O ensino superior brasileiro estagnou em 2016. O volume de alunos matriculados em faculdades e universidades do país foi praticamente o mesmo do ano anterior. O total de novos alunos em cursos presenciais caiu.
No ano passado, o país registrou 8,05 milhões de alunos em cursos de nível superior (presencial e a distância), contra 8,03 milhões em 2015. Uma variação de apenas 0,2%.
A ampliação no total de alunos já havia desacelerado em 2015, quando as matrículas cresceram só 2% com relação ao ano anterior. Comportamento que não era tão ruim desde 2009.
Mas essa estagnação registrada em 2016 indica o pior cenário de matrículas pelo menos desde 2006. De 2006 a 2015, o total de alunos cresceu, na média, 6% ao ano.
Os dados são do Censo da Educação Superior de 2016, divulgados pelo MEC (Ministério da Educação) nesta quinta-feira (31).
A queda no número de novos alunos de cursos presenciais é preocupante. Em 2016, ingressaram no ensino superior 2,14 milhões de alunos, 4% a menos do que no ano anterior. É o segundo ano consecutivo de recuo em novas matrículas presenciais.
Essas reduções ocorrem na esteira da crise econômica e desemprego. O enxugamento do Fies (programa de Financiamento Estudantil), promovido nos governos Dilma Rousseff e Michel Temer, também impactaram nos resultados.
O ministro Mendonça Filho (DEM-PE) afirmou em entrevista coletiva nesta quinta (31) que a crise é o principal fator para a estagnação e negou que as mudanças do Fies tenham tido impacto nos dados.
“As mudanças introduzidas estão sendo pensadas para 2018, então não houve qualquer impacto com relação ao novo Fies”, afirmou ele.
Já a secretária-executiva do ministério, Maria Helena Castro, culpa as reduções feitas no Fies em 2015, durante o governo Dilma Rousseff. “Nós estamos carregando um problema desta época”, afirmou.
A quantidade de alunos que se formaram teve leve aumento. Passou de 1,15 milhão em 2015 para 1,16 milhão em 2016, considerando as modalidades presencial e a distância.
Apesar de ainda concentrarem 75% do total de matrículas no ensino superior, as instituições privadas registraram leve queda no número de alunos no ano passado. O total passou de 6,07 milhões para 6,05 milhões (recuo de 0,2%, o que mostra uma estagnação).
“A crise econômica limitou que muitos jovens pudessem buscar matrículas em universidades privadas”, afirmou Mendonça Filho.
Ele diz, no entanto, que a estagnação não vem como surpresa e que o país teve “aumento razoável” no número de matrículas e defendeu que a reforma do ensino médio ajudará a conter taxa de evasão, e aumentará o número de alunos no ensino superior.
O total de alunos da rede pública passou de 1,95 milhão para 1,99 milhão. Um avanço de 1,9%.
Após ter recuado em 2015, o ingresso de novos alunos em cursos a distância disparou em 2016. Entraram em graduações dessa modalidade 843 mil novos alunos, maior volume de ingressantes já registrado em um mesmo ano.
“É uma tendência não só do Brasil, mas mundial”, afirmou o ministro. “Não pode ser uma briga entre o presencial e o à distância, tem que haver uma complementariedade.”
Do total de 8,05 milhões de alunos do ensino superior, 1,49 milhão estão em cursos não-presenciais. Essa modalidade já representa 18,6% do total de alunos. Em 2006, eram 4,2%.
Para o professor Joaquim Soares Neto, da UnB (Universidade de Brasília), a alta nas matrículas do ensino a distância é também reflexo da crise.
“Na medida em que há redução do Fies, quem quer estudar e não tem recursos está procurando outro caminho, como o ensino a distância”, diz ele, membro do CNE (Conselho Nacional de Educação). Neto ainda ressalta a importância de expansão do financiamento estudantil para garantir o acesso das famílias mais pobres ao ensino superior.
Os resultados do ensino superior apontam dificuldades para o país elevar o percentual de jovens que conseguem chegar ao ensino superior. A partir de dados de 2015, apenas 18,1% dos jovens de 18 a 24 anos estão na educação superior. A meta do PNE (Plano Nacional de Educação) é chegar a 33% em 2024. (Folhapress)