O movimento República Em Frente!, do presidente eleito da França, Emmanuel Macron, 39, enfrentou um primeiro percalço nesta quinta-feira (11) ao apresentar sua lista de candidatos às eleições legislativas de 11 e 18 de junho.
Em vez dos 577 nomes esperados, o movimento anunciou apenas 428. Os demais serão decididos durante os próximos dias, antes do prazo de inscrição, 19 de maio.
O atraso está relacionado a sua inexperiência -a República Em Frente! foi criada há apenas um ano e não tem hoje nenhum parlamentar-, mas também à enxurrada de candidaturas motivadas pela recente vitória de Macron.
Ele derrotou Marine Le Pen, candidata da direita ultranacionalista, com 66% dos votos contra 34%. Das 19 mil pessoas inscritas desde janeiro para representar o movimento, mais de 1.600 enviaram seus nomes apenas durante os últimos dias.
Entre os interessados nas vagas estava o ex-premiê socialista Manuel Valls (no governo entre 2014 e 2016). Ele não foi escolhido, no entanto, para representar a sigla.
A cuidadosa escolha dos candidatos para cada circunscrição é fundamental ao futuro da República Em Frente! e do presidente eleito Emmanuel Macron, que toma posse no dia 14. Se não tiver a maioria dos assentos, ele terá dificuldades para governar.
Tamanha é a importância das legislativas que elas são conhecidas, ali, como o “terceiro turno” das eleições presidenciais. Se governar em minoria, Macron será obrigado a aceitar um premiê vindo de outra força política e perderá, assim boa parte de sua influência.
Nesse cenário, chamado de “coabitação”, o papel do presidente costuma ficar reduzido a poderes como diplomacia e defesa. Isso não acontece desde 2002.
Macron foi eleito com a proposta de renovar a política. Eleitores estão descontentes com o Partido Socialista, no governo, e com os conservadores Republicanos.
Dentro desse projeto, 52% dos candidatos anunciados à legislativa vêm da sociedade civil e nunca foram antes eleitos a cargos públicos, caso do próprio presidente. Há 24 ex-legisladores socialistas e nenhum conservador.
A maior parte dos candidatos é desconhecida do grande público. Entre os veteranos está Gaspard Gantzer, um assessor de comunicação do atual presidente, o socialista François Hollande.
A lista da República Em Frente! também divide os candidatos igualmente entre homens e mulheres: 214 de cada lado. A média de idade é de 46 anos, enquanto a da legislatura atual é 60 anos.
Esses candidatos foram escolhidos, segundo o movimento, de acordo com critérios como empatia e o conhecimento da plataforma. A inscrição incluía um currículo e uma carta de motivação.
Surpreendeu que o ex-premiê Valls não estivesse entre eles, apesar de sua demonstração pública de interesse no início desta semana.
Ele foi desclassificado, segundo a República Em Marcha!, por não preencher os critérios -o socialista, por exemplo, já tinha ocupado três mandatos legislativos.
Mas o movimento de Macron anunciou que não colocará nenhum candidato para concorrer contra Valls, um gesto de boa vontade que abrirá caminho para a cooperação com o ex-premiê.
Macron espera ter a maioria na Assembleia Nacional para implementar as reformas que prometeu em sua campanha, como a reforma das leis trabalhistas, que devem ser duramente opostas pelos movimentos sindicais.
O presidente eleito espera, assim, lidar com o desemprego de 10% e o crescimento de 1,2% do PIB, abaixo de vizinhos como a Espanha.
Macron deve também buscar maior integração à União Europeia, bloco econômico do qual sua rival, Le Pen, queria sair. Outro de seus projetos é reforçar a aliança entre França e Alemanha. (Folhapress)