A SIP (Sociedade Interamericana de Imprensa) divulgou uma nota nesta segunda-feira (31) em que manifesta preocupação as declarações do presidente eleito, Jair Bolsonaro, sobre retirar a publicidade oficial da Folha de S.Paulo, em retaliação à reportagem que mostrava que empresários impulsionaram disparos por WhatsApp contra o PT.
“Embora a eleição dos cidadãos brasileiros seja algo positivo, estamos preocupados que o presidente eleito não faça distinção entre governo e Estado, ao afirmar que utilizaria a administração pública para punir os meios de comunicação que considerar incômodos, não lhes concedendo publicidade oficial”, afirmou a presidente da SIP, María Elvira Domínguez.
Domínguez, diretora do jornal El País, de Cali, Colômbia, acrescentou que “essa marginalização da Folha de S.Paulo não condiz com o respeito pela liberdade de imprensa e liberdade de expressão que Bolsonaro se comprometeu a garantir no domingo passado depois de ter sido eleito, e muito menos com as convenções internacionais sobre direitos humanos assinadas pelo Brasil que estabelecem que fazer discriminação da mídia por meio da publicidade oficial ou não utilizar critérios técnicos para divulgar atos públicos e a publicidade estatal é uma violação dos princípios de liberdade de expressão e de imprensa”.
O presidente da Comissão de Liberdade de Imprensa e Informação da SIP, Roberto Rock, acrescentou que “no caso do Brasil, além dessa ameaça, estamos preocupados com as desqualificações que o presidente eleito utiliza contra a mídia e os jornalistas de postura crítica”.
Rock, diretor do site de notícias La Silla Rota, da Cidade do México, afirmou que “a mídia deve estar aberta a críticas e fazer parte desta tensa relação que é natural entre a mídia e o governo, mas deve-se garantir liberdade à imprensa para que desempenhe suas importantes funções, como criticar, opinar, denunciar, investigar e exigir transparência e prestação de contas de todos os atores da sociedade, sejam públicos ou privados”.
Ele também chamou de louvável o trabalho realizado pela imprensa brasileira na cobertura da Operação Lava Jato.
Depois da publicação da reportagem “Empresários financiam uma campanha contra o Partido dos Trabalhadores por WhatsApp”, a Folha de S.Paulo entrou com uma representação no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) solicitando à Polícia Federal que instaure inquérito para apurar ameaças contra a jornalista autora da reportagem e um diretor da empresa.
Associações de jornalistas profissionais e organizações de defesa dos direitos humanos manifestaram repúdio às declarações de Bolsonaro contra a Folha, que também motivaram uma campanha virtual espontânea incentivando a assinatura do jornal.
A SIP é uma organização sem fins lucrativos que se dedica a defender e promover a liberdade de imprensa e de expressão nas Américas. É composta de mais de 1.300 publicações do hemisfério ocidental e tem sede em Miami, Flórida. (Folhapress)