A Marinha da Argentina afirmou nesta terça-feira (28) que a situação das buscas pelo submarino ARA San Juan é de incerteza e teve de responder a críticas, mais uma vez, sobre o manejo de informações sobre o caso, após o vazamento da última comunicação enviada pela embarcação.
“A Marinha não gera as incertezas. A situação é incerta. Houve um monte de ecos, uma balsa”, afirmou o porta-voz Enrique Balbi. “São momentos críticos, angustiantes.”
A coletiva desta terça (28) começou com duas horas de atraso, o que gerou expectativas por parte da imprensa de que fosse haver algum anúncio relevante sobre as operações.
Também causou expectativa o envio de ambulâncias à Base Naval de Mar de Plata, onde os familiares foram informados antes da imprensa sobre o estado das buscas.
Porém, a notícia mais esperada, a de que o submarino ou partes dele tenham sido detectadas no mar, após treze dias de desaparecimento, ainda não veio.
Questionado por um jornalista sobre a detecção de um objeto a 1.080 metro de profundida, Balbi negou.
O porta-voz também teve de responder sobre o vazamento, na noite de segunda-feira (27), do teor exato da comunicação que o comandante do submarino enviou antes de a embarcação sumir.
A mensagem data do dia 15 de novembro e foi enviada ao Comando da Força de Submarinos, que a reenviou ao Comando de Isolamento e Adestramento por radiofrequência e com a assinatura do comandante Claudio Javier Villamide.
“Ingresso de água do mar pelo sistema de ventilação ao tanque de baterias número 3 ocasionou curto-circuito e princípio de incêndio no balcão de barras de baterias. Baterias de proa fora de serviço no momento de imersão propulsando com circuito dividido. Sem novidades de pessoal. Manterei informado”, diz a mensagem revelada pelo canal A24.
Balbi disse que, devido a restrições legais, a Marinha não podia divulgar o despacho, tido como confidencial.
“Não podemos mostrar um documento como vazou ontem. Faltou ali o cabeçalho. Se mostrássemos um despacho com uma classificação de segurança importante, estaríamos violando uma lei de confidencialidade”, afirmou.
Além disso, afirmou que nem o comandante da nave nem o Comando de Submarinos consideraram o problema relatado uma emergência, já que o submarino prosseguia em propulsão em direção a Mar del Plata.
Por isso, disse, a Marinha considerou a situação um problema apenas quando houve a posterior perda de comunicação, fato que foi relatado à imprensa e às famílias.
As críticas se justificam. Em um de seus primeiros contatos com a imprensa, Balbi havia dito que rumores de um incêndio na embarcação eram isso, rumores.
Diante da insistência da imprensa em perguntar se o submarino estava desaparecido, também havia dito que “não estava desaparecido até que comecemos a procurá-lo e não o encontremos”.
O submarino argentino ARA San Juan, com 44 tripulantes, está desaparecido desde o último dia 15 de novembro. A embarcação estava em um exercício de vigilância na zona econômica exclusiva marítima argentina a cerca de 400 km a leste de Puerto Madryn, na Patagônia (sul do país). Ele se dirigia de volta à sua base em Mar del Plata, ao norte, quando as comunicações foram interrompidas.
O San Juan, de propulsão que combina motores a diesel (para uso na superfície) e elétrico (quando submerso), é uma arma de patrulha e ataque com torpedos.
Ele é um dos três submarinos à disposição de Buenos Aires. Ele faz parte da classe TR-1700, construída pela Alemanha a pedido da Argentina. Dois dos seis barcos desse modelo foram entregues, mas o programa não foi adiante. A embarcação irmã do San Juan, o Santa Cruz, está em atividade.
O San Juan foi completado em 1985, e passou por uma longa revisão para lhe dar mais 30 anos de vida útil que acabou em 2013. A Marinha argentina, como suas Forças Armadas de forma geral, passam por um processo de degradação acelerada há muitos anos. Possui 11 navios principais de superfície, 3 submarinos, 16 embarcações de patrulha costeira, entre outros.
A circunstância evoca uma tragédia ocorrida no ano 2000, quando o submarino nuclear russo Kursk sofreu uma explosão no seu compartimento de armas e afundou no mar de Barents -os 118 tripulantes morreram, muitos por asfixia. (Folhapress)