Brasília – A crise em torno de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) preocupa o PSDB e obriga seus principais líderes a rever os estrategemas montados até agora com objetivo de substituir Dilma Rousseff na Presidência. Se, de um lado, a instalação – determinada pelo presidente da Câmara – de mais duas CPIs para investigar o governo federal ajuda a oposição, de outro, um eventual enfraquecimento do peemedebista pode tirar dos tucanos seu maior ardil institucional contra a presidente da República.
No comando da Câmara dos Deputados, Cunha sempre funcionou para os tucanos como um posto avançado de desgaste para a presidente e, agindo dessa forma, se tornou peça essencial da munição da oposição contra Dilma e o PT. Se ele deixar o cargo ou permanecer nele com um poder esquálido, os tucanos e seus aliados na oposição terão de redesenhar os projetos de voltar ao Planalto.
Segundo líderes do PSDB consultados pelo jornal O Estado de S. Paulo, todos os interesses do partido passam, de alguma maneira, por Eduardo Cunha. Por isso, os tucanos vão aguardar os desdobramentos da crise desencada na última quinta-feira com o depoimento do lobista Julio Camargo, que acusa Cunha de ter cobrado US$ 5 milhões de propina. O efeito imediato foi uma aproximação dele com a oposição, o que resultou na criação das CPIs do BNDES e dos Fundos de Pensão, duas antigas bandeiras dos tucanos.
“O caminho da oposição depende muito do que Eduardo Cunha fará. Serão três CPIs funcionando (com a da Petrobras) contra Dilma e mais uma frente no Tribunal de Contas da União. Neste momento, Cunha dá força para a oposição”, afirma o deputado federal Silivo Torres (SP), secretário-geral do PSDB nacional.
No longo prazo, no entanto, o desfecho da crise deve influenciar na divisão de forças dentro do PSDB. Se Cunha cair ou permenecer no poder sem força para levar adiante o ímpechment de Dilma, o grupo na legenda comandado pelo senador Aécio Neves (MG) ganhará argumentos para sua tese que defende a cassação da candidatura da presidente no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), encampada na convenção nacional do partido. Por essa via, o vice-presidente da República Michel Temer (PMDB) também poderia ser atingido, o que acarretaria na convocação de novas eleições. Conforme o Ibope, Aécio é o líder da mais recente pesquisa de intenção de voto para presidente.
Para o grupo do PSDB reunido em torno do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, Cunha funcionou até agora como o maior entrave para que o segundo mandato de Dilma tenha alguma chance de decolar, e os entusiastas da candidatura Alckmin a presidente em 2018 esperam que Dilma permaneça desgastada no poder até lá.
Há também uma espécie de “terceira via” em curso dentro da oposição e ela passa diretamente pelo poder de Cunha e de Temer. No PSDB, aliados do senador José Serra (SP) se movimentam para que o vice-presidente assuma o lugar de Dilma Rousseff e contemple a oposição na formação de uma nova coalizão governista, nos moldes da que sustentou Itamar Franco (morto em 2011) quando Fernando Collor sofreu impeachment. Serra teria papel fundamental nesse cenário, seja como ministro e candidato de Temer em 2018, ou até mesmo como primeiro-ministro, caso avance, com apoio de um novo governo, o projeto que reestabelece o parlamentarismo.
Nesse estratagema, Cunha tem de levar adiante a subtituição de Dilma na Câmara após uma possível rejeição das contas da gestão da presidente no Tribunal de Contas da União (TCU) e no Congresso. Anteontem, Cunha também deu sinal verde para que avancem na Câmara pedidos de impeachment da presidente. Se ela for deposta por uma dessas vias, Temer estaria desimpedido para assumir. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
(Estadão Conteúdo)