Sindicatos de servidores públicos do Espírito Santo vão denunciar a crise vivida no Estado a entidades internacionais como a OEA (Organização dos Estados Americanos) e a OIT (Organização Internacional do Trabalho). A reunião que buscava um fim ao motim de policiais militares terminou sem acordo, na madrugada desta sexta (10).
Em nota, o Fórum das Entidades dos Servidores Públicos afirma que o governo de Paulo Hartung (PMDB) “nega aos servidores civis e militares direitos constitucionais, como a revisão anual de salários”. Os sindicalistas afirmam também que o vale-alimentação é negado e falam em “desmonte dos serviços públicos”.
“A morosidade do Judiciário, a omissão do Tribunal de Contas e a submissão quase completa da Assembleia Legislativa do Espírito Santo às vontades e desmandos de Paulo Hartung fizeram com que nenhuma medida fosse tomada com o objetivo de evitar o caos social que já era anunciado”, diz o texto.
O governo do Estado afirma que já atingiu o limite prudencial de despesas com pessoal determinado pela Lei de Responsabilidade Fiscal e, por isso, não há como dar aumentos de salários a nenhuma categoria.
O motim dos policiais militares do Estado teve início há uma semana, provocando uma onda de violência, que já deixou 121 mortos, segundo o Sindicato dos Policiais Civis -o governo não confirma o número.
Na manhã desta sexta, a Secretaria de Segurança Pública, informou que 703 PMs foram indiciados pelo crime militar de revolta, que prevê de 8 a 20 anos de prisão. Esses policiais deixarão de receber salário e escalas extras desde o sábado passado (4) até o momento em que voltarem a trabalhar. O Estado tem cerca de 10 mil PMs.
As mulheres de policiais também poderão ser responsabilizadas pela paralisação. Segundo o secretário, por solicitação do Ministério Público Federal, elas estão sendo identificadas e poderão ser indiciadas em um processo civil. Ele não informou quantas delas.
Como policiais militares são proibidos de fazer greve pela Constituição, as mulheres de PMs estão fechando a entrada dos batalhões para impedir a saída dos policiais para patrulhamento.
Na manhã desta sexta-feira, as ruas da Grande Vitória continuavam vazias. Poucas pessoas saíram de suas casas, e o serviço de transporte coletivo ainda não tinha sido reativado. O comércio, aos poucos, está sendo retomado.
Com o aumento do efetivo da Força Nacional e a presença de militares da Marinha e do Exército, no entanto, o número de ocorrências tem diminuído sensivelmente. Entre a madrugada e a manhã desta sexta, um homicídio foi registrado no bairro de Cobilândia. Houve tiroteios em bairros dos municípios de Vila Velha e Serra.
Tal como nos últimos dois dias, supermercados da região abriram com esquemas de segurança reforçados. Segundo a Fecomercio-ES, cerca de 20% das lojas voltaram a atender. Alguns shoppings também decidiram abrir as portas, mas o movimento é muito baixo, segundo funcionários. Lotéricas que optaram por voltar às atividades registraram longas filas, já que bancos permanecem fechados, e as aulas em escolas continuam suspensas.
Ônibus também seguem parados. O presidente do Sindicato dos Rodoviários, Edson Bastos, afirmou que não garante o retorno às ruas. “Vou falar com a categoria que, enquanto não for seguro, não vamos rodar. O correto seria ter homens [militares das Forças Armadas e agentes da Força Nacional] dentro do ônibus, não só nos terminais”, afirmou.
Agentes da Polícia Civil, em parceria com as Forças Armadas, também realizaram nesta sexta-feira uma megaoperação para recuperar carros roubados e posteriormente abandonados por bandidos na região metropolitana. Até às 12h, 11 veículos haviam sido recuperados, com duas pessoas presas e uma arma apreendida.
(FOLHAPRESS)