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“Só quero ter ele nos meus braços”, diz pai de bebê atingido por bala perdida no Rio

Por 7 anos atrás

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Ao registrar seu filho nesta segunda-feira (3) no cartório do Hospital Municipal Moacyr do Carmo, em Duque de Caxias (RJ), Klebson da Silva, 27, se permitiu um sorriso contido. Algumas horas antes, recebera dos médicos a notícia de que Arthur, seu filho, vítima de bala perdida antes mesmo de nascer, estava em estado de saúde estável, ainda que grave.

A mãe de Arthur, Claudineia dos Santos Melo, 29, foi atingida na barriga na tarde da sexta-feira (30), a caminho do supermercado, na entrada da favela do Lixão, na cidade da Baixada Fluminense.

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De acordo com a Polícia Militar, agentes haviam acabado de fazer uma operação na favela quando, na saída, foram alvo de tiros. A PM diz que não houve revide. Grávida de nove meses, Claudineia passou por uma cesariana de emergência, e os médicos descobriram que o tiro também ferira o bebê.

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“Estamos torcendo para que ele se recupere. Só quero ter ele nos meus braços, disse Klebson. A bala perfurou os dois pulmões de Arthur e atingiu duas vértebras da coluna, por isso o bebê respira por aparelhos e está paraplégico.

Mas, para o neurocirurgião Eduardo França de Aguiar, que também é diretor do hospital, há chance de o quadro ser revertido.

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Claudineia, por sua vez, segue internada, mas passa bem e está lúcida. Não sabe que o filho pode ficar paraplégico. “Ela está muito fragilizada. Chora, pergunta pelo filho. É melhor dar a notícia aos poucos. Foi o pedido do pai”, diz a psicóloga do hospital, Verônica Pereira.

O diretor do hospital onde Arthur nasceu conta que nunca tinha visto caso parecido. “Foi um milagre o menino ter sobrevivido”, disse o secretário municipal de Saúde de Duque de Caxias, José Carlos de Oliveira.

Claudineia e Klebson são migrantes da Paraíba. “Viemos para dar uma vida melhor para os familiares, diz ele.

Claudineia, que vive no Rio há cerca de cinco anos, é de Lucena, município de 12 mil habitantes na região metropolitana de João Pessoa. Klebson é de Natuba, município de 10 mil habitantes a cerca de 100 km da capital. Claudineia é da segunda geração de sua família a trocar a Paraíba por Caxias em busca de emprego.

Ela é tesoureira em um supermercado na zona sul do Rio. Ele é conferente de estoque em um frigorífico em São João de Meriti, também na Baixada Fluminense.

Por medo de retaliação, Klebson prefere não comentar a situação de segurança da cidade onde vive. Por ora, não pensa em se mudar. “Não consigo pensar nisso agora, só em fazer minha mulher e meu filho melhorarem.”
crise na segurança

Claudineia e Arthur entram para uma estatística que não para de crescer no Rio, a de pessoas atingidas por balas perdidas. Levantamento feito pela Folha indica que pelo menos uma pessoa foi atingida a cada dois dias na região metropolitana em 2017.

Com o Estado em crise, o Rio vive descontrole na segurança. O número de mortes violentas subiu 16% de janeiro a maio deste ano, em relação ao mesmo período do ano passado –de 2.528 para 2.942.

Historicamente, a Baixada Fluminense, onde Claudineia foi baleada, concentra parte expressiva da criminalidade no Estado. Na região metropolitana como um todo, os conflitos entre facções, entre facções e milicianos e entre criminosos e policiais têm sido muito frequentes.

Especialistas em segurança pública dizem que não é de hoje a tendência de agravamento da situação e apontam um conjunto de explicações. Entre elas, estão o abandono de políticas que davam certo, como o sistema de metas para as polícias, e a falta de correção de rumo em programas como o das UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora).

A crise financeira do Estado agravou a situação. Não há recursos para contratar PMs aprovados em concurso. Policiais não receberam o 13º salário de 2016 nem o adicional por atingir metas e pelo trabalho na Olimpíada. A corporação também denuncia o mau estado de equipamentos.

Enquanto isso, a família de Arhur tenta manter as esperanças. “A gente não quer que o que aconteceu com a nossa família aconteça com outras”, diz Walter Melo, 27, primo de Claudineia. “Não queremos ser mais um caso.”

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