Provavelmente houve aquele frio na barriga a cada palavra do juridiquês que indicava o voto, ou o “uhhhh!” similar àquela bola na trave durante uma partida de futebol nos momentos – os mais amenos – em que os togados se digladiavam verbalmente. E, evidente, com o Brasil de olhos atentos na TV, cada um deles ganhou sua torcida ou ojeriza, pelo ideologismo peculiar a cada telespectador, e por que não pelo partidarismo, mas principalmente pela sede de Justiça. E necessária. O que não se pode negar é o ineditismo da situação que surpreendeu até os ministros da Suprema corte: nunca os cidadãos se interessaram tanto pelo Judiciário. O julgamento do Mensalão no STF o transformou, em todos os cantos do País, uma extensão elegante do futebol – tem juiz, arquibancada, intervalo, bola dividida, torcida (discreta, na corte, e escancarada, nas ruas), jogadas (verbais), xingamentos, provocações e, se o um dia o decoro cair, as cotoveladas e ministro correndo em torno do plenário gritando ‘Goool’ ao concluir seu voto.
Popularmente, falou-se do julgamento em mesas de bar com a eloquência demagógica das discussões de futebol ( o Brasil realmente muda a passos largos, eis uma comparação que não imaginávamos possível há tão pouco tempo, ou meses ). Mas deixemos de lado as paixões, a ojeriza – por togados ou réus – o partidarismo e o ideologismo de cada brasileiro que discutiu a ação penal 470. Fato é que, jogo jogado até aqui no âmbito judicial, o País não será mais o mesmo depois do consagrado caso acompanhado pela mídia.
As paixões tomaram a questão também na corte – vide o embate verbal entre os ministros Joaquim Barbosa e Ricardo Lewandowski. Entretanto, por mais indícios que nós, agora com ‘notório saber jurídico via TV’, possamos apontar como políticos nas decisões, prevalece uma verdade incontestável: cada ministro votou consciente e com fortes argumentos que respaldaram suas decisões. Data Venia, eis O Fato.
Com o demasiado apelo popular, surgiram dúvidas que pairam sobre o STF e a independência da corte. Balela. Como explicar, por exemplo, que Barbosa, o primeiro ministro indicado pelo então presidente Lula em 2003 na era PT, tenha sido tão cruel com os mensaleiros? E o Luiz Fux, não ‘matou no peito’.. conforme supostamente prometera a José Dirceu. Para citar dois casos, apenas. Obviamente votos de Lewandowski e José Dias Toffoli evidenciaram certo comedimento com os réus, mas não leniência. E os novatos Teori Zavascki e Luiz Roberto Barroso, se atuaram em compadrio com a presidente petista para salvar mensaleiros acolhendo os embargos infringentes, conforme disse-me-disse das ruas, ainda terão oportunidade de mostrarem a lisura de suas decisões.
Para os que clamam por Justiça: todos eles vão para a cadeia, mesmo que só para dormir. Mas serão detentos. O estrago está feito: Não há qualquer liberdade vindoura para esses que não seja acompanhada de uma palavra quase-sobrenome: corrupto.
O Lobinho
As reuniões ministeriais com a presidente Dilma são sempre precedidas pela tensão dos ministros, receosos de levarem broncas diante dos colegas. Quem sai sem ser citado, canta vitória.Saindo de uma reunião com colegas de
Esplanada e a presidente Dilma, meses atrás, o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão (PMDB-MA), sempre otimista, estava visivelmente fechado.
Foi indagado por um ministro por seu silêncio. E por que não o defendeu perante a chefe numa argumentação.
Lobão, à meia voz e olhos arregalados, desconversou e confessou:
– Quem? Eu?! Eu morro de medo dela!
Ponto Final
Um 2014 com muitas conquistas, paz e bem.