A filiação do vice governador José Eliton Jr ao PP foi o fato político mais importante dos últimos dias. Nesta entrevista, originalmente publicada no Tribuna do Planalto, ele fala do evento e do interesse do novo partido dele enfrentar a disputa de 2018 para o governo de Goiás
Leia a entrevista realizada por Filemon Pereira, Eduardo Sartorato e Daniel Gondin:
Na quinta, 6, o vice-governador José Eliton finalmente oficializou a sua filiação ao PP. Em evento que contou com mais de 2,5 mil pessoas, Eliton foi afagado por prefeitos, vereadores, deputados, lideranças nacionais do partidos, além do governador Marconi Perillo. Nesse contexto, o novo pepista comemora a sua nova casa e diz que o partido pensa grande. Além de se manter na chapa majoritária da base aliada no ano que vem, José Eliton revela que o PP tem projeto para conquistar o governo em 2018. Ele, inclusive, não esconde que é o seu projeto político pessoal para o futuro. Tudo isso com muito diálogo: “Farei o trabalho para que em 2018 essa seja uma condição natural”. Em relação ao governo, José Eliton acredita que as pessoas já começam a perceber as obras pelo interior e que este provavelmente é o melhor momento desde o início, em 2011. O vice-governador José Eliton recebeu a equipe da Tribuna em sua residência na quinta, onde concedeu a entrevista a seguir.
Tribuna do Planalto – Como foi a articulação que levou o senhor a se filiar no PP?
José Eliton – A primeira questão que foi avaliada foi a da natureza ideológica. Eu tenho no PP um partido que me traz um conforto do ponto de vista intelectual, das teses que eu defendo. Esse foi o primeiro fator. Depois, não teria como eu me filiar sem discutir com as lideranças políticas. Eu não seria bobo a ponto de vir para uma filiação indicado pelo diretório nacional, por autoridades que não tem relação com o Estado. Diante disso, tive um diálogo com o presidente Roberto Balestra sobre diversos aspectos, como o projeto do partido para o futuro. Esse diálogo foi avançando, ele oficializou o convite, que também foi formalizado pelo deputado Sandes Júnior, mas isso ainda não era suficiente para essa decisão. Depois, tive um encontro reservado com diversos prefeitos e tive a manifestação de todos eles, de vice-prefeitos, de vereadores, que, naturalmente, representavam todos os filiados do partido. Isso foi decisivo, assim como o diálogo com o senador Ciro Nogueira (PI), que representa a direção nacional da sigla. Em 2014 ser partícipes do projeto de reeleição do governador Marconi Perillo, buscando espaço entre os partidos da base para a eleição de 2018.
O PP é base da presidente Dilma. Como fica essa situação?
Trato com muita tranquilidade, porque antes de me filiar ao PP eu tive um diálogo franco com o Ciro Nogueira e coloquei minhas posições e minha maneira de enxergar a política, especialmente as práticas políticas nacionais. Ele destacou que o PP compõe a base da presidente Dilma, mas que é um partido que libera suas bases. Provavelmente, em 2014, o PP deve marchar com o governo federal em uma aliança formal ou informal, mas nos Estados o partido é liberado para formatar suas composições. Nós temos muito mais afinidade com o senador Aécio Neves (PSDB) numa disputa presidencial. Ele não colocou qualquer objeção a isso, o que foi fundamental na minha decisão. Essa questão não me traz nenhum desconforto, tanto é que continuo a defender minhas posições, fazendo críticas ao PT tanto na gestão do ex-presidente Lula quanto na gestão da presidente Dilma.
O trabalho do partido será para mantê-lo na vice-governadoria?
O trabalho do PP é, primeiro, ajudar o governador a cumprir todos os compromissos apresentados aos goianos em 2010. É ajudar a elaborar o projeto de governo que vai fazer com que Goiás continue avançando em políticas públicas que foram bem sucedidas e corrigir os equívocos daquelas que não obtiveram os resultados esperados. É discutir com os demais partidos um projeto consistente para Goiás e, nesse processo, lá em 2014, vamos discutir quais os perfis que possuem melhor condição de levar esse projeto à população. Acho que essa discussão em torno de nomes não é adequada, ela tem de ser feita em torno de ideias. Claro que o partido tem excepcionais quadros para ocupar qualquer uma das vagas da chapa majoritária ou qualquer um dos assentos nos diversos parlamentos, mas é preciso acima de tudo defender ideias e projetos. Vamos trabalhar para sermos protagonistas do processo sucessório em 2014. Do ponto de vista pragmático, o partido tem o terceiro maior tempo de TV entre os partidos da base, tem um número significativo de prefeitos, de vice-prefeitos e vereadores e está em 243 municípios, o que poucos partidos em Goiás tem.
