O deputado federal Thiago Peixoto (PSD-GO) promoveu um debate, na quarta-feira (10/5), em Brasília, sobre arte urbana e grafite na Comissão de Cultura da Câmara dos Deputados (CCult). Entre os principais pontos destacados por artistas e especialistas, levantou-se a possibilidade de realização de um evento nacional sobre arte de rua ainda este ano em Brasília e a avaliação sobre mecanismos que possibilitem que a Lei Rouanet possa ser usada para financiar o setor de maneira mais efetiva.
Presidente da CCult, Thiago teve a ideia de trazer a arte urbana para marcar posição no colegiado, por considerá-la fundamental na realidade atual. “A arte é filha do seu tempo. E uma das expressões mais ricas de nosso tempo, sem sombra de dúvidas, é a arte urbana. Além da beleza, ela traz em si várias representações e significados. Portanto, nada mais correto do que trazermos esse tema para o debate nacional aqui no Congresso”, disse o parlamentar.
O assunto se destacou no início deste ano por conta de polêmicas relacionadas com o prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), que liderou uma ação que acabou retirando dos muros da capital paulista vários painéis e murais grafitados. Recentemente, situação parecida se passou na Universidade de Brasília (UnB) por determinação da reitoria. “Ao agir assim, a UnB perdeu a oportunidade de fazer um debate importante. Deixou de ser uma universidade para ser apenas um lugar. Deixou de ser um espaço de discussões para se tornar apenas um depósito de coisas”, destacou o professor da instituição, Pedro Russi, autor do livro “Paredes que falam: as pichações como comunicações alternativas”.
Além do pesquisador, que defende pichação e grafite como expressões artísticas, também participaram da audiência pública figuras de renome nacional e internacional em arte urbana: Rui Amaral, que foi um dos curadores dos painéis da 23 de Maio, em São Paulo; Binho Ribeiro, também de São Paulo e um dos pioneiros da cultura do grafite na América Latina; Eduardo Aiog, o Carioca, curador do Beco da Codorna, espaço de Cultura ao ar livre no Centro de Goiânia; e Tomaz Viana, conhecido como Toz, responsável pelo maior grafite a céu aberto do Rio, no hotel Marina Palace, no Leblon.
Os artistas destacaram a importância do debate a nível nacional e cobraram uma ampliação dessas discussões. Na audiência pública surgiu a ideia de realizar, ainda este ano, um evento nacional para reunir representantes da arte urbana do Brasil toda. “A Comissão de Cultura pode capitanear a organização deste evento, pode atuar como facilitadora”, antecipou Thiago Peixoto. “Estamos nesse meio há bastante tempo e temos carreiras consolidadas, mas temos que abrir espaço para essa nova geração que chega com sede de se expressar”, disse Rui Amaral.
Os artistas ressaltaram que a arte de rua é uma ferramenta importantíssima de inclusão social. “É uma expressão artística que vai em lugares onde outras formas de arte não chegam até porque ela também é formada ali. É uma coisa muito viva e vibrante”, explica Eduardo Aiog. Toz sugeriu que fosse criada alguma ferramenta de fomento à atividade. “Podemos pensar em adaptar a Lei Rouanet para algum aspecto relacionado com arte urbana. Esta legislação está passando por atualizações e podemos, muito bem, pensar em atender essa demanda”, ressaltou Thiago.
O parlamentar reconheceu a importância desse incentivo oficial. “Normalmente o poder público vê a arte de rua sempre no sentido de limitar, de proibição. Precisamos mudar essa lógica e passar a enxergar meios de incentivar”, afirmou o presidente da Comissão de Cultura. O artista Binho salientou que o incentivo é importante até para usar todo o potencial da arte urbana para ajudar na reconstrução do País. “Há uma expressão de revolta na arte de rua, pode ter uma força até destrutiva, mas isso pode ser facilmente revertido para um poder de construção. O grafite tem um forte pode de transformação”, concluiu.
Pintura ao ar livre
Após o encerramento da audiência pública, os quatro artistas pintaram painéis de grafite no gramado dos fundos da Câmara dos Deputados. Em poucos minutos, as obras de arte estavam finalizadas. “Eles deram uma apresentação ao vivo de como são artistas reconhecidos no Brasil e internacionalmente. Eu já era fã da arte de rua e me tornei ainda mais aficionado. No que depender de mim, pretendo inserir cada vez mais esse tema no debate nacional”, explicou Thiago Peixoto.