“Ele fez isso em nome do Estado Islâmico. Ele seguiu à risca as instruções do EI nas redes sociais.” John Miller, o chefe de inteligência da polícia de Nova York, descreveu dessa forma a estratégia usada por Sayfullo Saipov no ato terrorista que deixou oito mortos no sul de Manhattan.
De acordo com investigadores, está claro que Saipov, um homem de 29 anos nascido no Uzbequistão e residente legal dos Estados Unidos há sete anos, planejava o ataque há algumas semanas.
Seis pessoas morreram no local do crime, a ciclovia ao longo da rua West, que margeia o rio Hudson, e duas perderam a vida no hospital -cinco argentinos, um alemão e dois americanos. Entre os 20 feridos, uma mulher teve as pernas amputadas e vários continuam em estado grave.
“De agora em diante, vamos considerar todos eles nova-iorquinos”, disse o prefeito Bill de Blasio. “Eles compartilham essa tragédia conosco. Entendemos esse ato como um ataque ao nosso espírito e aos nossos valores, mas ele falhou na tentativa de quebrar o nosso espírito.”
Numa entrevista coletiva na manhã seguinte ao mais letal ataque na cidade desde o 11 de Setembro, autoridades não deram detalhes do que disse o suspeito, baleado na barriga por um policial. No primeiro contato com investigadores ao se recuperar de uma cirurgia no hospital, ele parecia “orgulhoso e alegre”, segundo a rede de TV NBC.
O FBI, a polícia federal americana, agora vai estudar, por meio de câmeras e leitores de placas de carros, todos os movimentos de Saipov nos dias antes de seu atentado.
Embora ele nunca tenha sido alvo de uma investigação da polícia americana, autoridades analisam as ligações dele com outros suspeitos.
Um indício de sua radicalização avançada é o bilhete em árabe jurando lealdade ao Estado Islâmico encontrado na caminhonete usada no ataque.
A polícia diz que ele aprendeu a língua e lia a propaganda do grupo de terror.
O governador de Nova York, Andrew Cuomo, que chamou Saipov de “covarde depravado”, voltou a dizer, no entanto, que o suspeito agiu sozinho e se radicalizou vivendo nos Estados Unidos.
“O que aconteceu não pode ser desfeito. Mas não há nenhuma grande mensagem no que ele fez”, disse Cuomo, lembrando que a segurança em túneis e estações de trem e metrô em Nova York serão reforçadas e que a população não deve estranhar o fato.
Enquanto se recupera do atentado, Nova York também se prepara para receber 2,5 milhões de espectadores para a maratona da cidade neste fim de semana.
A polícia diz que dobrou o efetivo de policiais e ampliou o número de postos de vigilância e o volume de armamento em pontos ao longo do trajeto.
Nas horas seguintes ao ataque, discussões acirradas sobre imigração nos Estados Unidos dominaram o cenário político, com uma troca de farpas entre o presidente republicano Donald Trump e congressistas democratas.
O prefeito e o governador de Nova York também são do partido de oposição ao presidente. Embora o ataque tenha ocorrido a poucas quadras das antigas Torres Gêmeas e foi descrito por ambos como um ataque ao país, Trump não telefonou para conversar sobre o atentado.
“Não me incomoda que ele não tenha telefonado”, disse o governador, Andrew Cuomo. “Mas agora não é a hora de politizar essa questão. Politizar isso é fazer o que os terroristas querem, é nos mostrar incomodados por eles.”
Na Casa Branca, minutos depois, Trump chamou o terrorista de “animal” e disse que os Estados Unidos precisam ser “muito menos politicamente corretos” na questão da imigração, acrescentando que vai detonar um processo no Congresso para revogar o sistema de loteria de vistos pelo qual o suspeito entrou nos Estados Unidos.
“Temos de fazer o que é certo para proteger nossos cidadãos”, disse o presidente. “Jamais vamos fraquejar no nosso direito de defender nossa nação e não vamos nos esquecer das vidas perdidas.” (Folhapress)