O presidente do Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE), autorizou acordo com a oposição ao presidente Michel Temer para que a reforma trabalhista passe por mais uma comissão na Casa, sem regime de urgência, o que deve atrasar a tramitação de uma das principais bandeiras do governo.
Caso o acordo seja firmado, a reforma trabalhista passará, de saída, pela CCJ, presidida pelo senador Edison Lobão (PMDB-MA), próximo ao líder do PMDB Renan Calheiros (AL), que tem feito oposição aberta às reformas do governo.
Isso pode significar um risco a Temer porque Renan poderia influenciar a escolha do relator para a proposta no colegiado.
Segundo a reportagem apurou, a ordem de Temer era levar a voto o regime de urgência para a proposta somente se houvesse ampla maioria para a aprovação em plenário, o que não se desenhou esta semana.
Nesta terça-feira (2), em reunião de líderes sem a presença de Renan, havia ficado decidido que, ao contrário do que o peemedebista queria, a reforma trabalhista passaria apenas por duas comissões no Senado: CAE (Comissão de Assuntos Econômicos) e CAS (Comissão de Assuntos Sociais), na tentativa de acelerar ao máximo sua aprovação, mesmo sem a urgência.
Renan, porém, operou e conseguiu que o governo cedesse ao acordo.
No início da tarde desta quarta-feira (3), o vice-presidente do Senado, Cássio Cunha Lima (PSDB-PB), que comanda a Casa na ausência de Eunicio -afastado por motivos médicos- telefonou ao senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) e sugeriu o acordo: a reforma trabalhista passaria por CCJ, CAS e CAE, nessa ordem, desde que a oposição desistisse de votar requerimentos em plenário para que, além da CCJ, fosse incluída a Comissão de Direitos Humanos.
Randolfe conversou com Renan e senadores do PT, que sinalizaram aceitar a proposta de três comissões. “O papel do Renan tem sido assegurar que o rolo compressor do governo enganche”, disse Randolfe.
Mais cedo, Renan havia se reunido em seu gabinete com o presidente do PMDB, senador Romero Jucá (PMDB-RR), e dito que fazia questão que a proposta passasse pela CCJ.
Em rota de colisão com o governo Temer, Renan tem enfrentado articulações de colegas de bancada para que ele deixe a liderança do PMDB no Senado. A ordem no Planalto, porém, é ter cautela.
Temer escalou Jucá mais uma vez para atuar como bombeiro diante de articulações de senadores do partido contrários à manutenção de Renan no posto.
Auxiliares do presidente dizem que Renan, por ora, não deve sair do cargo. Nas palavras de um assessor de Temer, “quanto menos marola para o governo, melhor”.
A ordem no Planalto, portanto, é “monitorar e atender” às demandas de Renan, observando de perto suas articulações diante da tramitação da reforma trabalhista antes de tomar uma decisão definitiva.
Questionado por jornalistas sobre a bancada do PMDB corroborar sua opinião contra a reforma, Renan fez uma ameaça. “Você só é líder de bancada quando verbaliza o pensamento majoritário. Agora, se for incompatível defender os trabalhadores no exercício da liderança do PMDB, vocês não duvidem do que é que vai acontecer”.
Nesta quarta, Renan recebeu pela segunda vez em uma semana parlamentares e representantes das centrais sindicais para articular contra a reforma trabalhista.
O líder do PMDB fez um discurso forte contra o governo Temer, chamando-o de “essa gente”. Ele repetiu que a reforma é um “desmonte” e disse ainda que a “mobilização social” terá “reflexos no Senado”.
“Não podemos permitir que esse desmonte se faça no calendário que essa gente quer”, afirmou Renan. (Folhapress)