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Brasil
| Em 3 anos atrás

‘SP é um bunker da elite econômica, mas há espaço para mudança’, diz Haddad

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Um dos nomes mais próximos ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o pré-candidato do PT ao governo de São Paulo, Fernando Haddad, de 59 anos, aposta que vai superar o antipetismo na disputa. “Eu sei que aqui é um bunker de uma certa mentalidade da elite econômica. Mas há espaço para mudança”, disse ele, em entrevista ao Estadão.

Ao criticar o ex-presidenciável João Doria (PSDB) e defender o ex-governador Geraldo Alckmin – hoje no PSB e parceiro de chapa de Lula -, Haddad divide o PSDB entre o pré e o pós-eleição de Jair Bolsonaro (PL). Para ele, “o que restou da social-democracia” votará em Lula. À espera de uma definição do pré-candidato do PSB ao Palácio dos Bandeirantes, Márcio França, antes de fechar sua chapa, Haddad promete implementar uma controladoria-geral no Estado para combater desvios e, como estratégia de segurança pública, um programa de valorização da carreira policial.

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PT e PSB falaram em fazer pesquisa para definir se o candidato seria o sr. ou o ex-governador Márcio França. Não prosperou?

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Não é que não prosperou, mas desde que isso foi aventado já saíram 53 pesquisas e todas elas coerentes entre si. Nenhuma delas sensibilizou, o que é respeitável. Não vejo problema de um partido querer manter candidatura no principal colégio eleitoral do País.

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França diz que, no segundo turno de 2018, teve na disputa pelo governo de São Paulo 3 milhões a mais de votos que o sr., que disputou a Presidência.

Fiz uma campanha de três semanas. Eu respeito o Márcio, mas temos o direito de ter leituras diferentes no cenário atual. Se fosse assim, eu não estaria ganhando nas projeções de segundo turno. Além disso, segundo o Datafolha, 40% do eleitorado dele considera o governo Bolsonaro ótimo ou bom. Isso terá impacto em algum momento. Quando esse eleitor descobrir que o PSB, que desde 2010 não está com Lula, o apoiará em 2022, isso vai ter repercussão.

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Quando sai sua chapa? A vaga no Senado está reservada para França?

Gostaria que até 15 de junho tivéssemos a aliança fechada. Nós temos a chance de estar com cinco partidos unidos. Se isso se consumar, como tenho esperança que aconteça, é uma aliança muito competitiva.

O PT, historicamente, tem dificuldade de entrar no interior de São Paulo. O que pretende fazer?

Agora vai entrar, com um bom plano de governo. E também porque nem o Rodrigo (Garcia, governador que disputa a reeleição pelo PSDB) é tucano nem o Tarcísio (de Freitas, pré-candidato do Republicanos) é paulista. Vai entrar porque nós amadurecemos. Porque não deu certo esse modelo econômico imposto. A vida muda. A política não é estática. Se não há espaço para alternância no poder é porque tem alguma coisa errada.

O antibolsonarismo é mais forte que o antipetismo em São Paulo?

Todo partido que tem força tem torcida contra. Só não tem torcida contra quem não é grande. São Paulo é inexpugnável? Já não está bom 40 anos de falta de alternância de poder? Sei que aqui é um bunker de uma certa mentalidade da elite econômica, mas há espaço para mudança. Onde há liberdade, há espaço para mudança.

O que o sr. vê de legado do PSDB no Estado?

Uma das grandes falhas do PSDB foi não ter ouvido mais o PT. Digo isso com muita tranquilidade porque, como ministro da Educação, nunca tive um voto contra do PSDB (no Congresso). Eu negociava. O PSDB deveria ter feito mais isso, mas, como tinha maioria folgada, se dava ao luxo de não ouvir a oposição. Governar não é tudo ou nada. O PSDB deveria ter aberto mais o Palácio dos Bandeirantes para movimentos sociais e para quem pensa diferente.

Até que ponto o ex-governador Geraldo Alckmin é responsável por isso?

Com exceção dos períodos eleitorais, que esquentam o debate, tanto o Lula enquanto presidente como eu como prefeito tivemos a relação mais republicana possível (com Alckmin). Fizemos muitas parcerias.

Não é fazer contorcionismo criticar o PSDB e preservar Alckmin?

Não, se a crítica for de boa-fé. O PSDB, sobretudo depois da eleição de 2014, adotou uma postura anti-institucional, de não aceitar o resultado eleitoral. Agora, a gestão Doria é uma inflexão inaceitável. Aumento de impostos no meio da pandemia, postura de buscar holofote, colocando o interesse público em segundo lugar.

Se eleito, fará mudanças na máquina pública?

Farei o que fiz como ministro e como prefeito. Não existe caça às bruxas. Existem técnicos excepcionais em vários partidos e nós vamos precisar de todos para governar.

Podemos ter, em 2023, PT e PSDB governando juntos Brasil e São Paulo?

É difícil falar de PSDB hoje. O que restou da velha social-democracia eu acho que vai com o Lula no primeiro turno. Essa é a minha opinião.

O PT ficou com uma marca de corrupção depois do mensalão e do petrolão. Como se livrar dessa imagem?

Como julgo um governo em relação à corrupção? Com uma única pergunta: o governo fortaleceu os órgãos de controle? No caso do governo nacional, fortaleceu a autonomia do Ministério Público? Da Polícia Federal? Da CGU (Controladoria-Geral da União)? Do Judiciário? A legislação anticorrupção? São vários itens. Os governos do PT foram impecáveis nisso. A legislação que foi usada pela Lava Jato foi aprovada nos nossos governos. Se diretores da Petrobras se deixaram corromper por uma quadrilha de empreiteiros, só chegamos a desvendar isso porque esses órgãos estavam fortalecidos e jamais sofreram constrangimento. Agora, a partir do momento em que um juiz já foi julgado, tanto nacionalmente quanto internacionalmente, e condenado pelo Comitê de Direitos Humanos da ONU e pelo Supremo Tribunal Federal por ter agido ilegalmente contra um réu em busca de protagonismo político, aí é difícil você conversar seriamente.

Mas o PT está disposto a discutir como coibir envolvimento em corrupção?

Isso é uma discussão que tem que ser feita. Vamos pegar o caso de São Paulo. Quando prefeito, criei a Controladoria-Geral do Município, que, está agora relegada a terceiro plano. São Paulo nunca criou uma controladoria-geral do Estado. A primeira providência que vou tomar vai ser criar uma controladoria-geral do Estado.

O sr. já se manifestou a favor das câmeras em uniformes de policiais. Como vê a violência policial em SP?

A violência policial é grave no Brasil. É generalizada. A questão das câmeras é um passo importante, já falei que vou manter, mas não vou manter só isso. Deve ser um item de um plano sistêmico de segurança. Vamos criar um plano de metas com dois objetivos: diminuição da criminalidade, hierarquizando os crimes do mais grave para o menos grave, e aumento da resolutividade. Vamos associar isso a um plano de valorização profissional de policiais.

As Organizações Sociais de Saúde foram alvo de operação que mostrou muitos problemas. O sr. pretende manter este modelo?

Você pode contar com o apoio de OSs, mas não deveria ser o único padrão de gestão da saúde. Nós temos de fugir de demonizar experiências e procurar aperfeiçoá-las.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo. (Por Beatriz Bulla e Pedro Venceslau/Estadão Conteúdo)

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