Publicidade
Categorias: Variedades
| Em 6 anos atrás

Thiago Lacerda pediu papel em ‘Terra Nostra’, mas nem sonhava em ser o protagonista Matteo

Compartilhar

Thiago Lacerda tinha 20 anos, ainda não era conhecido do grande público e fazia um papel de pouco destaque em “Pecado Capital” (Globo, 1998) quando ouviu pelos corredores do estúdio de gravação que a emissora preparava “a novela do século”.
Era “Terra Nostra”, produção da Globo de 1999 sob o comando da dupla Jayme Monjardim e Benedito Ruy Barbosa, responsável pelo sucesso “Pantanal” (1990), da Manchete. Havia, ainda, Raul Cortez (1932 -2006), Antonio Fagundes e Ana Paula Arósio, que havia feito sucesso um ano antes em “Hilda Furacão”, no elenco.
Lacerda, agora com 41 anos, conta que, na ocasião, até imaginou que seria legal fazer parte da trama, mas nem passava por sua cabeça a possibilidade de ser o protagonista. Para viver Matteo, o imigrante que deixa a Itália em busca de melhores condições de vida no Brasil e se apaixona por Giuliana (Ana Paula Arósio), o ator diz acreditar em uma combinação de sorte, destino e vontade.
Cerca de 15 dias depois de ouvir sobre a tal “novela do século”, Lacerda afirma que teve um “insight” e resolveu procurar no Projac (atualmente Estúdios Globo) o lugar onde ficava a produção da trama. Foi perguntando “aqui e ali”, até que achou o local. Ao entrar, ele conta que se deparou com Mariana Lobo, produtora de elenco, e disse: “Ouvi falar muito bem dessa novela, meu nome é Thiago, queria muito fazer um teste, participar, estar com vocês. Rola?”.
Mariana contou, então, que já tinha pensado nele para ser o par de Ana Paula, ao que o ator respondeu: “Não, não precisa tanto, pode ser um papel qualquer.” Após os testes, porém, o diretor Monjardim não teve dúvidas de que Lacerda era ideal para a missão.
Matteo se tornou um marco na carreira de Lacerda. “Quando peguei o papel, pensei: ‘Vou meter a cara e não vou deixar essa oportunidade passar’. Eu lembro da sensação de saber que a novela ia mudar a minha vida e de que eu precisava trabalhar muito para dar conta.”
Agora, 20 anos depois, “Terra Nostra” será reprisada pelo Viva a partir desta quinta-feira (28), em dois horários: às 14h30 e à 0h45, no lugar de “Baila Comigo” (Globo, 1981). Lacerda quer assistir à reestreia no canal. “Fiquei muito curioso para saber como vai ser ver a novela 20 anos depois.” 
O ator lembra que o seu grande desafio na época foi o pouco tempo que teve para conseguir se preparar para o personagem. Foram exatos 23 dias. “No final das contas, a gente percebeu que nesse tempo, eu não ia aprender italiano, não ia aprender a tocar gaita, não ia aprender a dançar a tarantela. E o que eu tinha que fazer em 23 dias era aprender a enganar as pessoas que eu sabia fazer tudo isso”, conta, aos risos. 
Outro complicador era o volume de cenas que ele tinha para decorar e gravar. Para os padrões atuais, “Terra Nostra” é considerada uma novela longa. Ficou no ar por pouco mais de oito meses e teve 221 capítulos. A última da trama da faixa das nove da Globo, “Segundo Sol” (2018), teve 155 capítulos, por exemplo. 
O Viva, no entanto, vai exibir a versão internacional de “Terra Nostra”, com 150 capítulos. A escolha se dá por conta de questões de direitos autorais, especialmente em relação à trilha sonora da obra. É mais do que a versão apresentada no Vale a Pena Ver de Novo, da Globo, em 2004, que teve 106 episódios.
NOVELA DO SÉCULO
Como afirmou Lacerda, “Terra Nostra” de fato foi pensada pela Globo de forma superlativa. Só para os primeiros capítulos, foram confeccionadas 4.000 peças de figurino, entre roupas e acessórios. Outro destaque foi o navio usado no início da trama, em que Matteo, Giuliana e outros italianos embarcaram para vir ao Brasil.
Chamado de Andrea 1º na história de Benedito Ruy Barbosa, o vapor na verdade foi encontrado pela equipe da Globo no sul da Inglaterra e tinha outro nome, era o S.S. Shieldhall. Construído em 1940, o navio teve de ser adaptado para servir de cenário para a trama.
Segundo o projeto Memória Globo, as cenas do embarque e da travessia foram realizadas na mesma cidade inglesa de onde partiu o Titanic, em 1912: Southampton. Cerca de 50 profissionais (produção, elenco e equipe técnica) e 300 figurantes participaram das gravações. Aliás, algumas cenas do romance entre Matteo e Giuliana durante a viagem ao Brasil lembravam muito o filme “Titanic”, sucesso mundial de 1997, estrelado por Leonardo DiCaprio e Kate Winslet. 
A Globo também reproduziu trecho da avenida Paulista do início do século 20 dentro do Projac. Inicialmente, o folhetim fez grande sucesso e chegou a alcançar 58 pontos de pico de audiência na Grande São Paulo em seu primeiro mês. A média final, porém, ficou em 44 pontos. 
Uma crítica feita na época foi que, em determinado momento, nada acontecia na novela e a história ficou arrastada, a tradicional “barriga”. Questionado se “Terra Nostra” faria sucesso se fosse feita nos dias de hoje, já que as novelas atuais costumam ter um ritmo mais acelerado, Lacerda acredita que, sim, porque a história era boa.
“Claro que você não pode enxergá-la ignorando o fato de que é uma novela que foi feita há 20 anos. As coisas mudaram. O que não muda é que o público gosta de história boa. E o mais poderoso de ‘Terra Nostra’ é que é uma ‘puta’ história legal, de personagens muito interessantes, muito humanos.”
Além de Lacerda e Ana Paula Arósio, outro destaque da trama foi Maria Fernanda Cândido, que interpretou a imigrante italiana Paola. Em sua estreia em novelas na Globo (ela tinha feito antes a abertura de “A Indomada”, de 1997), a atriz ganhou o público ao viver um romance com o personagem de Raul Cortez, o banqueiro Francesco.  (KARINA MATIAS, SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)

Publicidade
Publicidade
Domingos Ketelbey

Jornalista e editor do Diário de Goiás. Escreve sobre tudo e também sobre mobilidade urbana, cultura e política. Apaixonado por jornalismo literário, cafés e conversas de botequim.