O PTB também mostra interesse em ter a vice e indicar o presidente da Saneago, José Gomes, que esteve na sua filiação e o elogiou. O sr. ficou surpreso?
O PTB é um grande partido, que tem quadros excelentes e que tem legitimidade para discutir a composição da chapa majoritária. Isso é natural. O José Gomes esteve lá como auxiliar do governo e falou em nome de todos os auxiliares. Ele é um amigo particular que tenho, que tem uma trajetória muito forte. Essa questão, porém, não me traz nenhum tipo de desconforto. Até o presente momento, ele está filiado ao PP e espero que ele permaneça no partido. Evidentemente, sabemos que ele já tem um diálogo adiantado com o PTB, saberemos respeitar se ele efetivamente tomar a decisão.
O sr. fala que é antecipado discutir nomes agora. Qual o período que isso deve ser discutido?
Temos uma data limite, que é 30 de junho de 2014. É claro que a candidatura do governador surge como natural dentro da base. É uma liderança consolidada, que tem respeito de todos os partidos. Agora, candidatura é também uma questão de foro íntimo. Ele é que vai tomar essa decisão, e essa discussão de nomes é prematura. Nunca vi o governador dizer que é candidato, nós é que o estamos lançando, pois achamos que ele é importante para o processo político. Essa questão, porém, deve ser definida ano que vem.
A um ano das convenções, o governador não disse que será o candidato, mas, na possibilidade dele não querer, o sr. está preparado para liderar essa discussão?
Nós da base não trabalhamos com essa alternativa. Cabe uma reflexão de foro íntimo do governador, mas, para os partidos que compõem a base, há uma uniformidade de pensamento de que Marconi é o melhor candidato para representar o projeto da base em 2014.
O DEM entrou com pedido para cassação do mandato do sr. por julgar que a mudança para o PP é infidelidade. Como o sr. vê essa situação?
Até essa data eu ainda não fui citado. Essa questão deve ser discutida pelo Judiciário, e tenho segurança jurídica acerca da decisão que tomei. Há precedentes da Justiça Eleitoral que defendem a tese, e ainda que não houvesse, haveria a justa causa para a filiação com relação à desfiliação de natureza pessoal. Isso é fato público e notório, todos vocês da imprensa conhecem o que aconteceu ao longo do último um ano e meio. Penso que Goiás todo sabe dessa questão e não me cabe discutir. Para mim, me preocupa é consolidar o projeto do PP. Eu faço política para construir, não para destruir.
O secretário Vilmar Rocha coloca-se à disposição para o Senado. Nesse caso, o sr. acha que foi prematuro também?
Coloquei a minha forma de enxergar esse tema. O Vilmar Rocha tem toda legitimidade para avançar no processo de consolidação, avaliando as condições sobre a ótica do partido e dos projetos pessoais dele. Cada um tem um perfil que tem que ser respeitado, acho que é legítima a postulação.
Nessas discussões sobre chapa, uma das acusações feitas é de que o sr. não tem votos. Como o sr. avalia esse tipo de crítica?
Não conheço ninguém que tenha mais de um voto. O sujeito só pode ter o dele. Ou será que o sujeito tem condições de falar que manda no voto da mulher? Ele tem a capacidade de dialogar, de convencer. Alguns têm a trajetória, uma história que mostra que eles conseguiram convencer muitas pessoas. Estou fazendo meu trabalho e, até 2010, nunca tinha sido político. No dia que, eventualmente, eu for candidato a algum cargo eletivo no qual as pessoas precisam votar diretamente em mim, nós saberemos o resultado. Eu tenho, porém, a felicidade de ter muitos amigos. Acho que a solenidade de hoje (quinta, 6) demonstrou isso, com mais de 100 prefeitos, mais de 2.500 pessoas que, com certeza, não estariam lá se não fossem amigas e não acreditassem em mim. Outros tentaram isso e não conseguiram.
O sr. assumiu o governo sete vezes e sempre aproveitou para participar diretamente da administração com viagens, visitas a obras. É uma forma de construir um projeto politico?
Cada um tem seu estilo. Eu já tinha conversado com o governador desde que assumi o governo pela primeira vez. Acho que ao se assumir uma função, tem que se assumir por inteiro, não pela metade. Quando há um tema mais delicado nesse período em que assumo, obviamente contato o governador, discuto com ele, exponho minhas posições e chegamos a uma posição conjunta e harmônica.
