Como secretária de Assistência Social da gestão Doria (PSDB), cargo que ocupou de janeiro a abril deste ano, parte do trabalho de Soninha Francine (PPS) era atender a população de rua da capital paulista.
Findo o expediente, a vereadora continuava a lidar com situação similar da porta para dentro de casa, que divide com Paulo Sergio Rodrigues Martins, 41, seu namorado desde 2014 e que conheceu quando ele ainda vivia debaixo do Minhocão, viaduto na região central de SP.
O relacionamento de Soninha com o ex-morador de rua foi revelado na tarde deste sábado (17) pelo site do jornal “O Estado de S. Paulo”.
Soninha conheceu Paulo Sergio, que viveu por 20 anos na rua, quando fazia um trabalho social e jura que se sentiu atraída logo de cara. Ele tem um teto, mas ainda prefere dormir no chão, em cima de um cobertor. “Nunca gostou de colchão”, diz Soninha.
Com o novo namorado, veio uma série de dificuldades. “A gente começou a ficar juntos em 2014, mas foi muito tumultuado, muito, muito. Juntos e bem, foi este ano”, diz.
O problema têm diagnóstico: Paulo Sergio sofria de alcoolismo, mas há meses se tornou abstêmio. “Era sempre extremado. Com álcool, tudo é problema. Quando ele estava sóbrio e são, aí não”, diz a vereadora.
“Hoje ele parou, parou, do tipo que não é nenhum sacrifício ficar sem beber”, diz Soninha, que recebeu conselhos até da família do rapaz, oriunda do Paraná, hoje vivendo na zona leste de São Paulo. “Eles conheciam os problemas que eu tava passando. A gente também era cúmplice nisso. A irmã dele virava para mim: ‘eu não sei como você aguenta’. E eu dizia: ‘eu não aguento'”.
Por conta disso, o namorado teve dificuldades de entrar no círculo social de Soninha. “Uma pessoa que toma meio copo de bebida alcoólica e já vira outra pessoa.
É difícil para mim, imagina para quem não o ama”, diz.
Hoje, as coisas melhoraram. “Nem se compara. Ainda há algumas arestas a serem aparadas, mas já consigo ir com ele a alguns lugares e não ficar um clima azedo”.
Os amigos dele, no entanto, também são amigos dela, e o casal mantém contato com os moradores de rua ainda hoje.
CONSELHOS
Embora tenha o conhecido maltrapilho, hoje é Paulo Sergio quem opina no vestuário de Soninha: “Ele fica revoltado do jeito que eu me visto: ‘você é uma vereadora, não pode se vestir assim’.”
Os conselhos, contudo, não envolvem a esfera política. Paulo Sergio não opinava sobre as ações dela na Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social, que envolviam diretamente moradores de rua. Apesar de ter vivido nas ruas de São Paulo e Santos, ou mesmo por isso, Paulo Sergio se preocupa quando a vereadora visita locais tidos como perigosos.
“Ele nunca foi muito de me aconselhar. É engraçado que ele tem uma preocupação comigo como se eu não tivesse conhecido ele como eu conheci. Cada vez que eu vou para a cracolândia, ele diz: ‘o que você vai fazer lá? Toma cuidado!’ Eu digo: ‘pelo amor de Deus, sempre fui para lá e vou continuar indo.'”
Paulo Sergio já viveu em ruas ao redor da Câmara Municipal de São Paulo, e hoje acompanha a namorada onde ela bate ponto. “Ele adora assistir o plenário, se espanta, se diverte, se admira”, diz. Mas nunca foi apresentado como seu namorado. “Ele vivia comigo, talvez as pessoas já desconfiassem que era mais que uma amizade forte. Estão sabendo agora”, conta ela.
Soninha ainda tem dificuldades com datas precisas. “Nunca falei sobre isso, tô falando agora. Tenho que processar, fazer uma avaliação da história. Eu estava vivendo uma história, estou vivendo ainda. Não tinha parado para descrevê-la”, diz.
E por que tinha mantido segredo até agora? “Eu não quis contar antes por várias razões. Uma que ele não estava bem, a gente não estava bem. Eu queria manter o mais restrito possível ao círculo de amigos. Agora que ele está bem, a gente está super bem, ele anda comigo para cima e para baixo”, conclui a vereadora.
Soninha deixou a Prefeitura de São Paulo em abril, demitida em vídeo publicado pelo prefeito João Doria, em que alega que o trabalho no governo exige uma “demanda” que não combina com o seu “espírito”. A vereadora aparece ao lado do tucano e não diz nada.
Na gravação, o prefeito afirma: “Vamos colocar um pouco mais de força na gestão administrativa dessa secretaria, o que é mais pesado um pouco. É construção, obra (…) Tudo isso exige uma demanda que não está dentro do espírito da Sonia”.