O dólar subiu mais de 1% nesta quarta-feira (19), para o patamar de R$ 3,14, enquanto a Bolsa terminou em queda de 1,17%, diante de temores quanto ao futuro da reforma da Previdência.
O mau humor dos investidores aumentou após o o governo não conseguir aprovar no plenário da Câmara dos Deputados, nesta terça-feira (18), a aceleração da tramitação da reforma trabalhista.
Apenas 230 deputados votaram com o governo, com 163 contra. Era preciso o voto de pelo menos 257 dos 513 deputados para que a mudança na legislação trabalhista tramitasse em regime de urgência.
“Com essa derrota, o mercado passou a ver maior dificuldade do governo em aprovar as reformas no Congresso, em especial a da Previdência”, afirma Durval Correa, diretor de câmbio da corretora MultiMoney.
Além disso, o relator da reforma da Previdência, deputado Arthur Oliveira Maia (PPS-BA), fez mais uma alteração significativa no parecer instantes antes da leitura do documento na comissão, nesta quarta-feira. Com a reunião já iniciada, foi divulgada a informação de que ele decidiu reduzir para 57 anos a idade mínima para aposentadoria das mulheres que são trabalhadoras rurais.
As mudanças feitas de última hora pelo relator surpreenderam até os principais aliados do presidente Michel Temer.
Conforme cálculos do Itaú Unibanco, as alterações na proposta original da reforma da Previdência gerarão uma economia menor do que a estimada pelo governo.
Segundo o Itaú, as alterações mantêm 57% da proposta original para a reforma da Previdência, e levarão a uma economia de R$ 431 bilhões, ante R$ 755 bilhões previstos com o texto original, até 2025.
As projeções do governo são de uma economia de R$ 630 bilhões com as mudanças, de um valor original de R$ 818 bilhões, mantendo-se de 70% a 80% do projeto inicial.
“O Planalto segue convencido de que o viés para a reforma da Previdência é de aprovação, e espera-se que, após passar na Câmara, o projeto será bem recebido pelo Senado. Só não há garantia de que tudo será aprovado no primeiro semestre”, escreve a equipe de análise da Guide Investimentos.
Alessandro Faganello, operador da Advanced Corretora, destaca que outro fator que pesou negativamente no mercado foi o recuo de mais de 3% do petróleo no mercado internacional. “Isso contribuiu para aumentar a aversão ao risco e pressionar ainda mais moedas de países emergentes, como o Brasil”, explica.
O motivo para a queda da commodity foi o aumento inesperado nos estoques semanais de gasolina nos Estados Unidos em 1,54 milhão de barris, surpreendendo analistas, que previam um recuo de 2 milhões de barris, conforme levantamento da agência Bloomberg.
O dólar comercial fechou em alta de 1,09%, a R$ 3,1480. Nem mesmo a rolagem de mais de 16 mil contratos de swap cambial pelo Banco Central, no montante de US$ 800 milhões, conteve a valorização da moeda americana. A operação equivale à venda futura de dólares.
No exterior, o dólar voltou a subir frente à cesta das principais moedas, após quatro sessões seguidas de queda.
No mercado de juros futuros, as taxas fecharam em alta, seguindo o comportamento do câmbio. O contrato de DI (Depósito Interfinanceiro) para janeiro de 2018 subiu de 9,535% para 9,555% ao ano; o contrato de DI para janeiro de 2021 avançou de 9,880% para 9,960%; e o contrato para janeiro de 2026 passou de 10,310% para 10,360%.
Neste mercado, investidores buscam proteção contra flutuações dos juros negociando contratos para diferentes vencimentos.
O Ibovespa terminou em baixa de 1,17%, aos 63.406,97 pontos. O giro financeiro foi de R$ 7 bilhões.
O índice foi pressionado principalmente pelas ações da Petrobras, que foram afetadas pela forte queda do petróleo. Petrobras PN caiu 3,54% e Petrobras ON, -2,83%.
Mesmo com a alta do minério de ferro na China nesta sessão, as ações PNA da Vale perderam 0,11%, enquanto as ON ganharam 0,22%.
Entre os bancos, Banco do Brasil ON recuou 3,64%, liderando as quedas do Ibovespa; Itaú Unibanco PN perdeu 0,87%; Bradesco PN, -0,99%; Bradesco ON, -1,56%; e Santander unit, -0,31%.
Fora do índice, as units do BTG Pactual perderam 4,12% e as ações preferenciais do Banco Pan caíram 4,04%, com a deflagração da Operação Conclave, da Polícia Federal, que investiga suspeita de fraude na compra do Panamericano -hoje Banco Pan-, vendido ao BTG Pactual pelo Grupo Silvio Santos em 2011. (Folhapress)