Com sua realização ameaçada pela primeira vez desde seu início, em 1988, o Prêmio da Música Brasileira resolveu apelar ao público e aos artistas amigos para fazer sua cerimônia deste ano.
Em uma reunião em sua casa, na zona sul do Rio, na noite desta quarta (24), o criador da premiação, José Maurício Machline, anunciou para uma plateia estrelada que não conseguiu patrocínio para o evento, mas que o realizará mesmo assim, bancando-o com dinheiro próprio e com uma inédita venda de ingressos para a cerimônia.
A festa acontecerá no dia 19 de julho, no teatro Municipal do Rio, como de hábito. Para bancar ao menos parte dela, metade dos 1.800 lugares serão ofertados ao público, com preços ainda não definidos.
“Todos os nossos fornecedores estão sendo extremamente parceiros, e os artistas vão participar sem cachê, por amor, para que o prêmio aconteça de fato”, disse Machline.
Presentes ao encontro estavam cantores de Alceu Valença a Zélia Duncan, passando por Gilberto Gil, João Bosco, Elba Ramalho, Lenine e Ney Matogrosso. Também atrizes como Fernanda Montenegro, Malu Mader e Maitê Proença, além de artistas como Gringo Cardia e Vik Muniz.
“O prêmio vem sendo entregue há 28 anos, com resultados muito importantes de promoção e de reconhecimento para os artistas. É natural que as pessoas se juntem agora para fazer uma campanha em prol dele”, disse Gil.
“Mesmo nessa crise geral, vamos fazer o prêmio, sim. É uma questão de coragem cultural. Hoje [quarta] quebraram o Ministério da Cultura, um sinal dos tempos. Nos congregarmos aqui para dizer que sim, vamos ter o Prêmio da Música Brasileira, é algo corajoso e bonito, numa hora tão depreciada por que o Brasil está passando”, disse Fernanda Montenegro.
Apesar de sua premiação ter sido ameaçada, as inscrições de trabalhos no prêmio aconteceram normalmente, assim como a audição deles pelo júri especializado. Obras lançadas em 2016, nas mais variadas categorias, podem concorrer.
“Tivemos novamente um recorde de inscrições, mais de 1.300 artistas inscritos. Significa que, mesmo com a dificuldade, eles produziram. E cerca de 75% dos inscritos têm entre um e três trabalhos lançados, são artistas novos”, diz Machline.
Desde que foi lançada, esta é apenas a segunda vez que a premiação acontece sem um patrocinador -a primeira foi em 2009, quando a Tim rompeu o contrato, pagando uma multa pela rescisão que permitiu que o evento acontecesse.
O troféu começou como Prêmio Sharp, em sua primeira década, e depois teve patrocínio da revista “Caras”, da Tim, da Vale e, nos últimos anos, do Banco do Brasil.
Machline inscreveu o evento na lei Rouanet e obteve autorização para captar cerca de R$ 9 milhões. Diz ter procurado diversas empresas, de várias áreas, mas a crise cortou o ânimo para patrocínios. Agora, pretende montar a cerimônia por uma fração deste custo.
Como sempre acontece, a premiação terá um homenageado -neste ano, Ney Matogrosso. “Inicialmente, não queria, sou meio avesso a esse tipo de homenagem, fico sem saber como lidar”, disse o cantor. “Mas o Zé [Maurício Machline] disse que seria eu mesmo não querendo.”
“O Ney já dirigiu, já iluminou, já cantou na premiação. É um superparceiro nosso”, disse Machline. O formato da homenagem e quem participará dela ainda não está definido. Em geral, artistas cantam músicas conhecidas da carreira do homenageado.
Na reunião da noite de quarta, as estrelas deram suas sugestões para levantar recursos. Houve quem sugerisse uma espécie de “crowdfunding” entre conhecidos ricos, que pagariam simbolicamente pelos ingressos.
Baby do Brasil sugeriu que se abrisse uma categoria para a música gospel, afirmando que assim poderia conseguir apoio financeiro dos religiosos. “É o mercado que mais vende, Deus é foda”, disse a cantora. (Folhapress)