Tribuna do Planalto – O PT apresentou o prefeito de Anápolis, Antônio Gomide, como pré-candidato a governador. Como está essa articulação em torno do nome dele?
Rubens Otoni – Estamos vivendo um momento muito especial. Neste um mês de trabalho, após a definição do diretório nacional, intensificamos nossas visitas ao interior, fizemos uma programação de 20 encontros regionais e temos tido uma receptividade extraordinária, tanto por parte da nossa militância – empolgada e estimulada pelo lançamento do nosso pré-candidato – , quanto pela sociedade em geral. Gomide, de uma certa forma, expressa um desejo da população goiana de ver um nome que traduza a renovação, não apenas do ponto de vista do nome, mas da prática política. E ele, por onde tem passado, tem tido todo esse entusiasmo, empolgação e apoio porque está em sintonia com o sentimento das ruas. É um político sério, honesto, competente, que trabalha com compromisso social e baseando-se na ética, na participação popular, na defesa dos direitos da cidadania. E isso, tomando como base o trabalho que ele faz na prefeitura de Anápolis.
Quando vocês vão avaliar se esse caminho de candidatura própria é um caminho sem volta ou não?
O diretório regional fez um planejamento, coordenado pelo nosso presidente, Céser Donisete, e aprovado pelas nossas forças políticas. A partir da apresentação do nome do nosso pré-candidato, faremos os 20 encontros regionais e teremos, no dia 29 de março, nosso encontro estadual, no qual avaliaremos o cenário político do Estado e definiremos nossa estratégia política, nossa tática eleitoral para as eleições deste ano. O que percebemos, ao andar por Goiás inteiro, participar dos encontros que temos participado, e ouvir a militância e a sociedade, é que cada vez mais certo que há um sentimento de fato consumado. A candidatura está se firmando a cada encontro, visita e reunião, a partir do entusiasmo com o qual as pessoas nos recebem.
Como está a conversa com o PMDB? O senhor acha que o partido aceitaria naturalmente a candidatura petista?
Nosso relacionamento com o PMDB é muito respeitoso e temos maturidade para entender que é legítimo que cada partido busque se afirmar com as suas pré-candidaturas e também aquilo que seja melhor, politicamente, para a sua legenda. Mas, nos interessa manter o diálogo e a aliança, tanto nacionalmente quanto aqui. O problema que o PMDB tem hoje não é o PT. Existe um problema dentro do PMDB, uma disputa interna, que ainda não foi definida. E foi justamente isso que abriu espaço para que um nome do Partido dos Trabalhadores pudesse se apresentar e esse nome está ocupando – até mesmo acima das nossas expectativas – um espaço muito importante. Isso nos faz entender que seria até positivo para PT e PMDB pensarmos em candidaturas próprias no primeiro turno e garantirmos nossa aliança no segundo turno.
A oposição sairia enfraquecida, caso saia dividida?
Nosso desejo é buscarmos uma aliança o mais ampla possível já no primeiro turno. Vamos trabalhar para isso. Mas, na medida que isso não for possível, vamos manter o diálogo e uma ação política respeitosa para que no segundo turno estejamos juntos. Queremos uma aliança não só com o PMDB, mas com todos os partidos que compõem o projeto nacional.
Essa aliança mais ampla depende do quê?
Dos interesses que os partidos têm no jogo eleitoral. E isso é legítimo. É natural que cada partido se julgue no direito de apresentar seus nomes, defender suas lideranças, buscar as melhores estratégias e táticas eleitorais, até mesmo para as eleições proporcionais. Nós, ao mesmo tempo em que estamos realizando encontros regionais e dialogando com nossa militância, também temos dado atenção especial aos partidos políticos que compõem o arco de alianças nacional, tudo isso coordenado pela nossa direção estadual. Há uma expectativa de que conseguiremos compor uma aliança em torno do nome do nosso atual pré-candidato. Mas temos respeito aos outros nomes apresentados, e vamos avaliando. No momento certo definiremos o melhor caminho. Só tenha certeza de que o nosso compromisso é garantir a eleição, em Goiás, de um governo sintonizado com o projeto nacional, coordenado pela presidente Dilma.
