O economista Carlos Emanuel Miranda, apontado como o responsável por “gerenciar” a propina atribuída ao ex-governador Sérgio Cabral (PMDB), firmou delação premiada com o Ministério Público Federal.
O acordo foi homologado, segundo a reportagem apurou, pelo ministro José Dias Toffoli do STF (Supremo Tribunal Federal), o que indica o envolvimento de deputado federal ou senador.
A colaboração foi divulgada nesta quinta-feira (7) durante interrogatório na Justiça Federal sobre a Operação Ratatouille, que trata do pagamento de R$ 16 milhões pelo empresário Marco Antônio de Luca, dono de empresa de fornecimento de alimentos para o Estado.
O grau de envolvimento de Miranda com o esquema Cabral é tanto que ele é réu em 14 das 16 ações penais contra o peemedebista.
Ele confirmou que ele, Cabral e o ex-secretário Wilson Carlos eram os donos dos cerca de US$ 100 milhões devolvidos pelos doleiros Renato e Marcelo Chebar -sendo a maior parte referente ao peemedebista.
Disse ainda que o ex-secretário da Casa Civil Régis Fichtner, liberado há duas semanas da prisão, recebia R$ 50 mil por mês do esquema, mas depois aumentou para R$ 150 mil.
“Ele recebia um valor mensal e eventuais prêmios”, disse Miranda.
O economista afirmou ainda que o empresário Arthur César de Menezes Soares, ex-dono da Facility, era o responsável por arrecadar a propina junto a fornecedores de mão-de-obra, alimentação e limpeza do Estado. De acordo com Miranda, esse repasse girava em torno de R$ 500 mil por mês.
Amigo de infância do ex-governador, Miranda atua com o peemedebista desde o início da carreira política de Cabral. No depoimento a Bretas, ele afirmou que “a organização criminosa se estruturou quando ele era presidente da Assembleia”. Ele afirmou que o político atuava em favor das empresas de ônibus e supermercados na elaboração de leis.
Ele já havia dado sinais de que pretendia colaborar com as investigações ao confirmar pela primeira vez há um mês que recolhia propina para o ex-governador.
Até 2010, Miranda gerenciava e recolhia o dinheiro, segundo as investigações. Ele afirmou que deixou a função de buscar os recursos em razão de rumores de que seu nome “havia sido citado na Operação Castelo de Areia”. Foi substituído por Luiz Carlos Bezerra, cujas anotações e confissão se tornaram roteiro das investigações da Procuradoria.
O ex-assessor, assim como Cabral, já foi condenado em três processos. Ele soma pena de 47 anos de reclusão.
Miranda declarou que, apesar de ter firmado delação, não teme permanecer na cadeia pública José Frederico Marques, em Benfica, onde está Cabral. Eles estão na mesma galeria, a C, mas não dormem na mesma cela. (Folhapress)