Como o sr. avalia o governo e como o sr. imagina que o governo chega até o período eleitoral do ano que vem?
Este é um dos governos mais realizadores. As pessoas, às vezes, não viram o processo de reconstrução do Estado. Em 2011, quando assumimos o governo, tínhamos um desequilíbrio fiscal e financeiro, duas folhas em atraso, estávamos devendo quase 400 milhões, a Celg praticamente fechada, o Ipasgo de portas fechadas, a database não era respeitada, o piso nacional não era pago aos profissionais da Educação. Dois anos e meio depois, temos os salários dos funcionários pagos em dia, a database renegociada, em um processo de dificuldade, mas em negociação agora, o piso nacional dos professores é pago, o Ipasgo deixou de ser deficitário e passou a ser superavitário. Sobre a Celg, fizemos um acordo com a Eletrobrás, ou seja, reconstruímos as estruturas do Estado. É claro, sabemos as dificuldades financeiras para o custeio da máquina, as receitas são cada vez menores para os estados, mas temos muitos recursos para investimento. É justamente por isso que o Estado observa hoje o resgate dos compromissos. Estamos reformando, simultaneamente, 780 escolas. Toda a frota de segurança pública foi modificada. Na área da saúde, assumimos o desafio de transferir a gestão hospitalar para as organizações sociais (OS) e, hoje, os hospitais da rede estadual têm alto índice de aprovação pelos usuários. Na área de infraestrutura, estamos desenvolvendo o maior programa de pavimentação do governo do Brasil. Temos 70 frentes de serviços espalhadas em Goiás, R$ 1,5 bi investidos em saneamento básico, vamos universalizar várias cidades com o fornecimento de água tratada e esgoto. O Credeq começou a ser construído, o hospital da região Noroeste está em obras, os viadutos da região metropolitana. São avanços muito importantes.
“Estou me preparando para daqui cinco anos assumir o governo”
Em relação ao orçamento do estado, também há a questão da folha, que bate a casa dos 60%. O governador, inclusive, está estudando um projeto da diminuição dos comissionados. Até que grau, na sua opinião, deve ser essa diminuição?
Esse é um problema crônico. A folha de pagamento representa uma parcela significativa no custeio da máquina. É uma questão que precisa ser revista. Nós temos fontes de vinculação de receitas para a saúde e a educação, mas não temos vinculação de receitas para a segurança pública. É uma questão que precisa ser analisada no ponto de vista de Federação. Não é uma questão localizada em Goiás. É preciso analisar e estudar instrumentos. A Secretaria da Fazenda e a Casa Civil já estão fazendo esses estudos, no sentido de tentar equalizar essa questão, de modo a não ultrapassar os limites prudenciais de gasto com a folha de pagamento.
Mas hoje há uma gordura nessa folha de comissionados? Dá para cortar e manter o serviço do estado?
As informações que me são repassadas é que os comissionados têm uma parcela, mas não é significativa. Precisa ser revista toda a estrutura da folha. Temos uma folha salarial que, em determinadas áreas, é significativamente uma das mais altas do país. A Polícia Militar em Goiás, por exemplo, recebe a segunda melhor remuneração do país, só perde para a PM do Distrito Federal. Você inclui também as despesas com a folha do Poder Legislativo e do Poder Judiciário, que também têm salários acima da média. E isso, naturalmente, causa impacto em todo o custeio de pessoal.
Como isso poderia ser resolvido?
Não existe passe de mágica. Deve-se trabalhar o aumento de receita, para criar instrumentos que possam garantir esse aumento de receita, buscar e dar uma inteligência melhor nas questões normativas com relação ao crescimento vegetativo da folha. Já está sendo estudado a parametrização da folha em Goiás. O estado de Minas Gerais, por exemplo, conseguiu reduzir em 2% o valor da folha, o estado de São Paulo, em 3%. Estamos analisando o que é possível ser construído através dessa metodologia e assim vamos tentar criar comissões para diminuir.
O deputado Roberto Balestra disse, há algum tempo, que o PP deveria se preparar para ter o governador de novo. O PP é hoje um partido que tem esse projeto de ter um governador, de voltar ao Palácio?
Não tenha a menos dúvida disso. Vamos trabalhar para consolidar a reeleição do governador Marconi Perillo e vamos trabalhar um projeto para que em 2018 o PP busque dialogar com os partidos da base, visando construir uma alternativa efetiva para uma sucessão. Essa é uma situação que já foi destacada pelo deputado Roberto Balestra, pelo deputado Sandes Júnior, pelo senador Ciro Nogueira e por mim recentemente. Mas sem imposição. Não posso chegar e falar “sou o candidato”. Deve-se discutir e construir. Acho que sempre o processo negociado, o processo de convencimento é importante.