Hoje o PMDB tem um pré-candidato, Júnior do Friboi, o oficial, e o ex-governador, Iris Rezende, que também articula seu nome e tem uma boa parte do partido a seu favor. O PT teria facilidade em apoiar mais um do que o outro?
Várias vezes vejo alusão a essa possibilidade, mas não é este o nosso entendimento. O PT tem o maior respeito pelo PMDB e seus nomes apresentados, ou que possam vir a ser apresentados. Mas a definição que nosso partido tomará não depende da decisão do PMDB em sua disputa interna. O PT avaliará de maneira independente; não existe um pré-requisito. O fato de se for esse nome ou aquele não muda a nossa decisão. Apresentamos um nome, estamos levando-o a toda a sociedade goiana e vamos avaliar a repercussão disso. A partir daí, independente dos encaminhamentos do PMDB, o PT tomará sua decisão no dia 29 de março.
Mas, quando Friboi coloca que o PMDB pode buscar o DEM, ou que o apoio à presidente Dilma deve ser conquistado, isso não afasta o PT?
Isso não é problema para o PT. Vejo que isso cria um problema para o PMDB, porque o partido faz parte da composição nacional e tem o vice-presidente da República na chapa de Dilma Rousseff, mas o candidato deles em Goiás fala que não vai apoiar seu próprio vice-presidente. Interpreto assim, que não é problema para nós, e sim para eles. Em relação ao PT, isso até facilita nosso trabalho, porque demonstra à sociedade goiana o preparo de um candidato e de outro.
A reeleição da presidente Dilma é uma prioridade do PT?
Sempre foi e continua sendo. Ao apresentarmos o nome do nosso pré-candidato, nosso entendimento é que podemos fortalecer o projeto nacional em Goiás, apresentando alguém plenamente identificado com ele, que possa levar, com bastante intensidade, sua mensagem a todo o Estado. Nosso entendimento também é que, ao apresentarmos um nome, fortalecemos o campo da oposição em Goiás, dando uma opção a mais e uma possibilidade de reflexão, escolha e formação da chapa majoritária.
O PT tem essa data do dia 29 e o pré-candidato tem a data para se desligar na prefeitura. Ele saindo do executivo municipal e havendo essa definição, é um caminho sem volta?
Com certeza. Estamos caminhando para isso. O entusiasmo, a animação da militância e a receptividade que temos tido em diversos setores do Estado nos servem de indicativo para um encontro que vem a referendar a nossa candidatura. A partir dessa provação, nosso pré-candidato já foi taxativo. Ele sai da prefeitura de Anápolis apenas para ser candidato a governador. Aí sim é um caminho sem volta.
Se houver um acordo antes dessa data, há a possibilidade de Gomide fazer parte da chapa majoritária, porém em outro cargo?
Não. Ele já disse que não. Nosso pré-candidato já deixou claro que tem uma tarefa importante frente à prefeitura de Anápolis, que não é uma prefeitura qualquer. É o segundo PIB do Estado, uma prefeitura que vive um momento muito especial e uma cidade que vive um dinamismo muito grande do ponto de vista econômico. Ele deixou bem claro que só sai da prefeitura para ser candidato a governador. Ele até já colocou isso com bastante tranquilidade para as lideranças petistas e tem expressado isso nos lugares em que tem ido. Ele está satisfeito e feliz no que está fazendo e, ao apresentar seu nome, ele o faz como uma demonstração de desprendimento, de alguém que poderia ficar na sua zona de conforto por mais dois anos e oito meses, uma situação privilegiada, mas tem vontade de servir a um projeto maior: levar ao Estado de Goiás aquilo que está sendo feito – e muito bem feito – na cidade de Anápolis.
