta de que ela estava saindo. Vimos que havia diferenças dentro do partido, como sempre teve, o que é normal, mas tenho certeza de que são coisas que já foram superadas.
Quando o senhor saiu do PSDB houve rumores de que havia uma insatisfação por não haver espaço dentro do governo. Isso também contribuiu para a mudança?
Espaço em governo quem faz é a própria pessoa. Eu fiz meu espaço e tenho trabalho no Estado inteiro. Nunca levantei bandeira pedindo espaço. Meu espaço foi conquistado com trabalho, não com partido, com conversa, com arranjo, nem por ser sobrinho da senadora. As pessoas gostam de colocar assim porque fica mais fácil. Eu saí do partido com o consentimento do governador. Se eu tivesse saído com alguma divergência, ele não teria aceitado. Mas ele viu que era uma situação em que eu estava buscando um espaço em nível partidário. O governador está muito satisfeito com o trabalho que tenho feito no governo. Sei disso porque não há interlocutor entre nós; eu falo direto com ele. Na Agehab eu tenho resgatado compromissos de mais de 30 anos, como a regularização fundiária da Região Noroeste de Goiânia. E estou lançando o Conjunto Vera Cruz, que tem mais de dez anos que estão tentando.
Em relação a 2014, o partido caminha com o governador Marconi Perillo? O sr. espera que ele seja candidato?
Se o governador for candidato, o PPS caminha com ele. Caso ele não seja candidato, o partido não tem compromisso fechado com ninguém. Só temos compromisso com o governador, com a aliança que está em vigência hoje. Se Marconi não for candidato, o PPS pode seguir independente. Por que o PPS não pode ter um candidato a governador? O partido não é apêndice de ninguém.
O partido, com a estrutura que tem no interior hoje, teria condição de lançar um candidato forte ao governo?
Candidatura majoritária depende do nome. Você pode ter certeza de que, se o partido não tiver estrutura, mas tiver um nome, a estrutura é automática. Todo mundo quer ganhar a eleição. Depende do quadro que for desenhado. Se o governador não for candidato, pode ter certeza de que o PPS vai discutir essa possibilidade.
Se o Marconi deixar para anunciar que é candidato em junho do ano que o vem, o PPS vai esperar?
Essa questão precisa ser amadurecida também em relação aos outros partidos. Estamos falando de uma aliança. É difícil traçar conjecturas em cima de suposição. Esperamos que quando for tomada a decisão, vamos ter o tempo necessário para fazer a definição.
Quando o sr. acha que a base governista deve definir todo projeto para caminhar para as eleições?
Não posso fazer essa afirmação. Quem conduz o processo é o governador. Ele é o chefe da aliança, ele é o representante, é mais político do que eu e sabe o tempo para preparar a candidatura ou preparar um sucessor. Ele é quem vai dar esse tempo.
Não tem nenhum outro nome da base para sustentar a aliança governista, com o PPS junto?
O único nome que vi até hoje é do governador Marconi.
Nem o da senadora Lúcia Vânia?
Da senadora também. (risos) Os dois. É porque estamos falando de pessoas que tem trabalho prestado no Estado inteiro. Com o nome do governador e da senadora, é claro que o PPS caminha junto. Agora, sem isso aí, zera o processo.
O sr. como um novo nome, como observa o preço de uma estrutura necessária para campanha de deputado federal?
Estou acostumado a fazer campanha com trabalho e não coordenar com dinheiro. Desde 1998 caminhando com a senadora, a gente fez campanha com a sola do sapato. Então, não me assusta o preço porque nunca entramos numa campanha gastando, mas sim com trabalho.
Mas é preciso um mínimo de recursos para manter equipe, viajar….
Claro, isso é natural. Tenho condições para bancar a minha campanha, tenho muitas pessoas que me ajudam e tenho um relacionamento muito grande. Mas isso não me assusta. Me assustaria se não tivesse serviço prestado. Tenho certeza que quem tem isso, tem menos custo na campanha. Agora, quem não tem trabalho, tem que gastar.
O PPS pode buscar uma vaga para vice-governador ou senador na chapa majoritária?
Isso é feito com diálogo e com certeza o PPS estará sentado na mesa. O PPS já está em 140 municípios e estará em mais municípios porque a partir da próxima semana estaremos fundando comissões provisórias. Trabalho de forma profissional.
É importante buscar velhos aliados, como os deputados Ronaldo Caiado e Armando Vergílio?
Toda força que venha para compor é válida. O Ronaldo Caiado é uma referência no Estado. Tem trabalho, é representante do setor rual, é uma pessoa respeitada. O admiro e acredito que como pessoa e político ele precisa ser valorizado.
E o Vergílio?
Ele está no primeiro mandato, claro que é um deputado federal, mas será valorizado na devida proporção do tamanho da base de apoio que ele tiver, que não sei qual que é.
Em 2013 tivemos protestos da população se mostrando insatisfação com a política. Em 2014 o sr. acredita que será um ano mais fácil para as oposições, já que a população demonstrou que quer mudanças?
As manifestações no país foram um alerta para que, não só a classe política que está governando, mas também a que está pleiteando, faça uma reflexão e a partir disso tome um rumo para poder sanar alguns problemas. Acho ótimo os movimentos, porque se a população está tendo a oportunidade de mostrar que está insatisfeita com algumas coisas é justamente a oportunidade dos políticos em sanar alguns problemas, principalmente na prestação de serviço. Se a população não está satisfeita, cabe aos governantes tomar um rumo certo de poder diminuir as demandas e levar um serviço de qualidade. É o que estamos fazendo. Respondo por uma área muito sensível socialmente e nós temos um diálogo constante com esses movimentos sociais.
Como está o relacionamento seu com os deputados estaduais da base?
Há um movimento de insatisfação dos parlamentares com titulares do governo que, segundo os deputados, estariam invadindo suas bases eleitorais. Nunca recebi qualquer tipo de observação, advertência ou colocação do governador ou de deputados com relação à minha atuação. A Agehab está trabalhando de forma igualitária nos 246 municípios. Agora, não posso responder por outros secretários. Respondo pela minha pasta. Inclusive vi reportagens sobre o assunto e não concordo. Existe, é claro, ciúmes, pelo trabalho na habitação ter muita capilaridade. Isso é natural. Se não tivesse, aí deveria me preocupar, porque não estaria tendo reconhecimento. Mas isso é normal da atividade.
Ciúmes dentro do próprio grupo político é normal?
Se todo mundo trabalhasse, não havia tempo para isso (risos). Às vezes vemos esse tipo de colocação, mas não me preocupo. Vou continuar trabalhando até o último dia. Já tenho um trabalho prestado e vou continuar com ele. Então quem estiver incomodado que faça o seu trabalho.