O Banco Central informou nesta segunda-feira (3), em seu Relatório de Estabilidade Financeira referente ao segundo semestre de 2016, que apesar da elevação do risco de crédito concedido a empresas, do crescimento do desemprego e da piora da situação fiscal de Estados, o sistema bancário brasileiro está preparado para lidar com um cenário de crise.
“O sistema bancário apresenta sólidos índices de capitalização e baixa alavancagem, tanto em relação à regulação atual quanto àquela prevista para 2019”, afirma a autoridade monetária no documento, referindo-se às novas regras que serão implementadas pelo BIS (Banco de Compensações Internacionais), considerado o Banco Central dos bancos centrais, em dois anos.
É por isso que os bancos, segundo o BC, estão preparados para lidar com o aumento do que chama de “ativos problemáticos” na carteira de crédito de empresas e consumidores.
“Esses ativos representavam cerca de 4% do crédito concedido a empresas em dezembro de 2014 e, em dezembro de 2016, atingiram mais de 8%. Ao mesmo tempo, baixas para prejuízo ocorreram de forma intensa em 2016 e atingiram o maior nível desde 2011”, complementa o relatório.
No caso da carteira de crédito dos consumidores, esses “ativos problemáticos”, segundo o BC, atingiram o maior nível desde 2013, mas a tendência é de melhora nesse cenário.
“A qualidade da carteira pode apresentar melhora no curto prazo em razão da maior participação das modalidades de menor risco, da pré-inadimplência relativamente estável e das condições de emprego, de renda e de expectativas marginalmente mais favoráveis.”
Entre o último relatório divulgado pela autoridade monetária, referente ao primeiro semestre do ano passado, e este, o índice de Basileia do sistema financeiro brasileiro, que mede a capacidade de um banco emprestar sem comprometer o seu capital, subiu de 16,5% para 17,2%.
Isso significa que, para cada R$ 100 que o banco empresta, tem R$ 17,2 em patrimônio. O Banco Central exige um índice de 11%.
A autoridade monetária disse ainda que a liquidez dos bancos não é motivo de preocupação. “O colchão de liquidez dos bancos, formado principalmente por títulos públicos federais, é robusto para suportar eventuais choques no curto prazo. Os ativos de longo prazo vêm sendo integralmente financiados por recursos estáveis, o que mantém o equilíbrio estrutural”, diz o texto.
O chamado Índice de Liquidez do sistema bancário, segundo o BC, foi de 2,36 na segunda metade do ano passado, o maior desde 2012.
A autoridade monetária listou uma série de adversidades enfrentadas pelo sistema financeiro nacional no segundo semestre do ano passado.
“A materialização do risco de crédito a empresas tem sido desafiadora para a estabilidade financeira no período recente. A queda do crescimento da carteira aprofundou-se com o declínio da atividade econômica, as altas taxas de juros e a maior seletividade por parte das instituições financeiras”, considerou o BC no texto.
Avaliou, entretanto, que os bancos estão preparados para lidar com a situação. “No curto prazo, o estoque de crédito deve continuar em declínio, e os ativos problemáticos, em ascensão. O sistema bancário tem demonstrado estar preparado para lidar com esse cenário complexo e para se ajustar a eventual aumento de risco”.
O relatório diz ainda que o sistema financeiro brasileiro conseguiria absorver o impacto de eventual falência das empresas envolvidas na Lava Jato.
“Mesmo com o elevado grau de conservadorismo aplicado, as simulações indicam que o sistema financeiro teria condições de absorver os impactos de default das empresas mais vulneráveis citadas na Operação Lava Jato e seu respectivo contágio, incluindo o inadimplemento de empresas fornecedoras e dos funcionários destas e das implicadas na investigação”, diz trecho do relatório. (Folhapress)