O presidente Rui Falcão veio a Goiânia há alguns dias. Isso fortaleceu a candidatura de Gomide, mas deixou muito claro que um projeto com o ex-governador Iris Rezende, reforçando a aliança nacional PT-PMDB, também é uma prioridade do partido. O sr. entende que dessa forma?
Isso sempre foi prioridade. Sempre disse que nós, aqui em Goiás, temos como prioridade a aliança PT-PMDB. Inclusive, na eleição de 2010, eu era pré-candidato ao governo do Estado e abrimos mão do nosso nome para apoiar o PMDB. Então, isso é uma prioridade. E não só pelo que a direção nacional diz, mas também pelo que nós, daqui do Estado, sempre tivemos essa vontade. Mas, se você estudar bem o que o Rui Falcão disse aqui no dia, respondendo à indagação da imprensa, o que se entende é que “seria” diferente caso Iris fosse o candidato. Quer dizer, se tivesse sido lá atrás. Depois que o processo está em andamento, é outra conversa porque, enquanto não tínhamos um nome e não o estávamos trabalhando, a capacidade de articulação política e de gestar um acordo é maior. Depois que você já está em campo, com um nome que tem receptividade e, ao mesmo tempo, percebemos uma grande divisão interna dentro do PMDB, é difícil falar nessa unidade, nesse momento.
Em relação as chapas proporcionais, como vocês tem trabalhando isso?
Temos tido uma receptividade muito grande em nome do Antônio Gomide em relação às chapas proporcionais. Em todos os encontros estamos recebendo manifestações de apoio e de disposição de lideranças a se apresentarem como candidatos a deputados federal e estadual justamente pela nossa candidatura. Eu trabalho para que o PT posta disputar essas eleições buscando o máximo possível de candidaturas do partido, isso vai dobrar nossa partição no Congresso e na Assembleia.
O sr. conseguiu votos em 2010 suficientes para sua vaga. O PT trabalha na possibilidade de uma chapa própria para deputado federal podendo fazer duas vagas sem depender de suplência e das alianças?
O PT já teria feito isso na eleição passada. Nessa eleição o quadro politico mudou para melhor e nos temos condições de fazer. Evidentemente que vamos conversar com os partidos. Vamos fortalecer o nome de Gomide e buscar alianças. Estaremos abertos e sensíveis a população e, também, estamos conversando com grandes partidos. A aliança com o PMDB é importante, mas, para ganhar, não é suficiente uma aliança apenas com o PMDB. É preciso mais partidos. Antônio Gomide está disposto a conversar e estamos buscando isso com lideranças. O que temos percebido nessas reuniões é que os políticos preferem fazer uma alianças, para deputados estaduais, com os partidos menores e, para deputado federal, com os partidos maiores. Mas isso ainda vai depender de mais reuniões.
O PMDB acaba agregando nesses encontros todos os outros partidos menores da oposição, como PC do B e PTN. Quais partidos sobrariam para vocês?
Vamos buscar apoio. Nosso desejo é a maior unidade possível no primeiro turno. Nós queremos convencer o PMDB de dar essa oportunidade para o PT com a ajuda dele. Goiás já foi governado por várias partidos, mas essa oportunidade não foi dada ainda ao Partido dos Trabalhadores. Quem sabe essa oportunidade chegou. Queremos que o PMDB abra mão da candidatura e nos apoie fazendo parte da chapa majoritária. Caso isso não seja possível, nós estamos conversando com outros partidos para aumentar a aliança. Nos encontros que nós fizemos, nos 13, estiveram presentes várias lideranças, inclusive do PMDB. Lideranças do PC do B, do PDT, PROS, PHS, PTN. Nós queremos convencê-los de que o melhor caminho para disputar e vencer essas eleições é o nosso, que rompe com candidaturas tradicionais. Um nome que se apresenta como novo, não apenas no nome, mas novo na prática política também.
