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Categorias: Brasil
| Em 5 anos atrás

Sem diálogo, Bolsonaro fará o pior governo da história, diz Tiririca

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O talento para a palhaçaria existe. Com ele, fez história e conseguiu passar pelas principais emissoras de TV fazendo um humor pastelão e arrancando risos de pessoas com faixas etárias de idades diferentes. Na política, entrou como outsider. “Pior que tá não pode ficar” era seu mote de campanha. Se tornou representante do “voto protesto” e abriu caminho para que diversos outros cantores, humoristas e pessoas sem nenhuma experiência política pudessem entrar no Parlamento. Eleito nas eleições em 2010, com votação recorde à época com mais de um milhão e trezentos mil votos, o palhaço Tiririca consolidou-se. Em entrevista à Folha de São Paulo publicada nesta segunda-feira (01/07) o humorista dá pitacos e fala sobre o cenário político atual.

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O comediante afirma que Bolsonaro foi eleito prometendo uma política diferente e está fazendo a mesma coisa que os seus antecessores fizeram. Para Tiririca, o problema não é “fazer política nova” e sim porque não existe diálogo entre os poderes. “Você viu como nosso presidente foi eleito, né? Ele veio com um discurso de política nova e tá caindo na mesma coisa. Porque não existe política nova nem política velha, a política é a política”, explicou. Para exemplificar a falta de diálogo com o Congresso, o deputado cita o decreto sobre flexibilização das armas apresentado pelo presidente. “Ele entrou com esses negócios das armas, porque foi eleito também por esse motivo, e já recuou [diante da pressão do Congresso, alterou decretos de flexibilização do uso das armas]. Por que? Porque tá vendo que o caminho não é por aí. Aqui é o Parlamento”, explicou.

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Para Tiririca, Bolsonaro foi eleito e ‘acha que pode tudo’. Para o parlamentar, não é por ai. “Sou presidente e eu posso tudo.” E não é assim”. Ele cita o exemplo dele próprio que chegou de paraquedas na Câmara dos Deputados: achava que aprovaria “projeto pra caramba”. “Quando cheguei aqui foi um choque. Ele [Bolsonaro] sentiu essa pegada”, explicou. O humorista ignorou o fato que diferente dele, Bolsonaro era deputado há 28 anos e presenciou o mandato de 6 presidentes diferentes.

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O comediante diz que não trabalha com emendas. Mas confessa existir o “toma lá dá cá” que Bolsonaro tanto condena. O palhaço explica: não se trata de dinheiro, caixa 2 ou coisa do tipo. “Aprovar projeto não depende de mim, depende do toma lá dá cá, que não é negócio de dinheiro, é: tu apoia o meu projeto que eu apoio o teu, é assim que funciona aqui”.

A falta de diálogo pode levar a derrocada do governo Bolsonaro. Tiririca termina a entrevista à Folha de São Paulo alertando isso: “Ele não é um cara popular, o discurso dele não é popular. Agora, tá faltando a galera pra chegar e dizer: “Irmão, senta aqui. Cara, tu não é deputado. É o país, irmão. Assim não vai. É assim, assim e assim…” Se ele não sair do pedestal ele vai ser o pior governo que já tivemos em todos os tempos”, conclui.

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Apesar da fala contundente, Tiririca não é dos mais ativos no Congresso Nacional. Até dezembro de 2017, subiu na Tribuna da Câmara para discursar apenas uma vez quando decidiu se aposentar da política. “Estou saindo triste para caramba. Estou saindo muito chateado, muito chateado mesmo com a nossa política, com o nosso Parlamento. Como artista popular que sou e político que estou, estou saindo chateado”, disse Tiririca sendo ovacionado por colegas e emocionando diversos eleitores. Atacou indiretamente colegas num trecho populista do seu discurso: “”O que eu vi nos sete anos aqui, eu saio totalmente com vergonha. Não vou generalizar, não são todos. Tem gente boa aqui dentro”. O alarme foi falso. Quase 8 meses após o discurso e dizer que saia “com vergonha” da classe política, o palhaço anunciou que se candidataria. Foi reeleito com uma votação bem menos expressiva do que as primeiras: 445 mil votos.

Apesar dos oito anos na Câmara, Tiririca aprovou apenas um projeto: o programa de Cultura do Trabalhador, que teve sua autoria dividida entre outros 62 parlamentares.

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Domingos Ketelbey

Jornalista e editor do Diário de Goiás. Escreve sobre tudo e também sobre mobilidade urbana, cultura e política. Apaixonado por jornalismo literário, cafés e conversas de botequim.