Leitora de clássicos da literatura brasileira, a estudante Caroline Marson Dal Mas, 19, tirou nota mil na prova de redação do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) 2016.
Moradora de Veranópolis, cidadezinha na serra gaúcha, Caroline é uma das 77 pessoas que tiraram a nota máxima na redação do Enem entre 6,1 milhões de candidatos no total. O número de notas máximas vem diminuindo: em 2015 foram 104 e, em 2014, 250.
A estudante, que quer cursar faculdade de medicina, intensificou o seu hábito de leitura nos últimos dois anos enquanto se preparava para o Enem em um cursinho, em Porto Alegre. Ela se formou no ensino médio em 2014.
Quando criança, a gaúcha gostava de fábulas e frequentava a biblioteca do colégio. Recentemente a jovem descobriu os contos de Clarice Lispector e o “amor pela poesia” com autores como Carlos Drummond de Andrade, Mário Quintana e o português Fernando Pessoa.
Caroline já tinha por hábito a leitura de sucessos comerciais como Dan Brown e Nicholas Sparks, mas, por causa da preparação para o Enem e vestibulares, acrescentou os clássicos e passou a ler mais jornais e revistas “por causa das atualidades”.
A gaúcha prestou a primeira prova do Enem, em novembro, cuja redação deveria dissertar sobre o tema “Caminhos para combater a intolerância religiosa no Brasil”. Por causa das ocupações das escolas, uma segunda prova foi realizada em dezembro sobre discriminação racial.
No seu texto, Caroline defendeu a importância do Estado laico. A jovem explicou à Folha que a laicidade é fundamental para que “não haja interferência religiosa nas diretrizes do governo, garantindo que todos tenham os mesmos direitos e sejam tratados igualitariamente, independente de suas crenças”.
Caroline conta que usou muitas referências históricas, como a vinda da família real portuguesa ao Brasil e os “traços conservadores da sociedade brasileira”, e exemplos de diferentes religiões, da antiguidade à modernidade.
“Há dezenas de novas correntes religiosas que vêm ganhando espaço no território nacional, oriundas da diversidade cultural de nosso povo, motivo pelo qual a intolerância religiosa é cada vez agressiva”, diz um dos trechos da redação de Caroline, recuperado de seu rascunho.
Em outro trecho, a aluna propõe “alteração das diretrizes da cultura brasileira, para que todos tenham acesso à informação e ao contato com a diversidade religiosa, compondo, assim, um amplo potencial crítico e argumentativo que será capaz de garantir o respeito entre as religiões”.
A estudante também citou que 60% do preconceito religioso é contra religiões afro-descendentes e evangélicas. O número, ela diz, é fruto de seu cálculo a partir dos dados apresentados na própria prova.
Desde o ensino médio, Caroline precisa escrever uma redação por semana. A professora Cristiane Zanette, 38, foi professora da garota nos últimos anos, no colégio particular Regina Coeli, de Veranópolis.
Cristiane conta que a leitura é fundamental para escrever bem. Neste ano, diversos de seus alunos tiraram notas acima de 900, alguns chegando a 980. ” Normalmente, um mau leitor não consegue ser um bom escritor”, analisa a professora.
Caroline lembra das aulas de Cristiane: “Ela destacava as competências avaliadas na prova”. Cristiane conta que costuma desenvolver as cinco competências textuais cobradas porque cada uma delas vale 200 pontos. As bancas avaliadoras analisam o domínio da norma culta, compreensão da proposta, seleção e organização de informações e opiniões, estrutura da argumentação e solução para o problema.
Nas aulas, Cristiane apresenta um tema de atualidade com matérias de jornais e vídeos para servir de suporte para os alunos. Um dos assuntos abordados por ela foi o do preconceito, incluindo o religiosos e racial, abordados nas provas. Este pode ter sido um dos motivos que colaboraram com o bom desempenho de seus alunos. Sobre Caroline, a professora é enfática: “O mérito é dela”.
Folhapress