Ministro remanescente do governo de Michel Temer, Osmar Terra (MDB) é um dos homens-fortes do presidente da República, Jair Bolsonaro. Médico por formação e deputado federal licenciado, ele está numa verdadeira luta contra quaisquer tipos de liberação às drogas conduzindo o Ministério da Cidadania. Recentemente, atacou a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) que publicaria um estudo em que dizia que não existia uma “epidemia de drogas” no país. Alegando “ideologização” no órgão, mandou engavetar o estudo que custou R$ 7 milhões pagos pelo governo e durou 3 anos para ser desenvolvido: 16 mil entrevistas ao longo deste tempo.
Em entrevista à Veja desta sexta-feira (02/08), Terra disse que discorda do estudo. Existe sim, uma epidemia de drogas no Brasil, segundo o ministro. Porque? “Epidemia é quando a incidência de uma doença aumenta muito além do usual num curto espaço de tempo”, define a etimologia da palavra. Mas ele dá um exemplo: “Há um grupo de estudiosos que pesquisa indícios de drogas em amostras de esgoto. Descobriu-se que, em Brasília, consomem-se entre 8 e 10 toneladas de cocaína por ano. É quarenta vezes mais que Chicago”.
O ministro não cita a origem da pesquisa nem qual instituto, mas para endossar os números ele apela para o Datafolha. “Além disso, pesquisa do Datafolha afirma que um em cada quatro brasileiros tem um familiar com problema grave de dependência química. Até 2006 o álcool sempre foi o pivô das solicitações de auxílio-doença do INSS por dependência química. Em 2013, já era quatro vezes maior o número de pedidos de auxílio por causa do consumo de drogas em comparação ao total dos que decorrem do uso de álcool. Se isso não é epidemia, não sei mais o que é”, mencionou Terra.
Sobre a descriminalização da maconha? “Radicalmente contra”, afirma o ministro. “Não há meio-termo: A primeira coisa que a gente tem de considerar é que as drogas provocam uma doença no cérebro. O cérebro adoece para sempre. Temos 30 milhões de dependentes químicos do álcool e do tabaco e 8 milhões de dependentes de outras drogas. Se houver a legalização, a facilitação do acesso às drogas, esses 8 milhões vão passar dos 30 milhões em pouco tempo”, ele concluiu dizendo que com a liberação, o Brasil chegará aos 50 milhões de dependentes químicos. “Será uma tragédia”.
Ele pede para que o Supremo não decida nada com relação ao assunto e que acha que no momento é um “confronto totalmente desnecessário”.
Quando questionado sobre um modelo de país ideal com relação às drogas ele cita a Suécia que tinha o consumo liberado até o final dos anos 60 quando veio a proibição, levando a super-lotação nas prisões, mas “a epidemia acabou”. Osmar lembra que com a redução a oferta de drogas na rua, acaba o problema. “Há vinte anos, era nesse país que estava a juventude que mais consumia droga na Europa, e hoje é a que consome menos. Lá, ninguém fica ocioso no contra-turno da escola e, depois das 22 horas, há um toque de recolher para adolescentes. Também tiraram a bebida alcoólica das prateleiras.”
E com relação à uma proibição do álcool no Brasil? “É difícil proibir o álcool depois que se criou uma indústria gigantesca e que envolve milhões de empregos. Por isso, temos de ficar atentos a essas propostas de liberação.”
Terra ainda faz uma alusão da indústria das drogas tidas como ilícitas e à industria do álcool. “Hoje, a maior empresa do Brasil é a Ambev. Se houver a legalização, teremos a Ambev da maconha, a Maconhabras. Imagina a quantidade de gente que vai adoecer?”, fazendo alusão a estatal brasileira, Petrobrás.