O Spotify anunciou nesta quinta-feira (10) que vai remover o cantor R. Kelly de seus algoritmos e de suas playlists.
A empresa não creditou diretamente a decisão de censurar o músico às muitas acusações de abuso sexual, estupro e pedofilia que recaem contra ele, mas afirmou que Kelly não se adequa à “nova política sobre condutas e conteúdo” da plataforma.
“Nós não censuramos conteúdo por causa das atitudes de um artista ou compositor, mas queremos que nossas decisões editoriais -aquilo que escolhemos programar e divulgar- reflitam nossos valores”, afirmou um porta-voz do Spotify.
Segundo o serviço de streaming, as músicas de R. Kelly não mais serão objeto de promoções, mas seguirão disponíveis na plataforma -o que de fato ainda ocorre.
Questionada pela reportagem, a empresa ainda não respondeu quais seus critérios para concluir que um artista não reflete seus valores.
A reportagem perguntou especificamente se há discriminantes objetivos, por exemplo, a existência de investigações por parte de polícias ou a abertura de processos pela Justiça, ou se a empresa está avaliando ela mesma a qualidade das acusações e das provas.
O serviço de streaming também ainda não respondeu se planeja adotar o mesmo procedimento e os mesmos critérios para vetar de playlists e algoritmos outros artistas acusados de estupro, assédio sexual e pedofilia.
Uma eventual extensão dessa medida poderia afetar dezenas, senão centenas de outros artistas no mundo -e no Brasil- que são alvos de denúncias similares.
R. Kelly é um dos maiores nomes do rap e do rhythm and blues nos EUA no século 21.
O músico teve diversos discos no topo das paradas e outros tantos entre os 5 mais populares, e construiu reputação no gênero a partir de sucessos como “Your Body’s Callin”, “Ignition” e principalmente “I Believe I Can Fly”.
Há mais de 15 anos, contudo, Kelly tem sido alvo de diversas acusações de assédio sexual, estupro e pedofilia por parte de ex-namoradas e outras mulheres.
Na mais recente, uma ex-namorada chamada Kitti Jones afirma ter sofrido ou presenciado estupros.
Em depoimento para um documentário exibido pela rede BBC em março, Jones relatou que o rapper mantém adolescentes em um cativeiro sexual.
Entre essas prisioneiras estaria uma jovem de 14 anos que, segundo a ex-namorada, recebia “treinamentos” para atender aos desejos sexuais do músico.
“Ele me apresentou a uma garota que chamava de ‘animal de estimação’ e disse que a treinou desde que ela tinha 14 anos. Eu vi que ela se vestia igual a mim, falava como eu e fazia até mesmo os mesmos gestos que eu. Foi aí que percebi que ele estava me treinando para ser um de seus animais de estimação”, afirmou Kitti.
Na entrevista, ela disse ainda que foi forçada a ter relações com Kelly e com outros homens em um “calabouço sexual”.
Em julho do ano passado, uma reportagem do Buzzfeed reuniu depoimentos de diversas mulheres que acusaram o músico de aprisioná-las em um cativeiro com ares de “culto”, privando-as de liberdade e delas abusando física, emocional e sexualmente.
Ouvidos pela reportagem do site, pais de uma jovem que deixou a casa deles para morar com o músico afirmaram ter tido encontros posteriores com a filha nos quais ela parecia ter sofrido “lavagem cerebral”.
À época da publicação, o rapper negou “inequivocamente” as acusações e, em um comunicado de sua advogada, afirmou estar “tanto alarmado quanto perturbado pelas recentes revelações atribuídas a ele”.
Na ocasião, ele não foi formalmente acusado por crimes pela Justiça dos EUA.
Essas não foram as primeiras acusações contra o cantor relacionadas a supostas más condutas sexuais.
Em 2002, ele foi acusado de pedofilia após a divulgação de um vídeo em que uma pessoa que seria ele faz sexo com uma adolescente de 13 anos.
O músico acabou absolvido no mesmo ano por falta de provas -familiares da suposta vítima negaram que fosse ela no vídeo, e tampouco ficou provado que era Kelly na filmagem. (Folhapress)
{nomultithumb}