O sr. tem consciência de que, sendo mantido na chapa, e ela sendo vitoriosa, o sr. é um nome que ganha força para 2018?
Vou trabalhar muito para isso. O que não vou trabalhar é com intransigência. Farei o trabalho necessário para que em 2018 essa seja uma condição natural. Tudo tem seu tempo, sua hora e sua forma.
O sr. disse que a base aliada quer o governador como candidato a reeleição, enquanto percebemos uma oposição um tanto fragmentada. Como o sr. vê esse cenário?
Tenho dificuldade em me manifestar sobre um campo que eu não tenho legitimidade para tanto. O que acho que até agora me parece evidente é que não há discussão no campo dos partidos que compõem a oposição acerca de ideais e projetos. Posso até estar equivocado, mas até agora não vi nenhuma discussão acerca de um efetivo projeto que venha apontar rumos diferentes dos que estamos tomando, ou venha apontar soluções para os problemas que. Só vejo discussão de nomes. Um diz que quer ser candidato porque é da equipe e tem dinheiro, outro porque foi empresário, outro diz que é seu sonho. Mas nunca vi uma discussão mais profunda. Na base aliada, já temos um projeto e já o estamos discutindo.
“Nosso maior desafio foi a reconstrução do Estado”
O projeto a ser levado em 2014 é a continuidade do que tem sido feito ou o sr. acha que é possível que a base avance e proponha algo diferente?
Li em uma entrevista que quando o político começa a olhar no retrovisor, ao invés de olhar para frente, começa a encerrar sua atividade. Então, é preciso apresentar propostas que sejam consistentes para atender as demandas da sociedade. Já temos, em função do próprio exercício do governo, uma visão muito clara das demandas regionais, que são diferentes em cada parte do Estado. Acho que nosso maior desafio nesse governo foi a reconstrução do Estado enquanto instituição.
O sr. avalia que a população enxerga isso, que é um governo de reconstrução?
Essa é uma questão difícil de avaliar sem uma pesquisa de opinião pública. Não tenho dados de pesquisa. O que me parece que a população está enxergando agora, realidade que sinto quando visito os municípios. O governo vive, ao longo desses dois anos e meio, talvez seu melhor momento. Quando você vai ao interior, a forma como as pessoas e as lideranças políticas te recebem já é com um olhar diferente, de quem está vendo as coisas acontecerem. Mas não tinha como as coisas acontecerem se a máquina estatal não tivesse sido consertada.
Nos primeiros anos a realidade no interior não era essa?
Era diferente. As pessoas ficavam, e com razão, indagando onde estavam as realizações e as questões que foram levantadas no processo eleitoral. Você tinha que fazer um discurso de preparação do terreno, para mostrar que as coisas estavam sendo feitas. Mas as pessoas tinham dificuldade de visualizar. Hoje não. Quando você vai em Uruaçu, as pessoas já estão enxergando a construção do Hospital Regional, as pessoas estão enxergando as máquinas trabalhando de Uruaçu a Niquelândia. Quando você vai em São Miguel do Araguaia, há máquinas trabalhando de lá até Porangatu.
O sr. vai buscar o DEM, ou sua base, como aliado? O sr. espera que essa base do partido ainda esteja no projeto do governador Marconi ?
Como disse, sou uma pessoa de construção. Nunca fecho porta para ninguém e acho que o diálogo é sempre importante, assim como buscar reencontros e entendimentos. Da minha parte, as portas nunca estarão fechadas. É preciso saber é se o partido quer discutir isso.
O sr. foi presidente da Celg durante o primeiro ano. O sr. tem vontade de assumir algum outro cargo?
Estou me preparando para daqui a cinco anos assumir o governo de Goiás (risos). Mas, se o governador precisar, sim.
Como o sr. vê essa questão da Celg hoje?
Delicado, mas não do ponto de vista financeiro, e sim do ponto de vista de investimentos. Quando foi formalizado o acordo da Celg, está pactuado um porte de R$ 1 bilhão, para realizar os investimentos necessários. É importante lembrar que, em março de 2011, quando estava na presidência, apresentei um plano de investimento que era essencial não só para a recuperação do sistema elétrico existente, mas a ampliação desse sistema para atender à crescente demanda de Goiás. Recentemente, o governador esteve com o ministro Edson Lobão, onde ficou pactuado R$ 300 milhões para investimentos. Se esse aporte se confirmar, e me parece que está tudo encaminhado, aí a Celg passa para um novo ritmo.