Ir às compras para adquirir empresas mais novas ou receber propostas de aquisição começa a fazer parte da rotina de startups brasileiras.
Nas últimas semanas, companhias criadas nesta década, como Resultados Digitais, Descomplica e iFood fecharam a compra de outras startups ainda mais jovens.
O movimento é resultado do amadurecimento desse setor, novo no Brasil, que passou a atrair mais investimentos e, com isso, viabilizar esse tipo de transação, segundo Luís Gustavo Lima, sócio da aceleradora de novos negócios ACE.
Rafael Ribeiro, diretor-executivo da ABStartups (associação do setor), diz que esse tipo de operação permite às empresas compradoras acelerar seu processo de inovação e, muitas vezes, incorporar a sua equipe os empreendedores da companhia comprada.
“Em vez de desenvolver funcionalidades internamente e gastar milhões, pode valer mais a pena comprar uma startup com ideia testada.”
No caso da Thinkseg, empresa de seguros online que comprou em junho a startup Bidu, do mesmo setor, o negócio permitiu ampliar a espertise da empresa em marketing digital, afirma Andre Gregori, sócio da companhia.
“As pessoas que vieram da Bidu trouxeram habilidades que complementam as nossas”, diz o executivo.
Segundo ele, a aquisição acelerou em quase dois anos a chegada da empresa ao ponto de equilíbrio (quando receitas e despesas se igualam), o que deve ocorrer no próximo mês.
A Descomplica, de aulas online, reservou parte dos US$ 20 milhões (cerca R$ 82 milhões) que captou com investidores no ano passado para a compra de outras startups, diz o sócio Marco Fisbhen.
A emoresa comprou recentemente a PaperX, especializada na elaboração de avaliações online, e quer fazer mais três aquisições neste ano.
O empresário diz que a estratégia de comprar startups mais jovens é um diferencial competitivo. Ela permite entrar em novos mercados, desenvolver novas tecnologias e trazer pessoas inovadoras.
O iFood, que adquiriu a operação brasileira da concorrente Pedidos Já neste mês, tem inclusive um diretor dedicado ao tema das fusões e aquisições, Alex Anton.
Segundo ele, a negociação permitiu a startup ampliar o número de restaurantes e clientes cadastrados em seu serviço, especialmente em Belo Horizonte, onde a rival tinha um bom desempenho.
Para o futuro, o iFood espera comprar menos empresas de seu segmento e fazer mais aquisições que permitam incorporar novas tecnologias e serviços para restaurantes, motoboys e consumidores que usam seu serviço.
“Temos uma lista de companhias com quem já estamos conversando”, diz o executivo.
Já a Resultados Digitais, de ferramentas de marketing pela internet, adquiriu neste mês a Plug, de sistema para gerenciar o relacionamento com clientes. A ideia é também incluir um novo serviço entre a lista dos que já são oferecidos.
Eric Santos, presidente da Resultados Digitais, diz que, conforme cresce o mercado, é natural que surjam sinergias entre empresas.
O ano também tem sido movimentado por aquisições de companhias jovens por empresas maiores, em operações de grande retorno para investidores –o que era raro no segmento até então.
A 99 foi avaliada em US$ 1 bilhão e comprada pela chinesa Didi no início do ano. Em março, a catarinense Decora (que produz imagens virtuais em 3D) foi adquirida pela americana Creative Drive por US$ 100 milhões e a mineira Strider (de monitoramento de pragas por imagens) foi arrematada pela suíça Singenta por valor não divulgado.
Anderson Thees, sócio do fundo de investimento em startups Redpoint eVentures, diz acreditar que o movimento deve se intensificar conforme a incerteza política e econômica diminuam e empresas se tornem menos conservadoras em seus investimentos.
Ele diz que startups investidas pelo fundo já receberam proposta de compra e não aceitaram, diz o executivo.
Em geral, startups precisam de ao menos sete anos para se tornarem maduras e serem vendidas por valor alto, segundo Thees. A maioria das brasileiras de destaque no setor não chegou nessa idade.