Viagens suspensas, desespero e muita revolta. Esses são os primeiros reflexos já provocados nesta quarta-feira (28), um dia após a Polícia Federal anunciar a suspensão da emissão de novos passaportes no país.
Na sede da PF na Lapa (zona leste da capital paulista), a estudante Izabella Bonifácio, 12, saiu aos prantos do atendimento após saber que sua viagem marcada para a Disney, nos Estados Unidos, está na berlinda. “Eu acho isso um abuso não só comigo, mas para com todas as crianças. Tudo estava pronto. Meus pais compraram as passagens, reservaram o hotel e o dólar”, disse, em lágrimas.
A criança foi amparada pelo pai, o representante comercial Manoel Bonifácio, 55, que também ficou revoltado com o que ouviu no atendimento agendado na PF. “A viagem dela será em 20 de julho. Só que eles disseram que o documento não tem prazo para ser entregue. A gente gastou o que não tinha para realizar o sonho dela.”
“O Brasil está de brincadeira, gente. Não dá mais”, afirmou o representante comercial.
O comerciante Nizar Derbas, 38, a mulher dele, Suha Derbas, 25, e o filho Abude, de um ano, também saíram do prédio da instituição sem resposta. Eles apresentaram até as passagens compradas para o Líbano, marcadas para o dia 11 de julho. Mas não teve jeito. “O que a gente vai fazer agora? A PF vai pagar a conta do cancelamento se a viagem não acontecer?”, questionou o comerciante.
Até o único serviço ainda disponível, a emissão do passaporte de emergência, também ficou comprometido nesta quarta, segundo os usuários.
“Eles só estão emitindo para casos de saúde”, disse a psicóloga Divanize Salto, 46. Ela tentou pegar um passaporte de emergência para, caso necessário, viajar até os Estados Unidos, onde o filho dela, de 16 anos, vai fazer um intercâmbio em julho. “Eles disseram que o meu pedido não se enquadrava.”
O passaporte de emergência vale por um ano e é entregue 24 horas depois de solicitado. Tem direito ao benefício quem tem demandas em cima da hora relacionadas ao trabalho e à saúde no exterior. Também serve para pessoas que atuam em causas humanitárias, conflitos naturais e na administração pública, entre outras condições.
A reportagem aguarda um posicionamento da Polícia Federal sobre a restrição da disponibilização do serviço emergencial do documento de viagem.
A youtuber de drones, Helena Cauduro, 43, cancelou a viagem que o filho dela, Miguel, 11, faria com o pai para a Itália no final deste mês após sair do atendimento agendado nesta quarta. “Que presente a gente recebeu, né. Agora o jeito será usar o RG. Hasta Montevidéu”, disse.
CADÊ MEU DINHEIRO
A pergunta que mais foi ouvida entre os usuários que buscavam uma explicação para a suspensão do serviço de passaporte no país foi: cadê o meu dinheiro?
“A gente paga uma fortuna. São quase R$260 e eles dizem que não tem dinheiro? Essa grana vai pra Lava Jato?”, questionou a empresária Lenilda Moraes, 60.
A taxa de emissão, de R$ 257, não abastece apenas os custos de confecção do documento de viagem. Segundo o sindicato dos policiais federais, o dinheiro cai numa conta única do governo federal cuja PF não pode gerir.
SUSPENSÃO
A medida da suspensão foi anunciada na noite desta terça (27), às vésperas das férias escolares, e em meio à relação tensa do governo Michel Temer (PMDB) com a instituição.
Segundo a PF, usuários atendidos nos postos até esta terça-feira receberiam seus passaportes normalmente. O agendamento on-line do serviço e os atendimentos nos postos da PF continuariam funcionando nesta quarta-feira (28), segundo a instituição, mas não há prazo para emissão do documento.
O Ministério do Planejamento afirmou que vai encaminhar ainda nesta quarta, ao Congresso, um projeto de lei requisitando crédito de R$ 102,3 milhões para que o fornecimento de passaportes possa ser regularizado. (Folhapress)