O presidente Michel Temer disse a aliados que foi o ex-ministro Wagner Rossi quem ofereceu a ele o avião particular do empresário Joesley Batista, da JBS, para que ele levasse sua família ao litoral da Bahia em janeiro de 2011.
Temer teria pedido a Rossi, que é seu amigo e era ministro da Agricultura na ocasião, uma aeronave para a viagem a Comandatuba. O presidente relatou a auxiliares que Rossi providenciou um jato particular, mas alegou que não foi informado de que o avião era de Joesley.
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Rossi, no entanto, foi o responsável pela aproximação entre entre Temer e Joesley. Segundo relatos do próprio empresário, em delação premiada à PGR (Procuradoria-Geral da República), o ex-ministro o apresentou a Temer em 2010 -portanto antes do empréstimo do jato particular.
O Palácio do Planalto informou que não vai comentar o relato feito por auxiliares do presidente sobre o caso. A reportagem também procurou o ex-ministro Wagner Rossi, mas não houve resposta até a publicação deste texto.
Em depoimento à PGR, o executivo da JBS afirmou que o presidente e sua mulher, Marcela Temer, viajaram em uma aeronave cedida por ele quando o peemedebista tinha acabado de assumir o cargo de vice-presidente, em janeiro de 2011.
Temer inicialmente negou o uso do jato particular, mas mudou de versão nesta quarta-feira (7) e afirmou, em nota oficial, que utilizou “aeronave particular” para levar sua família a Comandatuba, no litoral da Bahia.
As presenças do presidente e da primeira-dama foram registradas em diário de bordo do jato particular, divulgado pelo site “O Antagonista” e obtido também pela Folha de S.Paulo.
A viagem foi um compromisso secreto do então vice-presidente, uma vez que não foi registrada em agenda oficial. Em nota divulgada nesta quarta-feira (7), o Palácio do Planalto confirmou, no entanto, que o voo ocorreu. As datas de ida e de volta admitidas pelo governo coincidem com as apontadas em depoimento do executivo da JBS à PGR.
“O então vice-presidente utilizou aeronave particular em 12 de janeiro de 2011 para levar sua família a Comandatuba, deslocando-se em seguida a Brasília, onde manteve agenda normal. A família retornou a São Paulo no dia 14, usando o mesmo meio de transporte”, disse o governo.
Ainda assim, o Palácio do Planalto afirma que Temer “não sabia a quem pertencia a aeronave” e que “não fez pagamento pelo serviço”.
Relato feito por Joesley aos procuradores, no entanto, contradiz a versão do presidente. O empresário disse que o próprio Temer telefonou para ele na ocasião para agradecer pelo envio de flores para enfeitar a aeronave que seria usada pela família do presidente. A informação também foi confirmada pela Folha.
Nos bastidores, auxiliares e assessores reconhecem que o avião era do empresário. O prefixo da aeronave do executivo é PR-JBS, ou seja, contém o próprio nome da empresa.
Segundo a assessoria presidencial, Temer prestará explicações sobre o caso “no devido momento”, dentro do inquérito aberto contra ele a partir da delação premiada da JBS.
RECUO
Na terça-feira (6), a Presidência da República havia negado que Temer tivesse viajado à Bahia em janeiro e dito que o presidente só havia ido a Comandatuba em abril, em um avião da FAB (Força Aérea Brasileira). O Planalto havia afirmado ainda não ter registro de viagem dele em avião “do empresário Joesley Batista”.
Para justificar o recuo, a equipe do presidente disse que cometeu um erro e que pesquisou a agenda de 12 de janeiro, mas não encontrou o compromisso. Segundo auxiliares de Temer, o próprio peemedebista não se recordava da viagem e se lembrou após conversa com a primeira-dama. Eles se falaram na noite de terça no Palácio do Jaburu, residência oficial.
A Secretaria de Comunicação Social não respondeu a perguntas enviadas pela Folha sobre o episódio, entre elas por que a viagem não constou na agenda oficial, como um vice-presidente entrou em uma aeronave cujo dono desconhecia e por que ele optou por um jato particular para a viagem, uma vez que ele poderia utilizar uma aeronave da FAB.
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