O sr disse que, no pronunciamento do Rui Falcão, caminhar com Iris era possível, mas ficou mais difícil. Hoje, o PT apoiar o PMDB é algo impossível?
Não, essa discussão ainda está em aberto. Mas eu não tenho dúvida que a partir do momento que o PT lançou seu candidato e teve uma receptividade muito boa, cada vez mais essa possibilidade se distancia. Nosso projeto é convencer o PMDB a nos apoiar. Temos que respeitar as instâncias partidárias para ter essa resposta.
A Tribuna fez duas pesquisas, em Aparecida e em Rio Verde. Como o sr viu esses números?
Nós estamos muito atentos às pesquisas e a temos como um instrumento importante para fazer o planejamento do nosso trabalho. Nesse momento, nos interessa medir a realidade de um município antes da apresentação do nosso pré-candidato e avaliação depois que a gente passar por lá. Nosso candidato ainda não passou por Aparecida, nem Rio Verde. Então, temos que esperar uma nova pesquisa para avaliar e pensar no próximo passo. Essas pesquisas apesentadas mostram que o nível de conhecimento do nosso candidato ainda é bem inferior aos outros.
Surpreende o nível de rejeição do Iris Rezende que é muito baixo?
Eu sempre fui um admirador do Iris. Vejo que ele é um aliado importante nesse processo político. Ele tem credibilidade e o seu eleitorado próprio, por isso temos interesse em tê-lo ao nosso lado. Achamos fundamental que tenhamos o apoio e a participação do PMDB, principalmente de Iris Rezende, seja no primeiro ou no segundo turno.
A eleição de um nome da oposição, hoje, passa por Iris Rezende? O que ele significa para a oposição?
Passa pela maior unidade possível da oposição. Eu tenho falado isso desde 2010. A oposição tem todas as chances de ganhar as eleições estando unida. Claro que, se for possível, no primeiro turno. Caso não seja viável, no segundo deve estar completamente unida. Dentro dessa unidade, o PMDB e Iris Rezende são muito importantes.
Em relação a deputados estaduais, o projeto é dobrar?
O PT, hoje, tem quatro e minha visão é irmos para oito. Também queremos eleger três deputados federais.
O PT consegue os votos sozinho ou precisa de uma aliança forte?
Na eleição passada o PT foi pra eleição de deputado estadual com chapa própria e elegemos quatro nomes. Este ano, temos lideranças expressivas de todas as partes do Estado. Tudo isso vai depender da estratégia eleitoral que estamos conversando. O PT tem condições de fazer sozinho.
O projeto da base aliada de Marconi Perillo se esgotou?
É um projeto que deveria ter sido encerrado na última eleição. A eleição depende de muitos fatores. Eu acho que já poderíamos ter ganho. E, nessa eleição, as chances da oposição serão maiores. Da mesma forma que as chapas da oposição ainda estão em aberto, na situação também existe essa dúvida. O governador tem tempo para refletir e ver qual o posicionamento da oposição. Se confirmarmos nossa candidatura, isso vai levar o governador a refletir ainda mais sobre a possibilidade de ser ou não candidato.
Em relação ao eleitorado de Anápolis, o sr. acha que o eleitor poderia caminhar com outro nome se PT apoiar o PMDB?
O PMDB tem tido uma dificuldade histórica em Anápolis e no Entorno do DF. Isso facilitou a vida do governador. Por isso digo que, confirmando nossa candidatura, isso vai criar mais dificuldade ao PSDB.
O PT teria outros nomes para indicar para vice, por exemplo?
Claro. Essa é a melhor fase do PT. Foi o partido mais votado nas eleições de 2012 no Estado de Goiás. Temos muitas lideranças que podem cumprir essa tarefa. Mas essa discussão não está na pauta. Vamos disputar a eleição majoritária e essas vagas estão sendo discutidas com os partidos que vão nos apoiar.