Os juros futuros subiram nesta quinta-feira, mesmo com o dólar em queda e o rendimentos dos Treasuries bem comportados. As taxas reagiram à piora generalizada na percepção de riscos para a inflação vinda da pressão das commodities, em mais um dia de avanço do petróleo, e do cenário fiscal. O PIB do primeiro trimestre aquém do consenso das estimativas teve efeito neutro sobre a curva, e não impediu revisões para cima no resultado de 2022.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2023 subiu de 13,41% no ajuste anterior para 13,435% e a do DI para janeiro de 2024 fechou a etapa regular em 13,045%, de 12,976% na quarta-feira. A do DI para janeiro de 2025 avançou de 12,37% para 12,455% e a do DI para janeiro de 2027, de 12,25% para 12,355%.
Os juros acabaram se descolando do bom desempenho do câmbio e ações, e também da melhora do apetite pelo risco no exterior. Os receios sobre a inflação por aqui vão se acentuando com a escalada das commodities. Nesta quinta, não somente o petróleo subiu, como também o minério de ferro e grãos. O barril do Brent, referência para a Petrobras, já está em US$ 117, bem acima do parâmetro de US$ 100 utilizado pelo Banco Central.
Apesar do Brasil ser exportador de matérias-primas, tal contexto não deixa de ser negativo para o País, que enfrenta uma crise de combustíveis. Em Brasília, o risco de desabastecimento de diesel já estaria sendo utilizado como argumento pela ala política do governo para defender junto à Economia a decretação do estado de calamidade pública, o que liberaria gastos.
O ministro-chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira, afirmou não ver tal necessidade “atualmente”. “Não vejo necessidade desse estado de calamidade atualmente, mas, se chegar a um ponto de uma situação como essa, nós teremos que decretá-lo. Mas eu espero que isso não seja necessário”, declarou, à CNN Brasil.
“O mercado estressa com todo esse ruído do mundo político, pois o BC já avisou que o fiscal pode ser gatilho para ajustar os juros”, afirma Marcello Negro, gestor de multimercado da Fator Administração de Recursos.
Os receios fiscais também se agravam diante da polarização das pesquisas eleitorais, com os principais candidatos com posição contrária à política de preços da Petrobras e o líder da corrida presidencial, o ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva, defendendo a revisão do teto de gastos. “Não temos um nome para a agenda liberal pois a terceira via se inviabilizou. Com o que mostram as pesquisas, a questão é se vai ter segundo turno”, disse Negro.
Na Média Estadão Dados de votos válidos, formada a partir de dados e linhas de tendências de todas as pesquisas recentes, Lula aparece com 52%, contra 33% de Jair Bolsonaro. Lula, portanto, poderia vencer no primeiro turno, lembrando que o agregador mostra o ponto médio de uma estimativa feita com base em várias pesquisas, cada uma delas sujeita a margens de erro.
Pela manhã, o PIB abaixo do consenso não foi capaz de mexer com os preços. Ante o quarto trimestre de 2021, o País cresceu 1% no primeiro trimestre, ante o mediana das previsões de 1,2%. Ainda assim, várias instituições revisaram para cima suas projeções para o ano, considerando cada vez menor a probabilidade de um número negativo ou mesmo zero. Para 2023, porém, o quadro é de cautela, diante dos efeitos defasados da política monetária. (Por Denise Abarca/Estadão Conteúdo)