O concurso para delegado substituto da Polícia Civil de Goiás está suspenso. Cinco pessoas foram presas neste domingo (12) suspeitas de fraudar provas do certame. A Secretaria de Gestão e Planejamento aguarda a conclusão das investigações para decidir se o concurso será ou não cancelado. A decisão deverá ocorrer nos próximos dias.
“A fraude foi comprovada e as demais fases do concurso estão suspensas por deliberação da Segplan. A Segplan ainda vai determinar pela anulação ou não”, explicou o delegado geral da Polícia Civil de Goiás, Álvaro Cássio dos Santos.
A Fraude
De acordo com o adjunto da Delegacia Estadual de Repressão a Crimes contra a Administração Pública (DERCAP), Rômulo Figueiredo de Matos, foram presas cinco pessoas. Um agenciador que atua em Goiânia. Ele aliciava pessoas do círculo social dele. As investigações foram iniciadas a partir da suspeita de outros candidatos que verificaram que as notas dos primeiros colocados estavam muito acima da realidade.
“Todos os candidatos presos foram aprovados entre os primeiros colocados. Foi um dos motivos que gerou espanto na Polícia Civil nas investigações. Pessoas que não têm um histórico na área jurídica, seja de cursinho, de outros concursos ou de atividades jurídicas, entraram pela primeira vez no meio jurídico, na prática, e já conseguiram uma nota improvável para pessoas que vêm estudando a quatro, cinco seis anos que tiraram 10, 20, pontos a menos”, explicou.
A Polícia Civil ainda não sabe se a fraude era realizada a partir da facilitação de algum agente público ou de um funcionário do Cebraspe (antigo Cespe-responsável pela realização do concurso) ou se ainda teria ocorrido uma invasão ao sistema eletrônico. Os candidatos chegaram a deixar o cartão resposta em branco. Ele destacou que o fraudador disse aos aliciados que alguém iria preencher o cartão de resposta.
Neste domingo (12), foi realizada mais uma etapa do concurso público. Segundo o titular da Dercap, André Bottesini, as prisões foram feitas na saída da faculdade onde a prova estava sendo realizada, cinco pessoas foram presas em flagrante.
“Havia uma organização criminosa atuando em Goiás. No dia prova fizemos uma diligência em que era a fase discursiva. Através do agenciador conseguimos identificar mais quatro candidatos. A prisão foi em flagrante. Quando encerrou esta última fase, identificamos os candidatos e os abordamos na faculdade em que estava sendo realizada a prova e confessaram o crime”, explicou.
Falta de diploma
O fraudador se trata de um médico que já tem passagens pela polícia por ter cometido um aborto de forma ilegal. Um dos candidatos que procurou ser beneficiado por meio da fraude era um contador. Ele não é formado em Direito, requisito básico para participar do concurso de Delegado. Mas o aliciador disse que arrumaria um diploma para ele.
“Em um dos casos foi constatado que O contador prestava serviços de contabilidade para a empresa do agenciador. Esse agenciador prometeu o cargo, disse que seria providenciado o diploma, no momento da prisão nós obtivemos um documento comprovando esta promessa do agenciador, que um diploma estava sendo confeccionado”, detalhou o delegado Rômulo Figueiredo.
O Conselho Regional de Medicina do Estado de Goiás (CREMEGO) por meio de nota se manifestou explicando que o médico Antônio Carlos da Silva Francisco, foi cassado pelo Cremego em 2006 por prática de aborto. A cassação foi referendada pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) em 2007 e entrou em vigor em 4 de dezembro daquele ano. Antônio Carlos recorreu à justiça e, em 2010, a cassação foi anulada. O Cremego recorreu, mas o recurso ainda não foi julgado. Em 1984, também em decorrência de um processo instaurado pela prática de abordo, o médico tinha sido cassado pelo Cremego. A cassação foi confirmada pelo CFM, mas Antônio Carlos da Silva Francisco recorreu à Justiça Federal, que lhe garantiu o direito de continuar trabalhando.
Outro aliciador
Além do agenciador que atuava em Goiânia, também está sendo apurada a atuação de outro homem na região do Entorno do Distrito Federal. Ele ficava na porta de cursinhos, fazia amizade com pessoas que estudavam para concursos e oferecia supostas vantagens. A polícia quer saber se há ligação entre os dois agenciadores.
“Até este momento não colhemos ligações entre esses agenciadores. Um deles atuava no Distrito Federal e no entorno de Brasília. A sua atuação já detectada foi a partir da visita a um cursinho que ele ia frequentemente criar uma relação de proximidade, de amizade com pessoas que já estavam estudando para o concurso e ali ficava ofertando as vagas. Em relação ao agenciador de Goiânia, ele convidada e ofertava vagas para pessoas de seu círculos sociais”, destacou o delegado Rômulo Figueiredo.
Desdobramentos
A Polícia Civil acredita que mais pessoas estejam envolvidas no processo. Pessoas que foram identificadas e citadas nas apurações, mas que não foram presas estão sendo investigadas. Foi informado que oficialmente os nomes não serão divulgados para não atrapalhar na continuidade dos trabalhos.
Cancelamento do concurso
De acordo com a Secretaria de Gestão e Planejamento (Segplan), será primeiro aguardada a conclusão das investigações para decidir se o concurso será ou não cancelado. Até o fim das apurações, o concurso permanece suspenso. A Polícia Civil tem um prazo de 10 dias para concluir o inquérito relativo as pessoas que foram presas durante a primeira fase desta operação denominada Porta Fechada.
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