Patriarca da empreiteira Odebrecht, o executivo Emílio Odebrecht, presidente do Conselho de Administração da empresa, afirmou à Justiça nesta segunda (13) que “sempre existiu” caixa dois na construtora, para doações de campanha não oficiais.
“Sempre existiu. Desde a minha época, da época do meu pai e também de Marcelo [Odebrecht]”, declarou ao juiz Sergio Moro, em depoimento sigiloso ao qual a Folha teve acesso.
O engenheiro falou como testemunha de defesa de seu filho Marcelo Odebrecht, presidente do grupo e preso pela Operação Lava Jato, na ação que acusa o ex-ministro Antonio Palocci de agir em favor dos interesses da empresa.
Durante cerca de meia hora, ele declarou que este era “um modelo reinante” no país. Segundo ele, a Odebrecht doava para todos os partidos, por dentro e por fora, muitas vezes com “uma mescla” de recursos oficiais e não oficiais.
“Na minha época, as coisas eram muito mais simples. Não tinha a complexidade que a organização passou a ter, trabalhando em mais de 20 países e lidando com ‘n’ negócios”, afirmou.
Emílio, que também fez acordo de colaboração premiada, se afastou do dia a dia da empresa a partir de 2001, quando deixou a presidência do grupo. Segundo ele, na sua época, havia apenas um “responsável” por operacionalizar os recursos não contabilizados, repassando-os a políticos ou partidos beneficiados.
“Existia uma regra: ou a gente não contribuía para ninguém, ou para todos”, declarou.
O patriarca do grupo disse que jamais tratou de pagamentos ilícitos com Palocci, mas “não tem dúvidas” de que ele pode ter sido um dos operadores do PT e recebido recursos em favor do partido.
Ele afirmou que o ex-ministro era “um homem sensato e bem informado”, e que gostava de debater sobre o futuro do país com ele. Era sua orientação, afirmou, que outros executivos da Odebrecht levassem a membros do governo “agendas de diálogo”, com “contribuições daquilo que era importante para o país”.
“E não levar egoisticamente apenas os seus interesses”, declarou.
No início da audiência, Moro entendeu que o depoimento do patriarca deveria ficar em segredo de justiça até a quebra do sigilo da delação da Odebrecht pelo STF (Supremo Tribunal Federal) -o que depende de decisão do ministro Edson Fachin.
Além do depoimento de Emílio, também depôs em sigilo o executivo Márcio Faria, outro delator da empresa. (Folhapress)