O comitê organizador da Olimpíada de 2016 fechou nove contratos com o grupo Masan, investigado na Operação Lava Jato, que somam R$ 105,8 milhões. O Ministério Público Federal apura se o ex-governador Sérgio Cabral recebeu propina por estes contratos.
A informação consta da resposta entregue pelo comitê à Justiça na última sexta-feira (2). A Rio-2016 atendeu à determinação do juiz Marcelo Bretas em fornecer os dados para análise do Ministério Público Federal.
A procuradoria suspeita que Cabral tenha recebido propina pela concretização desses contratos. Bilhetes apreendidos na casa de Luiz Carlos Bezerra, responsável por recolher o dinheiro de propina da quadrilha, atribuem ao empresário Marco Antônio de Luca o pagamento de R$ 3,05 milhões em 2016.
“Há indicativos de pagamento de propina após a saída do ex-governador. E foi quando a Olimpíada ocorreu. São indicativos. Vamos analisar as informações a serem enviadas pelo comitê. A partir daí, somando as informações que já temos, vamos tirar nossas conclusões”, afirmou a procuradora Fabiana Schneider, da força-tarefa da Lava Jato no Rio, no dia da operação que prendeu Luca.
O comitê organizador inicialmente usaria apenas recursos privados em seu orçamento. Contudo, às vésperas dos Jogos, precisou de socorro financeiro dos governos. A União viabilizou patrocínios de R$ 65,5 milhões dias antes da abertura. A Prefeitura do Rio repassou R$ 30 milhões, num convênio que previa no total R$ 150 milhões.
Parte desse dinheiro foi usados nas intervenções emergenciais na Vila dos Atletas, que apresentou problemas após a chegada dos hóspedes. Um dos contratos da Masan foi firmado justamente por esse motivo, com o valor de R$ 2,77 milhões para fornecer mão de obra para limpeza e manutenção dos prédios.
O contrato mais valioso firmado com a Masan teve como objeto a “prestação de serviços de alimentação para as instalações do Parque Olímpico”, de R$ 54,7 milhões.
O comitê disse ainda que tem uma dívida de R$ 18,3 milhões com a empresa -cerca de 15% do déficit da entidade, de cerca de R$ 114 milhões. A Rio-16 tenta obter os recursos restantes do convênio com o município para fechar suas contas.
O comitê organizador afirmou que o maior contrato da Masan foi submetido a aprovação no Conselho Diretor da entidade duas vezes. O colegiado conta com dez pessoas, sendo três dos governos federal, estadual e municipal.
A entidade diz ainda que a contratação emergência da empresa de Luca ocorreu porque ela era a única capaz de fornecer mão de obra na quantidade e velocidade exigida para solucionar os problemas da Vila dos Atletas. Este contratação também foi submetida ao conselho.
“Não há a mínima chance de Cabral ter influência no conselho. E ainda devemos à Masan. Se houvesse algum apadrinhamento, ela teria recebido”, disse o diretor de Comunicação da Rio-2016, Mario Andrada. A dívida da entidade com a empresa é de R$ 16 milhões.
A Masan negou, em nota, que o ex-governador tenha interferido de alguma forma na celebração do contrato com o comitê organizador.
“Não houve favorecimento para a Masan participar dos Jogos. A empresa passou por rigorosos processos, na modalidade técnica e preço, concorrendo com empresas nacionais e internacionais. Vale ressaltar que ainda temos a receber R$ 20 milhões do comitê, valor que está sendo cobrado judicialmente”, afirma em nota a diretora-geral da empresa, Adriana Pinto.
Ela disse ainda que Luca não faz parte do quadro societário da empresa desde agosto de 2015.
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