Um dos temas mais debatidos pela indústria de dispositivos móveis atualmente é a chegada do 5G, a nova banda de dados que promete revolucionar o mercado e, segundo analistas, iniciar a quarta revolução industrial.
Isso porque a tecnologia deve oferecer internet móvel a altíssimas velocidades, com um tempo de resposta muito baixo entre um dispositivo e outro -a chamada latência- que possibilitaria um novo salto tecnológico na indústria de dispositivos, robôs, cidades inteligentes e carros autônomos.
Hoje, conectado ao 4G, um carro inteligente demora cerca de 20 ms (milissegundo) para receber o comando de que há perigo pela frente e executar uma resposta. Apesar de parecer muito rápido, não é o suficiente para evitar um acidente. O 5G deve diminuir a ação para até um milissegundo.
“O 5G se baseia em três pilares: baixa latência, grande volume de dados e grande número de conexões simultâneas”, explica Amadeu Castro, diretor da GSMA no Brasil.
Suportar um grande número de conexões significa uma rede sem sobrecarga pelo excesso de usuários. Um volume maior de dados vai permitir, por exemplo, rodar vídeos em resoluções altíssimas em redes móveis, abrindo um novo mercado para os criadores de conteúdo e entretenimento.
Outra fronteira a ser expandida é a da automação industrial. Com uma rede de altíssima velocidade e capacidade, conectar robôs numa linha de produção à internet e analisar seus dados do outro lado do mundo não vai mais depender de longos cabos, servidores e hubs. “Provavelmente o ambiente industrial será o primeiro lugar em que veremos as aplicações práticas do 5G”, estima Wilson Cardoso, diretor de tecnologia para a América Latina da Nokia.
O ESPECTRO
Para fazer o 5G virar realidade, a indústria da tecnologia precisa resolver um problema: como levar esses dados pelo ar até os usuários. O espectro, as faixas de rádio-frequência pelo qual as ondas padronizadas devem circular, está bastante ocupado e os países precisam entrar em um acordo para padronizar as usadas pelo 5G.
Em discussão estão ondas de alta frequência, de 24 GHz a até 60 GHz, e ondas menores, de 600 MHz a 700 MHz.
“É uma questão de física. Com um cano largo, você pode levar mais água, mas mais perto. Com um cano fino, vai mais longe, mas leva pouca água”, compara Castro.
O mais provável é que duas faixas sejam operantes em 2019, quando a padronização do 5G deve ser aprovada pela União Internacional das Telecomunicações (ITU, na sigla em inglês). A de ondas de maior amplitude,com alcance de poucos metros, deve operar nas pequenas células para transmissão “indoor” e pontos de acesso nas fábricas e nos postes de cidades inteligentes.
As ondas mais baixas e com grande alcance podem operar em soluções no campo ou levar sinal a lugares com poucas antenas.
Essa é uma das preocupações do Brasil. O Plano Nacional de Internet das Coisas, que deve ser apresentado ainda em setembro, define como uma de suas verticais a digitalização do agronegócio. Com ondas de baixo alcance seria inviável operar máquinas e coletar dados da lavoura.
“O Brasil vai navegar no mar dos outros, sem criações próprias, então precisamos de soluções específicas para um país como o nosso, para levar internet rápida para o interior e modernizar o campo”, diz Sérgio Kern, diretor da Telebrasil, que organiza o fórum 5G Brasil, com entidades do setor.
PIONEIROS
Alguns países disputam o lançamento do 5G no mundo. As melhores apostas são Japão e Coreia do Sul. Ambos deverão receber os jogos Olímpicos nos próximos anos -Tóquio em 2020 e os jogos de inverno de PyeongChang, em 2018- e querem usar a nova tecnologia para impressionar o público.
“Cada lugar tem um plano de evolução. Hoje, vejo estes dois bem adiantados, mas nada padronizado. Os Estado Unidos também quer lançar em 2018”, comenta Fabiano Chagas, gerente da ZTE.
Mas estas experiências podem não passar de testes. O chefe para a América Latina da GSMA, Sebastian Cabello, é taxativo: “Tudo o que vocês virem de 5G antes de 2019 é teste. Não existe nada antes do final de 2018, quando a ITU se reúne e lança o padrão oficial”.
Segundo ele, uma das grandes disputas do mercado é pela propriedade intelectual. “O que todos querem nessa corrida é claro, colocar um pouco da sua propriedade intelectual na nova tecnologia, daí vem muitas divisas”, comenta.
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