O ex-procurador geral da República Rodrigo Janot, ao discursar sobre corrupção, afirmou que a solução para a crise política do país está na política. A declaração foi feita durante palestra na manhã desta segunda-feira (23), na faculdade Ibemec, em Belo Horizonte.
“Um outro reflexo gravíssimo [da corrupção] é o obstáculo ao desenvolvimento político. A solução para o Brasil hoje, para a crise política que o Brasil vive, só pode acontecer através da política”, afirmou. “Não há outra opção possível para a solução desse problema político que passa o país.”
Janot não respondeu a perguntas da plateia e saiu pelo estacionamento para evitar a imprensa.
Há especulações de que ele possa concorrer nas eleições de 2018 ao cargo de senador ou governador de Minas Gerais.
O ex-procurador-geral afirmou que a corrupção captura as estruturas do Estado e impede o aperfeiçoamento do processo político, já que não há incentivo para mudança.
“Isso ameaça diretamente um valor muito caro pra todos nós, que é a democracia, e assegura cada vez mais, a partir do momento em que embaraça a democracia, privilégios a oligarquia dominante que não tem interesse em mudar o status quo.”
Janot também defendeu o instrumento da delação premiada. Seu último acordo, com executivos da JBS, foi revisto por ele mesmo após suspeitas de que um procurador de sua equipe teria negociado a delação ainda antes de se desligar da Procuradoria-Geral da República.
“Esse instrumento [a delação] se tornou o principal instrumento dessa investigação da corrupção estruturada e sistêmica. […] As organizações criminosas são hermeticamente fechadas e uma das leis mais caras a elas é a lei do silêncio”, disse.
“Através desse instrumento a gente consegue penetrar nessa estrutura hermeticamente fechada e obter a ideia e o desenho da organização criminosa e seus integrantes. […] São 120 acordos de delação premiada [na Lava Jato] que nos permitiram mergulhar nessas estruturas de organização criminosa”, completou.
Durante cerca de 45 minutos, Janot discorreu sobre as formas de corrupção e como combatê-las. Também listou consequências da prática para o país, como perda de eficácia econômica, empecilho a redução da desigualdade e distribuição de renda, atraso no desenvolvimento tecnológico e danos à reputação das empresas.
Segundo o ex-procurador, a perda com corrupção em 2016 chega a algo entre 2% e 3% do PIB, ou seja, cerca de R$ 100 bilhões -quase o valor do deficit de R$ 158 bilhões. O número é uma projeção a partir de um estudo da Fiesp de 2008.
Janot afirmou ainda que a corrupção viola direitos fundamentais da população ao prejudicar investimentos e políticas públicas em saúde, saneamento, educação, segurança pública e desenvolvimento sustentável. (Folhapress)